Capítulo 86

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A última coisa que Rafaella esperava em uma ida ao mercado — para preparar um jantar surpresa para sua mulher que estava presa na livraria até mais tarde — era encontrar Marcela parada em sua frente. Em pleno inverno, sorrindo para ela. A respiração falhou a ponto de ela sentir a perda de força nos dedos, quase derrubando as sacolas que carregava. A mulher estava mesmo ali, em sua frente, morena e com a pele bronzeada artificialmente. Beirava o ridículo, mas ainda apavorou Rafaella.

— Entre no carro, vamos conversar.

— Não mesmo.

— Você sabe que é melhor termos essa conversa de uma vez, Rafaella.

A dona dos olhos verdes hesitou.

Mas acabou entrando no carro por puro medo de Marcela.

— Sabia que você não continuaria sendo estúpida.

Sentada no banco de couro, Rafaella suspirou profundamente e afastou—se quando Marcela quis alcançar sua mão. Manteve o máximo de espaço que era possível entre elas enquanto sentia o olhar macabro lhe rondando e roendo até a alma.

— O que você quer?

— O que estava fazendo?

— Compras.

— Para que?

— Para fazer um jantar para a minha mulher.

— Bom, eu sinto em lhe informar que você vai ter que adiar esse jantar. Na verdade, eu não sinto, mas estou te informando mesmo assim.

— O que você quer dizer com isso?

O pânico de Rafaella apenas cresceu enquanto Marcela lhe entregava um celular; e tomou medidas absurdas e descabidas por seu corpo enquanto olhava para a tela do aparelho. O grito escapou de sua garganta como um soluço. No celular, uma gravação que a mulher queria nunca ter visto, e poder esquecer.

E principalmente, que fosse mentira.

Gizelly era segurada por mãos firmes enquanto encarava a câmera. O sangue escorria da lateral de seu rosto, bem como de seu nariz e boca, na verdade, o rosto inteiro dela parecia machucado; enquanto a morena respirava com dificuldade.

— O que é isso? — Rafaella perguntou à voz trêmula. As lágrimas lhe desciam pelo rosto sem pudor e o desespero era crescente conforme o ar lhe escapava dos pulmões. — Que merda é essa Marcela?

Enquanto encarava a visão de sua morena ensanguentada, Rafaella não conseguia respirar; não conseguia pensar. Não conseguia fazer nada. Mas sabia que precisava fazer alguma coisa.

— Achei que reconheceria a mulher que te roubou de mim.

Rafaella ofegou.

Na tela do celular, Gizelly se moveu, apenas o suficiente para Rafaella perceber que não era uma foto mesmo. E mesmo que fosse uma foto, ela queria que fosse um pesadelo. O sangue escorreu de seu rosto quando outro soco lhe atingiu; Gizelly cuspiu mais sangue do que Rafaella achou que era possível.

Os olhos dela encontraram o centro da câmera.

Os olhos de Rafaella encontraram os dela pelo celular.

— Meu amor... — Sua voz trêmula saiu em frangalhos.

— Vocês realmente acharam que era só pagar a quebra de contrato e estariam livres de mim? — Com ironia, a mulher sorriu, divertindo—se aos custos do sofrimento de Gizelly. Guardou o celular no bolso do casaco. — Depois de tudo o que passei por você? Com tudo o que sinto por você. Achou que eu estava apenas armando separar vocês como uma vilã estúpida? É claro que não. Minei o relacionamento de vocês esse tempo todo, mas nunca estive apenas fazendo isso.

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