04 - Olhos Brilhantes

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Estava em um parque no final da tarde, de cabeça baixa, enquanto pensava na vida e nas dívidas que começavam a sair do controle

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Estava em um parque no final da tarde, de cabeça baixa, enquanto pensava na vida e nas dívidas que começavam a sair do controle. As últimas semanas foram só a procura de emprego, no começo eu até tinha preferências, mas depois... Comecei a procurar de tudo, e mesmo assim não encontro nenhum que seja.

Os tempos não estão fáceis.

Enquanto sufocava em meio a pensamentos, observo agora, crianças brincando pelo pequeno parquinho, umas no balanço, outras desciam o escorregador.

Saudades de quando a minha única preocupação era decidir em qual brinquedo eu iria.

Desperto do meu transe ao se aproximarem duas crianças vindo em minha direção, duas garotinhas que deviam ter no máximo cinco anos e a outra, uns sete.

A menor sobe com cuidado no banco em que eu estava e se prepara para pular nas costas da outra. Fico surpresa ao ver aquela cena e também preocupada, afinal, elas podem se machucar desse jeito.

Depois de darem uma voltinha, a menor desce das costas da maior e voltam para repetir o ato.

— Escuta... Não acham que seja perigoso essa brincadeira? — Chamo a atenção delas.

— Não é perigoso não, tia, eu sou forte. — A maior responde.

— Disso eu tenho certeza, mas mesmo assim, pode acabar derrubando a sua irmã.

— Ela não é minha irmã, e eu não vou derrubar ela. — Novamente ela sai carregando a outra garotinha.

Continuo ali, só olhando elas brincarem, quando de repente a garota mais velha se desequilibra e vai para trás com a outra.

Sem pensar eu corro até elas, me desequilibrando também, caindo de joelhos no chão áspero.

Ao me verem caída elas vem até mim correndo.

Eles nem se machucaram. Mas o susto foi tanto que nem pensei.

— Se machucou tia?

— Está tudo bem, não foi culpa de vocês.

— Papai, faz um curativo nela! — A garotinha menor diz para alguém atrás de mim.

— O que vocês aprontaram, em?

Eu conheço essa voz...

— Não foi nada, só estávamos brincando. — Respondo, já me levantando.

Olho para os meus joelhos, em seguida subo o olhar para vê-lo. Era o cara que me fez chegar atrasada na minha primeira aula de balé.

— Senta aqui, deixa eu ver isso.

Acho que ele não me reconheceu.

Foi só um arranhão. — Falo me sentando num banco.

Ele vem até a minha frente e se agacha. Retira do seu bolso dois band-aid colorido e coloca delicadamente nos pequenos arranhões em meus joelhos.

— Prontinho, logo irá sarar.

— Fala como se eu fosse uma criança. — Arqueo as sombrancelhas.

Finalmente ele me olha nos olhos e parece se lembrar de algo.

— Força do hábito. Você é a garota daquela lojinha próxima ao centro?

— Sim, sou eu.

— Desculpa, eu sou muito distraído.

— Sem problemas.

— Papai, ela tem olhos brilhantes, igual ao da mamãe.

Então tá...

— Sim, filho.

— Que gracinha, qual o seu nome?

— Jess.

— Muito prazer, Jess, agora eu tenho que ir.

Saio de lá apressada ao ver que o sol já estava se pondo. Quase ele faz com que eu me atrase de novo a mais uma aula de balé.

Só pode ser uma grande ironia do destino.

Sr E Sra Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora