03: Arcana

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Cartas: Ás de copas; A Imperatriz. 

Ás de copas: sentimentos românticos, potencial amoroso


Jade Kader.

Ele suspirou retirando seu nome da caixa de correios.

Tinha alguns dias ainda para se mudar, já que o mês ainda não tinha acabado. Mas saber disso não mudava o fato de não ter para onde ir quando essa hora chegasse, seu vizinho tinha viajado, sequer conseguiria encontrá-lo de novo ainda morando ali.

Os olhos cor de oliva leram o pedaço de papel com o nome mais uma vez, antes de embolar e soltar no chão, já que teria mesmo que limpar tudo, encaixar o que pudesse e se livrar de muitas coisas, a sorte em todo o azar era o fato de sempre deixar a quitinete organizada. De qualquer maneira, do lado de dentro tinha algumas caixas, um colchão enrolado. Embora gostasse muito, não podia cozinhar naquele lugar, sem um fogão, por isso também insistiu tanto naquele maldito emprego, e quando o chefe não estava podia ao menos ver o trabalho na cozinha, algumas vezes os colegas o deixavam ajudar. As refeições que fazia por lá não eram ruins.

Se aproximou da janela pequena emperrada para abrir e começar uma limpeza metódica, mas ela estava como sempre travada, é claro.

Desde a noite anterior estava se segurando, mas um obstáculo pequeno como esse foi o suficiente para que começasse a empurrar a madeira para cima com força, a ponto de quebrar a trava. É claro que ele consertou uma dezena de vezes, mas o problema estava no tamanho errado, ele não podia mudar uma coisa assim.

Santiago insistia para que ele deixasse aquela quitinete, e até comentou sobre o hospital, mas Jade não lhe deu atenção, preferindo se distanciar e viver sozinho. Talvez não tivesse sido uma boa ideia.

— Te serve bem. — murmurou encarando a janela, imaginando estar falando consigo mesmo. 

— Não devia deixar sua porta escancarada assim. Vai que te roubam alguma coisa.

O de cabelos cacheados e presos se virou imediatamente para a direção de onde aquela voz veio, encontrando uma pessoa alta escorada no batente da porta, de braços cruzados, um longo cabelo escuro preso de lado, um sorriso neutro nos lábios. Uma das pernas estava um pouco à frente, também cruzada. Botas com saltos cobriam os pés.

Eles se olharam por um tempo, o visitante franzindo o cenho, ambos em silêncio por um momento a mais.

— Desculpe... Já chamaram um novo inquilino? — questionou, se afastando da janela passando a mão pelo cabelo para afastar um cacho solto.

Olhando bem, na verdade ficou em dúvida por um momento, mas o porte, a voz e o corpo tiravam um pouco da hesitação, e como a pessoa não reagiu, ele não se corrigiu também.

Pelo contrário, aquela pessoa esticou uma perna saltando uma caixa e de fato entrando na pequena casa. Era alguém alto mas o corset em volta da cintura não deixava esconder seu porte menor, embora as mangas de sua camisa preta fossem largas, apertadas no pulso, seguidas de luvas da mesma cor.

Espera. Esse rosto embonecado... Jade tinha visto isso antes, e na verdade não poderia esquecer.

— Você! — exclamou se aproximando e tropeçando nas caixas do caminho, com o indicador apontado na direção do outro. Áster estreitou os olhos se atentando à sua aparência, pela primeira vez reparando nele também.

— Jade Kader. — Áster disse, passando por ele, ajeitando a cartola na mão, as botas fazendo barulho no chão de madeira. — Áster. Prazer.

Jade franziu o cenho vendo aquele homem se afastar. Como é que ele sabia seu nome assim? Ele rapidamente se desfez do pensamento, pensando com clareza. Podia estar lento naquele dia em específico porque não esperava que a demissão viesse na noite anterior.

A Queda de ÁsterOnde histórias criam vida. Descubra agora