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Fato 1 sobre Kiara Carrera:

ela era fã de músicas meio deprimentes, sempre enxergou beleza no caos.

Fato 2:

ela era uma péssima cachaceira. Isso porque, depois da 3ª taça de vinho, suas habilidades cognitivas e motoras se reduziam à metade. Era por isso que tropeçava nos próprios pés ao dançar Imagination do Foster The People, mas estávamos alterados demais para nos importar. Depois de meia hora abandonamos a jacuzzi porque seus dedos estavam começando a ficar envelhados e decidimos que seria uma boa ideia molhar o tapete da sala de John B enquanto dançávamos a playlist-quase-nada-animada de Kiara.

Suas bochechas estavam vermelhas quando ela tomou o controle da televisão como se fosse um microfone e subiu na mesinha. Quase tive uns três tipos de mal súbitos diferentes ao vê-la rebolar animadamente. Desviei o olhar, não porque queria vê-la, mas porque era a minha melhor amiga, bêbada e vestindo apenas um biquíni rosa que, sem sombra de dúvidas, era a coisa mais sexy que já tinha visto.

- Tive uma ideia! – anunciou.

Os cachos estavam grudados nas suas costas suadas quando ela pulou da mesinha e mudou de faixa, repetindo a música que tínhamos ouvido mais cedo, na jacuzzi.

All I Want.

Com dois passos, ela se aproximou do interruptor de luz e nos deixou no mais completo breu.

- Está tentando me mandar direto para a terapia, Kiara? Porque eu juro por Deus que está funcio...

E me calou.

Não com um beijo, mas com o polegar. Mesmo à meia luz, consegui perceber que suas pupilas estavam menores. O aroma de pêssego e frutas vermelhas estava quase imperceptível se comparado ao cheiro forte de álcool e vinho.

- Shhh! - sussurrou. - O baile é em 3 meses. Precisamos ensaiar.

- Ah, não, tá...

- Por favor – pediu, projetando o lábio inferior em um biquinho adorável.

Merda.

Não consegui negar. Na verdade, não conseguia negar absolutamente nada a Kiara quando ela fazia biquinho. Certo, eu era um frouxo, mas o que mais poderia fazer? Além disso, era só uma dança, não um cachimbo de crack.

- Ok.

Eu ri dos pulinhos de alegria que ela deu e, então, puxei seu corpo delicadamente para perto. Meus dedos percorreram a pele nua das suas costas até pararem e seus olhos passearam pelo meu rosto. Dei um passo para o lado, sem saber muito bem o que fazer porque nunca tinha estado em um baile antes.

Ou dançado com uma garota.

- Só para que fique claro, eu não sei dançar - sussurrei ao senti-la encostar a cabeça em meu peito.

- Apenas me siga.

Não havia nada de coerente em seguir uma pessoa bêbada, mas mesmo assim eu o fiz. Provavelmente porque estava bêbado também. Os pés de Kiara se moveram e as mãos dela em minha nuca me guiaram.

- Um passo para o lado e um para o outro – explicou com a voz rouca, descendo os dedos macios pelos músculos do meu braço. – Não é difícil, prometo.

E eu fiz. O ritmo dos meus batimentos acelerou, não sabia se era pela proximidade ou pelo medo de pisar nos seus pés e levar um soco – na verdade, sabia sim. Ela estava exageradamente linda naquela noite, tão linda que quis beijá-la, mas não podia.

As regras. As regras. As regras.

Precisei repetir mentalmente.

Kiara apoiou o rosto em meu ombro e continuamos dançando por longos minutos. melodia calma preenchendo todos os nossos sentidos. Eu me deixei levar. O corpo perfeitamente encaixado no espaço entre os meus braços, seu peito pressionado contra o meu peito e mãos acariciando as minhas costas. Certo. Sabia que aquilo não era o paraíso, mas era inesperado e dolorosamente bom. Pela primeira vez, Kiara empurrou a língua contra a minha, deslizando com delicadeza e cheia de segundas intenções. Os dedos em meus ombros, firmes, me puxando para perto.

