Mais dia, menos dia, era tudo o que Rafaella conseguia pensar enquanto esperava Ivy aparecer em seu quarto com alguma boa notícia, mas nada acontecia. Todo dia Ivy passava na livraria e voltava para contar à Rafaella como Gizelly estava; como ela se vestia, se portava, que ela não sorria e sempre parecia aérea. Era absurdo e torturante, mas Rafaella precisava saber da mulher que amava, era um jeito de se manter viva diante de toda a violência de Marcela.
A mulher não era violenta fisicamente, todo dia, mas não precisava; a tortura psicológica bastava. Afetava ainda mais. Por sorte, Rafaella conseguia fugir de algumas investidas sexuais da ex- namorada, outras nem tanto. E ter relações com Marcela era a sensação de imundície e nojeira que Rafaella esperava nunca mais sentir. Nem cogitava pensar em Gizelly para não manchar a lembrança boa que era.
Mas havia aprendido a não prestar atenção em nada.
Marcela fazia o que queria.
Rafaella não reagia.
Ninguém se importava.
Em seu quarto, com os lençóis - que antes estavam manchados de sangue - trocados, Rafaella se afastou encolheu na cama. Dois dias sem qualquer notícia do mundo exterior, nem mesmo Ivy apareceu em seu quarto - o que era uma benção. Mas ela queria contato humano. Não que estivesse presa no quarto, mas tinha medo do que poderia acontecer se saísse sem falar com Marcela. E seu olho já estava roxo demais.
Sua aparente salvação veio com os cabelos morenos aparecendo na porta. O sorrisinho sem graça. Rafaella ficou ansiosa de imediato. Seu olhar cruzou o dela.
- Alguma novidade?
- Nada. Ela está do mesmo jeito de antes.
- Ela sorriu ao menos?
- Não que eu tenha visto.
Rafaella se manteve quieta.
Ivy se aproximou até sentar de frente para Rafaella.
- E sua irmã?
- Está trabalhando, eu acho. Falei com ela se poderíamos sair.
- E ela?
- Disse que desde que você não saia de perto de mim, nós podemos.
- Então, ela quer que você me controle?
- Sim. Acha que serei o suficiente para impedir que você faça algo estúpido.
- Algo estúpido...
- Como ver Gizelly.
- Ela não tem idéia que você está me ajudando?
- Me mataria se soubesse. Ou pior... - Quando a mulher hesitou, Macarena segurou a sua mão. - Poderia matar Catarina.
- Quando você vai encontra- lá?
- Os dias de visitas são controlados. Devo ir no domingo.
- Posso ir com você, se ela permitir.
- Seria bom ter com quem chorar depois.
Rafaella suspirou.
- Nunca pensei que fosse gostar de você depois de tudo.
- Era impossível você gostar, e compreensível também. Fiz por onde. Quero fazer por onde pra ajudar também.
- Tudo isso por culpa?
- E porque sei como é sentir prisioneira em sua casa. E sei o que é ser forçada por minha irmã a ficar longe de quem você ama.
- Como ela conseguiu que prendessem Catarina?
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O mar do teu olhar
FanfictionGizelly Bicalho vive uma vida tranquila, pacata. Trabalha em uma livraria conhecida no centro de Monterrey; a maioria das pessoas são clientes antigos que a conhecem desde a adolescência quando era apenas filha do dono do lugar. Com a morte dos pais...