Encontrar—se com Gizelly enquanto Marcela estava trabalhando tornou—se quase tão rotineiro que Rafaella chegava a esquecer a situação que vivia; mal se lembrava, durante o dia, do inferno que era ter que fugir de Marcela durante a noite. O bom é que os abusos haviam diminuído, os físicos pelo menos; o psicológico ainda era afetado pelo fato de estar à mercê daquela mulher. Depois da última violência física, Rafaella havia aprendido duas valiosas lições: era forte o suficiente para bater de volta em Marcela, e só não fugiu dela naquela noite porque sabia o que poderia acontecer com Gizelly.
E precisava proteger a mulher que amava, que tantas vezes lhe salvara; e precisava provar que conseguiria vencer seus medos e traumas. Tinha Gizelly ao seu lado, mas independente de Gizelly, ainda estava viva. Como da primeira vez. Sobrevivera à Marcela uma vez, antes de Gizelly, sabia que conseguiria fazer outra vez. Por mais que a ansiedade e o pânico lhe corroessem, Rafaella sabia que havia uma parte lá no fundo que acreditava em sua própria força.
E Gizelly também acreditava nela.
O que era um combustível a mais para que ela não desistisse.
Só precisava focar em sua força enquanto lutava para não ceder à ansiedade. Ivy entrou no quarto em meio à seus devaneios e Rafaella encarou a mulher, na espera do que ela poderia falar.
— Marcela me chamou para ficar na empresa com ela hoje. Eu disse que era melhor ficar contigo, afinal, você estava confiando em mim. Então poderia me contar qualquer coisa. Marcela concordou e disse que só volta para casa depois que anoitecer. — Disse a última frase com ênfase duvidosa. — Não sei se acredito nisso, então, é melhor você e Gizelly tomarem ainda mais cuidado hoje. Não queremos repetir o último incidente.
Rafaella sorriu com a lembrança.
Ela e Gizelly quase foram flagradas por Marcela; estavam deitadas na cama, apreciando os segundos de silêncio quando a outra morena chegou em casa sem aviso prévio. Gizelly se viu pulando a janela como uma adolescente de filmes dos anos sessenta, flagrada pelos pais da namoradinha. Mas as duas acabaram rindo depois do pânico, quando Marcela saiu da casa e Gizelly pode voltar para o quarto. No momento, fora um desespero, depois, fora divertido.
— Vamos nos comportar. Prometo.
— Eu vou dar apenas uma batida dessa vez, para ficar menos óbvio. Gizelly que pule a janela.
— Vou avisar.
— Sem gracinhas, pelo amor de Deus. Se ela nós descobre...
— Descobre o quê?
A terceira voz fez as duas arregalarem os olhos, e então gargalharam juntas ao ver Gizelly se enfiando pela janela. A morena precisou de segundos para invadir o quarto e então rolou para ficar de pé e abraçar Rafaella pela cintura.
— Não é engraçado que sua irmã seja rica e ainda assim tenha um sistema de segurança tão absurdo? Digo, os seguranças servem para que mesmo?
— Para assustar. E eu sou a segurança de Rafaella, então é uma preocupação a menos.
— Era disso que estavam falando?
Rafaella enfiou o rosto no pescoço de Gizelly.
— Sim. — Ivy respondeu. — Vocês precisam tomar cuidado dessa vez, as últimas já foram assustadoras o suficiente. Não podemos continuar correndo riscos. Catarina está perto de poder sair.
— Isso é bom. — Gizelly murmurou. Apertou Rafaella contra seu corpo, quase mergulhando no cheiro dela como se mais nada existisse. — Será que não conseguimos sair hoje? Ir na livraria, em algum parque... Qualquer coisa?
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O mar do teu olhar
FanfictionGizelly Bicalho vive uma vida tranquila, pacata. Trabalha em uma livraria conhecida no centro de Monterrey; a maioria das pessoas são clientes antigos que a conhecem desde a adolescência quando era apenas filha do dono do lugar. Com a morte dos pais...