Retribuí, tocando todo o seu corpo. Minha mão se fechou em seu pescoço, sem apertar, apenas repousou ali. Kiara tinha gosto de vinho, desejo e álcool.

- Preciso ir para a terra do orgasmo - resmungou com a boca contra a minha, me empurrando no sofá e vindo por cima no segundo seguinte.

Todo o sangue do meu corpo começou a pulsar para um só lugar. Seus lábios cobriram os meus. Era impossível controlar. O álcool ardia nas minhas veias. Agarrando-a pela cintura, puxei Kiara para mais perto – como se isso fosse possível –e deslizei a língua sobre a sua, lentamente. Um gemido meio desesperado saiu e seu quadril se moveu para baixo, me fazendo arfar.

- JJ- sussurrou, apertando os dedos em meus cabelos.

Demorou menos de 10 segundos para que a sua mão se projetasse para as suas costas e soltasse o laço do seu sutiã. A peça caiu no chão enquanto Kiara me beijava. Senti seu peito pressionar o meu e quis tocá-lo, com a mão, com a boca e com o que mais conseguisse.

Eu não podia.

Forçando o álcool a sair do meu organismo, afastei o rosto alguns centímetros.

- Princes... – ela me beijou de novo.

Segurei em seus ombros, empurrando-a cuidadosamente, mas os beijos desceram para o meu pescoço. Fechando os olhos com força, recuperei todos os resquícios de força e bom senso para mudar de posição e deitá-la sobre o sofá. Posicionado entre as suas pernas, segurei seus punhos acima da cabeça.

- Não posso. -sussurrei, apoiando a testa na sua.

- O quê?!

- Você está bêbada, Kiara. Nós estamos bêbados. Eu... Nós não podemos fazer isso, não desse jeito. - Uma lufada de ar saiu pelos seus lábios.

- JJ, por favor me diga que você não está falando sério - resmungou, erguendo o queixo para me encarar.

Balancei a cabeça em negação.

- Porra, queria que não estivéssemos bêbados. Não vou transar com você.

- Eu não estou bêbada – disse, ríspida.

Mas eu sabia que sim. Conhecia Kiara melhor do que conhecia a mim mesmo. Conhecia o tamanho das suas pupilas, o cheiro doce e natural que exalava e até a cor natural das suas bochechas. Tudo estava diferente. Ela estava linda, isso era inegável, mas estava diferente.

- Você está.

- Já disse que não estou.

- Kiara, para! – exclamei, rígido. - Não vou transar com você agora. Não é desse jeito que eu quero que você se lembre...

- E desde quando você se importa? - berrou, tropeçando nas palavras.

Era o álcool. Eu estava 100% consciente de que a minha melhor amiga não estava consciente, mas mesmo assim a frase simples me pegou desprevenido. Senti como se tivesse levado um soco e recuei alguns centímetros.

- Porra, Kiara – ri fraco. – Você está de sacanagem?

Ela sequer se deu o trabalho de me responder.

- JJ, sai de cima de mim. – resmungou, ríspida.

E eu saí.

Sentei no sofá, evitando olhar para Kiara enquanto ela tateava as almofadas em busca do seu sutiã. Sabia que era meio vergonhoso, então ofereci a minha camisa branca, que em menos de 30 segundos cobriu o seu corpo até o meio das coxas.

- Não quero que fique puta, Kiara. Eu só não acho que, quando estiver sóbria...

- Eu não estou bêbada, JJ.

Começou a andar, batendo os pés firmemente... Até tropeçar na mesa e cair de cara no chão. Podia jurar que meu coração tinha ido parar na boca. Instintivamente, corri até o chão, erguendo o seu rosto cuidadosamente.

- É... – disse ela, com a voz embolada. – Talvez eu esteja um pouco bêbada.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora