A primeira reação de Rafaella foi completamente impulsiva, saiu correndo. Se soltou da mão que segurava seu braço e saiu correndo, o mais rápido que podia, para o mais longe possível. Correu o tanto que suas pernas permitiam; correu por que era sua única opção, e correu sem direção. Não sabia se estava sendo seguida ou não, e nem queria saber. Não conseguia parar.
Mas precisou parar quando seu corpo protestou contra a corrida, sentia uma dor quase explosiva no peito; pareciam fogos de artifícios diretos do inferno. Doía demais. Olhou a sua volta, para ter certeza de que a mulher não estava atrás dela, e entrou na primeira pousada que encontrou. Não sabia onde era, onde estava, mas ali não parecia caro.
- Gostaria de um quarto, por favor. Duas noites.
- Claro.
Ficou extremamente ansiosa enquanto a recepcionista anotava suas informações. Olhava em volta o tempo inteiro, não havia nenhum sinal da outra mulher por perto. Aquilo demorou mais do que ela previa, mas conseguiu a chave.
- O quarto não deve estar totalmente pronto, então vou pedir para que tenha atenção com a camareira. Ela vai limpar logo.
- Está bem. Mas precisa mesmo disso?
- Seria bom. Mas não precisa ser agora.
- Está bem.
- Se ela bater em seu quarto, é só avisar a hora que quer.
- Está bem.
Com a chave nas mãos, Rafaella entrou no quarto e suspirou, jogando-se na cama. A mochila ficou em qualquer lugar do chão e ela se enfiou embaixo das cobertas; conseguia entender o motivo da necessidade de limpeza do quarto, ele não estava com o melhor dos cheiros. Mas era seu. Pelo menos por algum tempo.
Precisava pensar no que fazer.
Precisava de um plano para fugir daquela cidade. Duas noites eram o suficiente para se planejar para a próxima localização. Mas que diabos, como dera tanto mole? Não era para ter sido encontrada. Precisava se livrar do celular. Era a primeira coisa que deveria fazer. Talvez conseguisse vender.
A primeira coisa que queria fazer era dormir, pelo menos tentar um pouco. Depois resolveria um emprego temporário. Sentou na cama e tirou as botas que calçava. Estava prestes a tirar o casaco de couro quando batidas na porta chamaram sua atenção. Deveria ser a camareira, claro. Caminhou até a porta de madeira e abriu-a devagar.
- Fugindo de mim de novo?
Ela arregalou os olhos.
- Francamente...
Rafaella demorou para responder, por que simplesmente não sabia o que fazer. Não era possível que não houvesse um lugar no mundo onde aquela mulher não a encontraria. Tentou fechar a porta para escapar daquele olhar, mas foi impedida. E sabia que não era tão forte para manter aquilo.
Se afastou da porta, andando para trás, quase como se estivesse com medo. A mulher fechou a porta atrás de si.
- Como você me encontrou aqui?
- Te vi na rodoviária. Descobri seu ônibus. E aqui estou eu.
- Como me alcançou? Eu deixei você na rodoviária.
- Não sei. – A mulher disse como se não se importasse. – Dei sorte, eu acho.
Rafaella respirou fundo. Aquela voz ainda lhe causava arrepios, e ela não queria senti-los. Virou de costas, encarando a janela de seu quarto, a cidade estava movimentada... Ainda assim, não havia a menor condição de sair pela janela. Morreria na primeira tentativa. E morrer ainda não parecia a melhor das opções.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O mar do teu olhar
FanfictionGizelly Bicalho vive uma vida tranquila, pacata. Trabalha em uma livraria conhecida no centro de Monterrey; a maioria das pessoas são clientes antigos que a conhecem desde a adolescência quando era apenas filha do dono do lugar. Com a morte dos pais...