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Quando Emília terminou seus gritos, seu peito subia e descia depressa, a respiração audível e a expressão eram todos sinais bastante claros sobre como ela se sentia.
Mas o que a irritou ainda mais, foi ter como resposta o silêncio, da parte de Áster.
E mais ainda, quando ele pareceu surpreso, e depois suas sobrancelhas e pálpebras baixaram, como se ele fosse alguma vítima ali.
Ela não precisou ficar mais para assistir aquilo, indo depressa para o maldito vagão de trem aonde se enfiou debaixo das cobertas, se escondendo levando a carta escrita à mão, com a caligrafia apressada de Abigail, apertando o papel entre os dedos, enquanto apertava também os olhos com força, se vendo incapaz de parar aquele choro.
Do segundo vagão, os quatro parados de pé ainda conseguiam ouvir bem, uma divisória e o silêncio noturno no topo da colina tornava impossível evitar ouvir. O olhar dos três mais novos se fixou em Áster, mas ele parecia estar com seus pensamentos longe, encarando o nada aonde Emília esteve um momento atrás.
— ... Dá pra acreditar nessa garota?! —Dálio foi o primeiro a falar qualquer coisa, batendo o pé no chão e colocando as duas mãos nos quadris, irritado enquanto balançava a cabeça negativamente — Áster, eu vou...
O de cabelos longos não deu tempo para que ele continuasse — Eu vou para o meu vagão — murmurou, já se movimentando naquela direção, abrindo e fechando a porta sem se virar, sendo nítido quando usou a trava.
O rosto dele queimava.
Quando se deixou cair sentado diante da penteadeira não foi surpresa descobrir o quão avermelhada sua pele estava naquele momento, sobressaindo mesmo com a maquiagem, podia sentir o calor se alastrando de uma das maneiras mais negativas já experimentadas por ele antes.
Suas pernas e braços pareciam estar fracos e seu coração se enchia de vergonha.
Nunca foi fácil conseguir a aprovação de Emília, mas os momentos em que se sentia realmente próximo a ela foram no Candace.
Quando ele decidiu ir embora colocando em jogo também o nome dos quatro amigos, nenhum deles se opôs, mas ela nunca lhe deu o mínimo crédito ou confiança, sempre sendo difícil de alcançar.
E agora, ligando os pontos, não era complicado entender o motivo.
Ele já tinha passado por coisas inimagináveis, mas nunca tinha ouvido algo assim vindo de alguém com quem se importava tanto, como era no caso de Emília.
Quando Narciso vergonhosamente o encontrou caído no meio de uma estrada anos atrás, e ele acordou aos poucos ficando sóbrio novamente, encontrou olhares de curiosidade, preocupação, mas o dela era intrigado, astuto, e se vendo naquela situação com aquelas quatro pessoas desconhecidas, ele já sabia que ela seria a mais difícil de se conquistar. Era óbvio.
Enquanto a moça ensaiava, Abigail sempre exigia muito dela, e parecia de fato se divertir quando Emília se desdobrava para conseguir resultados melhores e mais surpreendentes, muitas vezes ensaiando até sozinha tarde da noite.
Entre ele e Abigail sempre houve a postura de ambas as partes em evitar grandes atritos, afinal seria uma batalha entre egos nada pequenos, mas por várias vezes tinha exigido que ela fosse melhor com seus amigos, principalmente com Emília. Ela nunca tinha se aberto com ele embora ficasse por perto e conversasse nas reuniões que faziam os cinco. Então Áster apenas podia imaginar que por trás daqueles olhos irritados e a sobrancelha franzida, havia uma pessoa que sofreu muito, e ainda era constantemente incomodada pela chefe.
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A Queda de Áster
Fantasia18+ Áster é um mágico e ilusionista trambiqueiro de primeira linha que viaja com seus amigos de volta à sua antiga cidade com o circo, o Arcana, no entanto suas intenções vão além de fazer apresentações e shows. Quando um objetivo obscuro assombra...