26: Plena viagem, flor da pele

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— Ah, você chegou... — Quimera cumprimentou, assim que o de cabelos cacheados voltou da rua, depois de ir a venda e passar na casa de Nilo sem encontrá-lo ele tinha ligado para Santiago também sem sucesso, então a solução foi voltar logo para o trem, antes que escurecesse.

Era fim de tarde do outro dia. Áster não se levantou da cama cedo para preparar nada, então todos num acordo silencioso supuseram que ele não viria comer, e assim foi.

Só saiu mais tarde, não falando muito, provavelmente exausto depois de toda a confusão, Jade o sentiu revirar na cama algumas vezes, mas preferiu deixá-lo em paz.

— Sim, fui comprar algumas coisas que estão acabando. — Ele sorriu, mostrando um pouco do que tinha pego — Quer ajuda aí? — Perguntou, colocando as sacolas de lado e se agachando ao lado da moça, segurando os ramos das plantas para lhe passar a medida que pedisse.

Olhando ao redor, via Narciso construindo alguma coisa com madeira, Emília estava dentro de seu vagão e Dálio que acenou para Jade bisbilhotava o serviço do outro, comendo um cacho de uvas.

— Aonde Áster está?

— Deve estar no campo, colhendo coisas pra chá, acho que vi ele saindo do vagão, mas já faz um tempo. Ele disse que quer que todo mundo desça pra casa. — Quimera respondeu, e o mais novo assentiu, cruzando os braços e se escorando numa das árvores, segurando as folhas. Ele realmente saía com certa frequência, na maioria das vezes voltando com muitos Dentes-de-Leão.

A moça lhe encarou sem que ele notasse, se aproximando um pouco também — Ele ficou quieto de novo não é?

Jade deixou de encarar o vagão amarelo que tinha a porta aberta, se voltando para ela — Hm?

— Áster. De vez em quando ele simplesmente se fecha, ou fica calado por dias. Nós estamos acostumados, talvez você não esteja.

— Eu entendo, também me canso fácil quando fico cercado de pessoas, além do que foram mesmo dias difíceis. Fora o fato de ele ter que dividir o vagão com alguém.

— Mas Áster gosta de você, não é nada pessoal, nunca é. E Lisandro já foi, Narciso teimou e lavou o colchão pra você quando quiser voltar, se estiver achando estranha a situação, e tudo mais.

Jade ajudou, cavando com ela para que colocasse a muda de agrião. — Eu não vou voltar pro terceiro vagão por enquanto... — Comentou, sem realmente falar que foi Áster quem pediu que ele o fizesse companhia, e ficasse com ele — Não sabia que gostava de jardinagem também.

— Não é o meu forte, mas vou tentando passar o tempo. Estou pensando em descer e ajudar Esmeralda com quitandas por uns dias, mas vou esperar Áster melhorar pra pedir a opinião dele.

O outro franziu o cenho — Não acho que precise disso. Ele te adora e quer te ver bem, acho que você pode ir sem se preocupar, a partir de amanhã se quiser. Eu mesmo falo com ele, quando ele acordar.

Quimera pensou por um instante, abrindo o sorriso gengival — É verdade, né?

— Claro. — Ele assentiu, e ela sorriu de volta.

Eles cuidavam do lugar ao redor e saíam para o rio com muita frequência, quando não isso, jogavam jogos de tabuleiro ou cartas juntos, ouvindo música, bebendo chá. Mas talvez depois de trabalhar tanto na vida, viajando por todo lado e fazendo mais de uma apresentação por dia no Candace, Quimera tivesse se acostumado a ter o que fazer o tempo todo, tanto que ela era quem mais ia para o Arcana, ensaiar e dançar por lá, seguida por Emília e Dálio por último, sendo que Narciso geralmente ia para fazer companhia para quem fosse para a tenda, se ele não estivesse ocupado mexendo no trem, cortando lenha ou ajeitando a escada improvisada da colina.

A Queda de ÁsterOnde histórias criam vida. Descubra agora