Já era a quinta vez que ele me massacrava no Mortal Kombat. Quando a minha personagem teve a cabeça literalmente arrancada pelo personagem de JJ, eu desisti, jogando o controle para o lado e me atirando na cama, indignada. Era humanamente impossível pensar que eu havia perdido todas as partidas.
- Ugh, você está roubando – acusei com a voz irritadiça.
Ele riu.
Peguei mais uma batata frita, mergulhando-a no copo de milkshake pela metade e comi.
- Não estou, você que é horrível jogando. Até no modo super fácil você perdeu, Kiara - defendeu, virando o rosto para me fitar com aqueles olhos azuis cheios de um divertimento infantil. – Ou talvez só esteja distraída.
É. Distraída eu estava desde que o vi dentro daquele uniforme de futebol. Distraída eu estava desde que, como um cumprimento, ele beijou o canto da minha boca. Distraída eu estava desde que ele pousou a mão na minha coxa durante todo o caminho em direção até a sua casa.
Eu estava mesmo distraída, tão distraída que não ouvi sequer uma palavra que saiu da sua boca.
- Kiara? - chamou novamente.
Pisquei algumas vezes para me recompor. Limpei a garganta e obriguei os meus batimentos a normalizarem.
- Eu disse que estou indo tomar banho.
- Isso é um convite? - perguntei, erguendo as sobrancelhas.
- Não, você sabe que...
- É coisa de gente apaixonada completei, revirando os olhos e rindo de leve. - Eu sei, você faz questão de repetir isso toda vez que estamos juntos.
- Você sabe das regras.
Por trás do próprio ombro, JJ sorria. Soube disso porque seus olhos estavam brilhando. Por um momento, pensei que fosse se debruçar sobre mim e me beijar, mas ao invés disso, ele pegou uma toalha no armário e se dirigiu até o banheiro do quarto.
E eu fiquei ali, estática, encarando o teto com a cabeça completamente vazia. Ou talvez, estivesse tão cheia que não conseguia mais interpretar nada. Eu não sabia. No meio de toda aquela bagunça, virei o rosto para o lado e encontrei o porta retrato.
Meu coração deu uma guinada e, então, disparou.
Éramos nós dois no halloween do fundamental, poucos meses depois que nos conhecemos. Ele estava vestido de astronauta e eu de bailarina. Naquela noite, juntamos as nossas moedas, compramos uma casquinha de sorvete de baunilha que caiu no chão antes que eu sequer pudesse provar. Empurrei JJ com tanta força que ele bateu a bunda no chão.
Demoraram longos 10 minutos para que ele me perdoasse e, no final, acabamos dançando no meio dos adultos. Poucas horas depois fizemos dois juramentos. O primeiro: eu nunca mais empurraria JJ com força suficiente para que machucasse a bunda. O segundo: seríamos inseparáveis dali em diante – e isso incluía o ensino médio, o baile de formatura e a viagem.
A sensação de nostalgia fez o meu peito inflar e eu precisei de muito esforço para não invadir o banheiro e simplesmente esmagá-lo em um abraço apertado. Resistindo ao ímpeto de quebrar todas as regras, fiquei vasculhando as caixas antigas de dvd em busca de alguma coisa interessante. Quando encontrei o blue-ray de Diário de uma paixão quase não acreditei. Abri a capa, destaquei o cd e encaixei na entrada do videogame.
Não funcionou.
Bem na hora da entrada ficou travando e repetindo uma dúzia de frases sem sentido. Tirei o cd, limpei na camisa de algodão, mas continuou sem funcionar. Repeti o processo umas cinco vezes antes de perder a paciência e começar a bater de leve na plaquinha do videogame.
Desejei que não tivesse feito isso. No segundo seguinte, JJ saiu do banheiro, com uma toalha enrolada na cintura e o filme começou a se desenrolar na tela, mas não era Diário de uma paixão. Era bem mais... Quente? Definitivamente, e muito mais embaraçosa. A sequência de abertura era uma montagem extremamente musical de mulheres e homens com a boca uns nos outros. Sem roupa. Totalmente sem roupa.
Tinha certeza de que minhas bochechas estavam derretendo. Ou que eu estava tendo um mal súbito.
- Kiara? – JJ perguntou, assustado.
Meus dedos correram pelos botões da televisão, mas tudo que consegui fazer foi aumentar o som, o que tornou tudo mil vezes pior. Eu meio que tremia e suava de nervosismo e vergonha.
- Por que diabos você guardou esse tipo de coisa nas capas de filmes românticos? - berrei com a voz estridente.
A mulher na televisão gemeu.
Quis morrer.
- Cacete, você é pervertida, Kiara - ele olhou para a obscenidade se desenrolando na tela. – Gostei -e deu uma piscadinha.
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the deal - jiara!
FanfictionAutora: Becky. Twitter: @rafefode. . kiara está decidida a perder o 'cartão v' até o baile de formatura. é por isso que decide ignorar completamente a regra "pogues não se pegam" e sugerir um acordo ao seu melhor amigo - e maior cafajeste de outer b...