A chuva grossa sacudia as janelas do lado de fora, fazendo um ruído calmo e pertinente preencher os meus sentidos. Era bom, calmo, mas ainda assim não era o suficiente. Meus músculos haviam retesados no momento em que vi meu pai soluçando, abraçado a um porta retrato quebrado com a foto da nossa família. Desde então me sentia como se houvesse uma dúzia de helicópteros sobrevoando a minha cabeça.
Eu não o abracei, nem o consolei. Ao invés disso, me tranquei em meu quarto, atormentada pelos milhares de pensamentos que sequer era capaz de interpretar. Eram muitos, a todo segundo. Eu odiava aquela sensação – a de estar prestes a explodir -, mas não fazia ideia de como afastá-la então, novamente, não fiz nada.
Da mesma forma que não fiz nada ao ouvir o ranger da porta do quarto de hóspedes onde, antes, estava sozinha. Ele tinha cheiro de leite de coco e pétalas de jasmim na noite em que deitou por trás do meu corpo e me aninhou como costumava fazer quando minha mente estava barulhenta demais – ou quando eu estava prestes a ruir. Ao mesmo tempo que uma onda de nervosismo gelada subia pela minha coluna, um rastro quente de aconchego e familiaridade se alojava em meu peito, me transformando em uma gosma pegajosa de sentimentos confusos, sofrimento, gratidão e amor.
Não falamos nada nos primeiros cinco minutos. Só o som da chuva e da lareira queimando preenchiam o ambiente. Em um desses momentos, seus dedos calejados arrastaram a alça fina da camisola de seda e deixou meu ombro à mostra. Seus lábios vieram logo em seguida, deixando um beijo calmo, demorado e terno.
Sempre achei uma tremenda baboseira acreditar que o sexo era capaz de aproximar as pessoas, mas nunca tinha me sentido tão próxima de JJ quanto naquele momento.
- Quando cheguei em casa, ele estava chorando – confessei com a voz fraca. -O meu pai. Ele... Ele estava abraçado a um porta retrato. - precisei engolir em seco para prosseguir. - eles quebraram durante uma discussão. Eu nunca tinha visto ele chorar antes.
O ar ficou denso. Talvez tivesse pedras em meus pulmões. Minha visão ficou embaçada. Uma gota de chuva devia ter atravessado o teto e pingado bem no meu olho. Eu não estava chorando. Eu não estava chorando.
- Princesa, você está chorando? – perguntou com a voz rouca, espiando por cima do meu ombro.
Tentei tomar fôlego para responder, mas o primeiro soluço saiu sem que eu pudesse conter. Sequer senti as lágrimas se aproximando.
Chorei por mim, pela criança que nunca tinha conhecido a Disney com a família. Chorei pela garotinha que cobria os ouvidos quando os gritos eram assustadores demais e pela adolescente que ainda tremia de medo em meio às discussões. Chorei pelas memórias que não construímos. Chorei pelos biscoitos de gengibre que nunca assamos no natal em família. Chorei por meus pais. Chorei pelo lar despedaçado e por cada ferida que se abria no meu peito.
E a cada soluço, ele me apertava mais contra o seu peito. JJ me deixou desmoronar naquele abraço desengonçado e me segurou com força suficiente para que, por um momento, eu acreditasse que pudesse me reconstruir.
Mas nós dois sabíamos que não. Ele não poderia reunir os estilhaços do que sobrou de mim, porque eu era a única pessoa capaz de me salvar, mas é difícil nadar até a superfície quando há uma tonelada de cicatrizes puxando de volta para baixo.
JJ Maybank não dançava com os meus demônios para que eu me distraísse.
Não.
Ele queria que eu me curasse.
- Está melhor? - ele perguntou alguns minutos depois, quando os soluços se transformaram em fungadas.
Fiz que sim com a cabeça. Nem lembrava como eu tinha parado naquela posição, deitada em seu colo como se fosse um bebê.
- Sujei toda a sua camiseta – disse, esfregando os dedos nos olhos. – Desculpe por ter chorado tanto.
- As vezes precisamos chorar para lembrar que conseguimos respirar - rebateu, tomando a minha mão de um jeito carinhoso e beijando a ponta dos meus dedos. - É o que acontece quando nascemos, né? Nós choramos. Só assim sabemos que estamos vivos.
Encostei o rosto em seu peito. Meus olhos ardiam e meu nariz escorria. Eu estava uma bagunça e, mesmo assim, ele baixou o rosto para deixar um beijo na minha testa.
- Aguenta firme por mais seis meses? – sussurrou como se fosse um segredo.
- O quê?
- Seis meses, princesa. Em seis meses vamos pegar as nossas tralhas e viajar pro outro lado do país. Vamos ser nós dois, um apartamento com cheiro de mofo e a nossa faculdade.
Não pude deixar de rir. Ele era um idiota.
- É, pode ter certeza.
- Prometo que as coisas vão melhorar – disse ele. - Você vai ter algo que nunca teve.
- O quê?
- Paz.
JJ estava certo. Não conseguia lembrar de um momento em que as preocupações não me afetassem diretamente. Mesmo em momentos em que as coisas estavam estáveis, eu ainda sentia borbulhas no estômago, como um presságio de que não ia durar muito tempo. Me agarrei à essa esperança, ao futuro em que estaríamos juntos e minha mente não estaria mais rodeada por fantasmas.
Seríamos eu e ele em um novo recomeço. Eu só precisava aguentar firme.
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Como eu disse na Caixa de Mensagens, a Becky, escritora da fanfic está passando por uns problemas e desativou a conta e não sabe quando vai voltar e logo não sabe quando vai posta a fanfic pra eu resposta aqui.
Eu tenho mais uma atualização pra Segunda que vem e eu queria saber se podia posta, mesmo que depois a gente fique sem atualização por um tempo indeterminado.
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the deal - jiara!
FanfictionAutora: Becky. Twitter: @rafefode. . kiara está decidida a perder o 'cartão v' até o baile de formatura. é por isso que decide ignorar completamente a regra "pogues não se pegam" e sugerir um acordo ao seu melhor amigo - e maior cafajeste de outer b...