A Queda de Áster

31: Uma chance de ouro, miséria absoluta

 Fiz esse capítulo com muito muito carinho 😭❤

🎪

O céu estava vermelho, porque naquela noite fazia bastante frio.

Depois da morte daquela senhora, os quatro adolescentes acabaram completamente desamparados, e não havia muito que pudessem fazer sobre isso. Algumas pessoas são naturalmente sozinhas, e por isso se aproximam de outras pessoas solitárias também, para diminuir cargas, seja emocional, financeira, amorosa.

Com a morte dela, a situação deles já delicada obviamente se tornou muito pior, contornar a falta de dinheiro era quase impossível, mas naquela semana em especial tinham conseguido algo novo. Uma chance de ouro.

Por isso precisaram demonstrar seu valor a todo custo, a aquele velho dono de circo, e ainda assim, aparentemente não tinham nada a oferecer, inclusive presenciaram um escândalo da parte dele quando demitiu alguns dos funcionários na frente de todo o resto, aos gritos, numa cena chocante que fez todos os presentes se encolherem.

Era o meio da estrada, o caminho para uma cidade, não havia nada nesse tipo de lugar exceto por postos de gasolina e hospedagens caindo aos pedaços.

Naquela parte o céu costumava ser cinzento durante o dia, e pra onde olhassem veriam fábricas brilhando no horizonte, queimando restos, combustíveis, ou criando energia, e era com isso que estavam se distraindo no momento, para não pensarem em problemas maiores, como o banho de sangue que tinham visto há dois dias atrás, escondidos dentro de uma dispensa, ou fato de que não tinham pra onde ir, ou ainda a fome que estavam sentindo, de forma que a criança mais nova tivesse desmaiado num dos postos, recuperando a consciência só muito depois. Obviamente depois de tantos anos juntos acabaram criando responsabilidades uns à respeito dos outros, ainda mais com quem conheceram desde que era bebê.

Por isso pararam ali, no meio do nada, no meio da noite, pensando quando e como iriam partir, quando ouviram um barulho de vidro sendo quebrado, e olhando para a estrada de terra mal iluminada viram claramente o momento em que alguém vindo caiu, desmaiando no meio do caminho.

Não eram mais crianças em idade, mas eles realmente não tinham muitas experiências no mundo, então era fácil que ficassem com medo, mas precisavam checar de qualquer maneira, e quem se prontificou foi o maior entre eles. A pessoa tinha cabelos cumpridos presos, devia ser uma moça viajando agasalhada levando algumas bolsas e sacolas junto, mas estava terrivelmente bêbada, desacordada como se tivesse morrido.

— Vamos ao menos arrastar pra fora da rua — A mais velha sugeriu encarando a outra, e como já ajudava outra o rapaz foi quem fez isso, enquanto esperavam. Não podiam ajudar ninguém, nem a si mesmos. Aquela moça estava muito bem vestida, não podia ser uma perrapada faminta como eles.

Para completar, Dalila estava num estado realmente crítico, sempre foi uma pessoa magra, depois de dias sem comer aqueça criança já não podia mais se manter de pé sozinha — O que estão fazendo? — As duas se viraram depressa na direção da voz grossa enquanto o outro fazia o trabalho, encontrando a pessoa dentro de um casaco de pele grosso, filha do velho dono do circo de onde tinham acabado de sair, junto de um homem de meia idade, um grosso bigode, careca e forte.

— Nada... — A moça de cabelos ondulados e longos disse primeiro, se apressando ao tentar ler a situação — A gente vai seguir viagem, não queremos problemas, aceitamos bem não termos conseguido o emprego... por favor, deixe a gente ir.

— Não querem um lugar pra ficar, e comida? — A pessoa vestida com o casaco questionou, erguendo a sobrancelha e não recebendo nenhuma resposta. É claro que queriam e precisavam — Brutus, carregue essa criança cabeça de fósforo, ela mal consegue ficar de pé. Vocês tem que andar em silêncio, não podem ser vistos ou ouvidos por ninguém. O velho deve aparecer no horário de almoço, sair pra apostar e voltar à noite. Desde que não sejam vistos, podem passar a noite naquela tenda, e só. Vão ter que partir e se virar depois.