Jade e Áster esperaram a chuva fina dar uma pausa, e desceram depois sob o céu nublado, em silêncio para o bairro aonde a casa nova ficava, assim que o Mágico informou Emília de que estavam mesmo indo. Todos juntavam suas coisas para a casa, mas entre os objetos até então não havia nada que pertencesse ao Mágico.
A visita do Delegado resultou em visitas e perguntas a Celeste, Jade e os amigos, que apenas repetiram coisas que combinavam com o que Áster contou, então isso lhe resultou alguma paz, ainda que os pais da menina permanecessem inquietos e inconsoláveis.
Aparentemente estavam todos ignorando a situação, uma vez que o Delegado foi categórico em avisar que prenderia quem quer que se envolvesse no problema, num recado direto a Áster.
Ele não falou nada porque estava pensando e conjecturando o que o outro iria dizer quando visse, então quando finalmente chegaram se voltou para ele, assim que destrancou a porta, abrindo para o mais novo.
— É pra cá que vão se mudar? — Jade parecia genuinamente surpreso, atento á fachada enquanto entravam, ao passo que o outro o observava atentamente, esperando algum mínimo vacilo.
As conversas entre os dois não andavam muito calorosas, desde sua negação no segundo andar, ainda que tenha argumentado depois.
A sala era grande, e dava para outros ambientes que mais pareciam escritórios, o Mágico não se ateve a nada além do rosto de Jade já que tinha inspecionado toda aquela casa antes. O mais novo por outro lado parecia atento a tudo no ambiente.
— O que foi? — Áster instigou, inclinando a cabeça e esperando que ele respondesse, na verdade esteve esperando por isso desde que leu o contrato.
Minta na minha cara.
— Na verdade... Eu morei nessa casa por alguns anos, há muito tempo. Eu não sabia que ela estava sendo alugada, achei que Santiago tinha vendido. Mas são os mesmos móveis, até os livros que ele deixou para trás estão aqui... — Ele riu soprado e brevemente, parecendo surpreso — Imagino quantas famílias viveram coisas depois que saímos, leram tudo isso, sentaram perto do fogo — Kader divagou.
Mas não tinha falado nada sobre ser o dono legal daquela propriedade e seus metros quadrados cercantes.
— Ah, prontinho, prontinho. Já fiz minha parte, trouxe minha malinha e uma caixa, tá bom? Já posso ir? — Dálio perguntou quando se encontraram, atraindo de novo a atenção dos dois.
— Claro que sim, tenha cuidado, e veja se consegue encontrar com Quimera para subir. Não fiquem à noite na rua sob hipótese nenhuma, desçam de volta logo, todos juntos — Áster disse e o ruivo revirou os olhos, mas sorria.
— Sim mamãe, tá igualzinho a Quimera por que? Nem parece que ela tem que mandar você comer e dormir que nem gente — Reclamou, fugindo quando Áster ameaçou dar um passo em sua direção.
Jade riu dos dois, mas ainda apoiou a mão no ombro do mais novo — Ele tem razão, voltem logo para o trem, vamos estar esperando.
Dálio estreitou os olhos, e logo depois fingiu arrepios — Já falei pra vocês dois pararem com isso hein... Bora Narciso, Emília chata deve estar te esperando pra ficarem de segredinho.
Áster ouviu e apenas observou silenciosamente o outro realmente ir.
— Já separaram os quartos? — Perguntou olhando para todos os móveis, abrindo as caixas que tinham trazido ao lado do outro, quando os outros dois foram, Narciso provavelmente para voltar quando pegasse mais uma remessa.
— Por que, quer ficar no seu antigo quarto? — O outro se virou, cruzando os braços.
Ele parecia muito sério e diferente do dia a dia naquele momento, com os cabelos presos num coque, a camisa social escura como as calças e sapatos, nem tinha se dado ao trabalho de colocar um de seus espartilhos, sem parte das mechas soltas, nem alguma cor que não parecesse natural nos lábios.
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A Queda de Áster
Fantasy18+ Áster é um mágico e ilusionista trambiqueiro de primeira linha que viaja com seus amigos de volta à sua antiga cidade com o circo, o Arcana, no entanto suas intenções vão além de fazer apresentações e shows. Quando um objetivo obscuro assombra...