A Queda de Áster

39: Disparos na tempestade

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Santiago permaneceu parado por um longo tempo, naquela noite, apenas encarando a porção de seu escritório aonde aquela pessoa esteve, e mesmo quando observou Michel se afastar sem fazer ou dizer nada contra ele, ainda podia sentir sua presença e ouvir as palavras recém ditas por ele, ecoando pelo cômodo.

Quando seu estado de inércia passou, a mente instantaneamente correu por várias perguntas, mas uma delas era mais importante que todo o resto.

Como ele tinha entrado, sem ser visto?

E mais que isso.

Seu objeto de obsessão caminhou novamente pelo mesmo cômodo que ele, quinze anos depois da última vez em que o viu. O homem fechou os punhos, ao se lembrar daquele rosto. O mesmo que causou a destruição completa de sua carreira, agora o ameaçou de morte? Santiago rangeu os dentes.

Mesmo na cadeira de rodas, ele não se importava em se mover abruptamente alimentado por sua raiva, ao abrir a estante e retirar dela os livros por cima do que estava buscando, deixando cair vários de seus objetos e artigos, mas ainda sem piscar, os olhos por trás das lentes completamente fixos no que fazia, enquanto o ar entrava e sair por sua boca, nervosamente.

Em sua mesa, a quantidade de fotos e documentos era simplesmente incalculável, e ainda haviam caixas lacradas desde que guardou todos esses materiais. E foi fácil encontrar o nome completo daquela pessoa, já que todo aquele material era sobre ele.

Ergueu a folha de papel específica que buscava entre todas aquelas. Michel Áster Crisântemo. 12 anos. Filiação. Tipo sanguíneo...

Patologias.

Os olhos do homem baixaram sobre a primeira ficha, aonde constavam informações básicas sobre ele, ainda as primeiras que conseguiu. Era como reviver o passado, se lembrava de cada uma daquelas anotações, de seus diagnósticos, e de sua busca incansável.

Movendo a cadeira, ele se virou apressado, ao pegar o aparelho de telefone e discar o mais depressa que conseguiu, ainda que suas mãos estivessem geladas, tomado pela ansiedade.

Os toques do aparelho pareciam ecoar de forma lenta em seus ouvidos, seu cenho trêmulo e todo seu ser inquieto, volta e meia baixando o olhar para tudo que tinha diante de si, o material que arrastou consigo como tesouro, desde aquela época até mesmo agora, quando não era mais um médico. O número de contato não era fácil de se achar, poderia ainda não ser o mesmo?

— Santiago Arabel. — Murmurou simplesmente quando uma provável empregada atendeu, e não deu explicações extensas. Na realidade, não disse mais nada, ainda que ela perguntasse quem era, até desistir e ir chamar quem era do interesse do homem.

Ele esperou, ouvindo o silêncio do outro lado, enquanto quem atendeu buscava pela pessoa, e até mesmo os segundos de espera pareceram agoniantes, principalmente quando olhava para o outro lado da sala, com gotículas de suor frio se formando em sua testa a medida que tentava acalmar a própria respiração, acabando por imaginar que Michel simplesmente poderia estar se escondendo ali de novo, no escuro. Aqueles olhos púrpura e insanos pareciam doentios antes, mas agora realmente sentiu que estava sob a maior ameaça em toda a sua vida. Ao piscar se lembrava das arcadas de dentes pressionadas uma contra a outra, enquanto Michel cuspia suas ameaças de morte, algumas horas atrás. Ou dos olhos de vidro, claros e bem abertos, enquanto as mãos seguravam os braços da cadeira violentamente, o colocando na posição miserável de não poder se defender, totalmente capturado pela surpresa...

— Santiago.

Piscou, saindo do transe de ansiedade no qual foi jogado, imediatamente buscando enxergar ao seu redor e garantir dessa vez que estava sozinho. A voz lhe chamando realmente veio do telefone.