A Queda de Áster

36: Desmonte, beijos e flores para mortos

AJUSTES FEITOS AO ENREDO: Jade não tem mais a profissão de policial, isso foi REMOVIDO. Se por acidente em algum lugar ainda estiver constando essa informação, apenas desconsidere. O casal principal agora está em maior evidência, e pequenos detalhes cruciais foram adicionados nos capítulos: 2, 23, 33 e últimos 3 postados.

Algumas apresentações são dignas de silêncio.

Talvez a história contada na apresentação de mágica tenha inspirado alguma narrativa heroica contra um vilão sombrio, porque a torcida do público foi bastante enérgica, vibrando pelo nome de Áster.

Mas Abigail acreditava que aquela era uma apresentação que merecia o choque e o silêncio, tal qual como no momento em que o manequim foi desmembrado, afinal realmente parecia ser uma pessoa de verdade.

As câmeras tiraram muitas fotos e todos pareciam animados, porém, a dona do antigo Candace só conseguia pensar sobre como tudo foi feito, se a alegoria era de papel machê ou algum outro material leve banhado com substâncias que tivessem colorido o fogo com tantos tons diferentes, como as cordas não apareceram animando o manequim, como nenhum acidente aconteceu ou o ambiente se tornou sufocante mesmo com todo aquele fogo. Áster sabia fazer apresentações surpreendentes, mas dessa vez ele parecia diabólico e inalcançável.

Ainda assim, era inevitavelmente sobre sua equipe que ela mais pensava, naquele momento. A apresentação articulada combinando mais de uma habilidade fez com que cada membro brilhasse à sua maneira, e era impossível não querer voltar no tempo, desfazer sua briga com Áster e o desentendimento com Emília, para que pudesse juntar toda a sua equipe de novo. Era deprimente não poder mudar nada, e no momento estava exatamente nessa posição.

Agora Áster tinha usurpado até mesmo o que restava de seu pessoal. Tudo era dele, e ela só conseguiu roer as unhas pela raiva durante quase toda a apresentação.

Ela puxou o lenço sobre a cabeça de novo depois de um suspiro pesado, pronta para sair antes que todos começassem a se movimentar para fora, enchendo as barracas de quitandas ou os brinquedos que já foram seus.

Abigail suspirou pesadamente encarando a roda gigante que lentamente girava, iluminada. Seu pai provavelmente tinha razão quando começava com seus discursos sobre como ela era na verdade inútil.

— Patroa!

Ela piscou, pensando em continuar andando, mas era tarde demais. Olhou para trás e viu enquanto Jânio corria na sua direção, junto dos outros que permaneceram da última vez, antes que ela desfizesse o circo. Sua equipe fixa.

— O que estão fazendo aqui?

O grupo circense se encarou, antes que Jânio desse um passo a frente — A gente veio atrás da senhoria.

— Atrás de mim? — Ela ponderou, tentando não se lembrar da barba crescida que tinha no momento — Vieram esfregar na minha cara que agora trabalham nesse... No Arcana?

— Que Arcana o que? Acha que a gente quer ficar nessa porcaria com aquela criatura descabeçada? Aquele branquelo é de lua demais, ninguém aguenta.

— Não fala assim dele — Desirée estapeou a nuca do homem, quando se alinhou a ele também, ajustando o casaco de pele sobre o vestido vermelho — Nós não nos apresentamos pra ficar aqui, Abigail. Fizemos tudo isso pra chamar sua atenção, porque a gente sabia que não podia ter deixado todos nós para trás, só não podíamos adivinhar aonde tinha se escondido. Na verdade... Áster sabia. E resolveu te provocar. Só não imaginei que daria certo assim.

A outra apertou os lábios, tentando reunir alguma indignação.

— O que estavam pensando distribuindo ingressos de graça assim? O correto é tirar até o último centavo dessa gente... Ainda mais depois de uma apresentação como essa... — Os olhos castanhos se tornaram baixos, e sua voz um pouco silenciosa, pela primeira vez em anos, provavelmente — Eu... Eu lamento muito o Candace de antes. Desperdiçando o talento de vocês daquela maneira... Se eu tivesse feito diferente, quem sabe ainda teria o meu circo. Mas eu precisava ser daquele jeito... Ou nunca iríamos conseguir.