22 - Bebezinho

9 3 0
                                    

Já estava quase chegando o dia em que teríamos que fazer o nosso "ritual" de sempre. Só que agora, de forma tradicional.

Tentamos por três meses a inseminação caseira, e foi um fracasso. E tirando o dia em que acidentalmente fui vítima dos meus hormônios do período fértil e dormimos juntos em Las Vegas, essa seria a nossa segunda tentativa, só que dessa vez, de forma constrangedora, como de costume.

— E então, como estão as coisas na casa nova? — Glenda pergunta após o término da aula.

— Digamos que o clima não anda muito agradável nesses últimos dias.

— Me conta tudo.

— Eu ando bem pensativa pra ser sincera... Estou pensando seriamente em desistir.

— Desistir? Pirou de vez?

— Não, eu sei que preciso desse dinheiro, mas, sei lá, estou receosa.

A verdade é que, eu estava pensando nas coisas que a ex mulher de Kai havia me dito. E se ela estiver certa?

— Você está com medo, isso é normal.

— Ando tão estressada e ansiosa que os meus dias ainda não vieram.

— Sério? Isso pode significar que...

— Não! Sem chances, quer dizer, eu saberia se fosse isso, mas é só o estresse mesmo.

— Agora eu entendo porque está tão nervosa.

[•••]

Kai anda distante desde que a sua "ex-mulher" deu aquele show aqui.

Essa semana eu nem mesmo o vi. E é claro que isso tem afetado a sua filha, que por diversas vezes a vi quieta em cantos da casa, ou até mesmo me perguntando se havia feito algo de errado.

Isso era errado, ele não devia ser tão ausente na vida dela assim, afinal, ele fala tanto que a mãe dela não liga para a mesma, que não percebe que está sendo ausente igual.

— Violet, terminei o meu desenho. — Jess me entrega uma folha que havia acabado de pintar.

Estávamos na sala, sentadas no chão enquanto desenhavamos, essa foi a minha ideia de entreter ela hoje.

— Garota, você desenha muito bem, essa é a sua família? — Observo o desenho de três bonequinhos de mãos dadas.

— Esse é o papai, essa sou eu, e essa é você. — Ela me explica, apontando para cada um.

— Eu? Ah... Que gracinha.

Isso é estranho.

— Você não gostou...?

— O que? Claro que gostei, está igualzinho a mim, até redondinha igual eu estou ficando com as guloseimas da Carmen. — Sorrio.

— Não, boba, eu fiz assim porque dentro dela tem um bebezinho, bem aqui. — Ela aponta para a barriga da boneca.

Por um momento não ouço mais o que ela diz, e na minha cabeça se repete a mesma palavra diversas vezes, me assombrando profundamente.

"Um bebezinho".

Não sabia que essa palavra me deixaria tão apavorada algum dia.

Desvio minha atenção do papel ao ver a porta principal se abrir, e Kai passar por ela, com uma pequena mala em mãos.

— Papai! — Jess corre até ele, que a recebe em seus braços, levantando o seu corpo leve para o alto.

— Oi filha, como está?

— Eu estava morrendo de saudades.

— Eu também.

— Violet, vem abraçar o papai! — Ela me chama eufórica.

Crianças são tão inocentes.

— Quer ajuda? — Kai estende a mão para mim, já na minha frente, ao me ver tentar levantar do chão.

— Obrigada... — Seguro a sua mão, sentindo um fio de eletricidade correr pelo meu corpo. — Acho que não sinto minha bunda.

Ficamos tanto tempo sentadas aqui que fiquei toda travada. Enfim, uma jovem senhora.

O vejo dar um sorriso contido com o que eu disse, mas logo volta a sua pose séria.

— Como foi a viagem? — Pergunto ao perceber o silêncio que já se instalava no ambiente.

— Cansativa e estressante, mas Manhattan tem ótimos bares.

— Imagino.

Pena que estou proibida de beber.

— Papai, olha os desenhos que eu e a violet fizemos.

— Daqui a pouco Jess, agora o papai precisa de um banho.

E só agora caiu a minha fixa de que estamos frente a frente enquanto falávamos, mais especificamente de olhos fixos um no outro.

O que está acontecendo comigo?

Sr E Sra Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora