Kate Bernadi
Abro a porta e Pietro coloca Bruno em cima de um sofá, minhas mãos tremem cheias de sangue e observo Bruno completamente branco e quase sem vida.
-Fecha a porta!- Pietro grita.
Pisco algumas vezes e fecho a porta, passo a tranca e vejo Pietro desabotoar a blusa de Bruno enquanto fala alguma coisa, me aproximo lentamente e percebo o que ele quer.
Corro para a cozinha e abro o armário do qual ele falou, pego aquela caixa e deixo na mesinha em que ele está sentado. Pietro joga um líquido em cima do ferimento e limpa.
Bruno grita de dor e Pietro grita pra mim, parece que eu estou embaixo da água, parece que tudo fica mais longe e mais pesado.
-Kate!- Pietro agarra meu pulso.- Eu tô tremendo muito, não vou conseguir costurar.
-Eu...
-Você sabe, não é?- ele parece desesperado.- Você trabalhava em uma lojinha de roupa, não?
-É.- assinto.
-Tá limpo.- ele aponta para o ferimento.- Por favor.
-Ok.- respiro fundo.
Ele me deixa ficar de joelhos na frente de Bruno e logo estou passando a linha pela agulha. Mordo o lábio ainda tremendo e consigo dar o nó.
Nunca costurei carne, mas deve ser a mesma coisa, eu só preciso fechar o ferimento para ele não sangrar até morrer, eu posso fazer isso.
-Porra!- Bruno grita quando eu começo.
-Calma.- Pietro segura os ombros dele.
-Para!- ele grita e eu me apresso.- Kate, para!
Começo a chorar e continuo passando a linha e dando os nós, Bruno grita e eu acho que vou ficar surda. Minhas lágrimas parecem queimar as minhas bochechas e sinto uma mão apertando meu braço.
-Desmaia.- peço.- Por favor.
Ele continua gritando e acabo, Pietro vira ele e costuro a saída, Bruno para de gritar e eu fico um pouco mais aliviada. Engulo em seco e termino.
-Obrigado.- Pietro começa a pegar algumas coisas da caixa.- Eu termino.
-Ele vai ficar bem?- pergunto me afastando.
-Precisa de remédios que só tem no hospital.- ele explica.- Pensamos em algo quando ele estiver estável.
-Dante...
-Não podemos sair.- ele explica limpando as mãos.- Temos comida para uma semana e temos que ficar quietos.
-Mas...
-Kate.- ele vem até mim com o olhar devastado.- Preciso de você sã.
-Ok.- mexo a cabeça.
-Obrigado.- ele fica aliviado.
-O que podemos fazer por Bruno?- aponto.
-Você, nada. Eu vou ficar a noite acordado de vigia.- ele explica.- Durma um pouco e deixe a sua arma perto, ok?
-Ok.- assinto.
-Não tem quartos aqui, mas tem um colchão de acampamento aqui.- ele aponta para o armário entre a cozinha e sala.
Pietro vai até Bruno e senta ao seu lado, encosto meu corpo na parede e vou deslizando até estar sentada com a arma no meu colo.
Penso em Dante e tento não voltar a chorar de novo, Bruno falou que se alguém podia sair vivo de lá era ele, então eu vou confiar no que ele falou.
Passo a mão pelo vestido tentando tirar o sangue e solto alguns soluços só ver que não sai, tento ficar calada para não acordar Bruno e me sinto tão sozinha.
Me sinto completamente sozinha.
♧︎︎︎
Dante Bernadi
Depois de todo o sangue que me cobriu eles ainda não tinham visto quem eu era, então eu estava em uma van sozinho enquanto eles caçavam mais pessoas para dar informações.
Olho para minhas mãos presas por uma corda e depois olho para o motorista rodando uma pulseira no dedo. Engulo em seco e penso em Kate.
Preciso estar com ela, me ergo lentamente e sinto minha perna arder, ignoro a dor e vou me aproximando silenciosamente do motorista.
Passo meus braços pela cabeça dele e começo a enforcar ele com a corda, chuto a mão dele quando tenta pegar o rádio e vejo que já está amanhecendo.
Ele morre nos meus braços e alcanço a faca que ele tem no cinto, coloco o cabo na boca e consigo cortar. Com as mãos livres eu pego a arma e continuo com a faca.
A porta da van abre e eu atiro a faca direto na garganta de um enquanto o outro eu mato com um tiro. Corro como posso até eles e pego a chave de um dos carros.
Só posso usar ele até metade do caminho, entro rapidamente e olho para minha perna sangrando. Ignoro tudo quando dou a partida e começo a ir embora.
Atropelo uns caras e acelero, abro a janela e vou passando pelos carros para atirar nos pneus ou nos motores. Alguns carros explodem fazendo outros explodirem também e jogo a arma para longe.
Acelero o carro e a única coisa que me faz continuar é Kate, ela precisa estar no esconderijo e Bruno precisa estar cuidando dela. Ela só precisa estar segura.
Viro uma esquina e tenho a ideia de ir na direção oposta, vou parar meu carro em um estacionamento e caminho pelos braços até a casa que Bruno arranjou.
Era uma casa pequena com cozinha e sala, sem cômodos maiores era melhor para a vigilância do lugar. Não encontrei Pietro e nem Bianca. Espero que tenham conseguido sair.
♧︎︎︎
Kate Bernadi
Saio do banheiro de banho tomado e ajeito a camisa masculina que vesti, Pietro entra logo depois e vou até Bruno. Ele parece estar melhor.
-Oi.- sorrio acariciando os cabelos dele.
-Você não gosta de seguir as ordens.- ele sussurra.
-É, se eu seguisse você não estaria aqui.- falo com calma.
-Pietro...
-Está no banheiro.- explico.- Tem problema ficar comigo por um tempinho?
-Não, claro que não.- ele ergue a mão e segura a minha.- Obrigado, Kate.
-Só descanse.- acaricio a testa dele.
Bruno fecha os olhos e olho por cima do ombro para a porta, espero que ela abra e mostre Dante. Mas parece que realmente é só um sonho.
Estamos aqui há um dia e nada aconteceu, Pietro fala que não podemos sair por causa que não temos cobertura e que precisamos de remédios para Bruno.
Ou seja, não podemos sair mas precisamos, isso ou Bruno vai morrer. Cheguei muito longe para deixar Bruno morrer, então mais tarde vamos fazer um plano para conseguir esses remédios.
Até lá, vamos esperar Dante. Ele está vindo, sei que está.
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Ela Não É Minha
Lãng mạnKate Reed tem uma vida normal. Mora em uma cidadezinha pequena da Itália, onde tem seus amigos e conhecidos desde que nasceu, seus pais são protetores com ela. Há um segredo que seus pais nunca contaram para Kate, mas isso vai vir a tona eles queren...