124 - carta.

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Kiara,

Você lembra da noite em que disse que estava pronta? A nossa primeira noite quando, pela primeira vez, eu me dei conta de que quebrar as regras e abrir exceções com você era uma guerra que eu jamais venceria. Eu soube ali.

Eu disse com todas as letras: "você será a minha ruína". E eu estava certo. Demorou 8 anos até que eu me apaixonasse por você e menos de 5 meses para que tudo entre nós acabasse em ruínas.

Há dias tenho encarado todas as cartas que me enviou como se elas fossem meu maior dilema e não o fato de que você está, agora, em uma cama de hospital enquanto eu termino de encaixotar tudo que é meu para ir até o outro lado do estado. Isso me mata, arranca lascas do meu coração lentamente, me fazendo sangrar de dentro para fora.

Um dia, eu quis te escrever uma carta de amor e ela certamente não se pareceria nada com isso. Parece que quanto mais tento organizar meus pensamentos, mais caótico tudo se torna. Cada palavra que tento juntar parece um grito silencioso de raiva, de frustração.

Nós nos perdemos, Kiara. Ou, pelo menos, eu me perdi em você.

Talvez, se nunca tivéssemos inventado a porra desse acordo, ainda seríamos os mesmos ]] e Kiara de sempre. Talvez, se eu tivesse coragem de ler o que você me escreveu, as coisas seriam diferentes. Ou talvez não.
Isso me assusta muito mais do que eu gostaria de admitir.

Meu pai deve estar certo: eu devo ser um fugitivo, covarde de merda. Mas eu me recuso a passar por isso outra vez. Sua resposta foi clara quando você saiu do quarto naquela noite, então sinceramente, para que tantas justificativas agora que há um ponto final entre nós?

Essa não é uma carta de amor.

Eu subestimei o poder das minhas escolhas. Até hoje me pergunto: Você se lembra como era a vida antes? Antes da confusão, da bagunça, das lágrimas? Antes das brigas e discussões? Antes da dor palpável que me partiu em milhões de pedaços?

Eu acho que não.

Mas eu lembro como se fosse hoje. Se eu fechar bem os olhos ainda consigo ver seu rosto e, se eu me esforçar, consigo sentir o seu toque no meio da brisa quente.

A diferença é que nada disso é real — e eu duvido que tenha sido algum dia.

Não. Isso não é uma carta sobre amor. Isso é uma carta sobre a dor.

E sobre como você me quebrou.

Todos os nossos planos foram arrancados de mim, Kiara. Cada um deles. Sinto como se meu peito estivesse em carne viva e, por isso, tenho fumado para aliviar toda essa merda.

Você era a minha prioridade. Você sempre foi.
Enquanto isso, eu assisti você me chutar para o segundo lugar inúmeras vezes. Eu era seu melhor amigo, porra. Estive com você nos momentos felizes, nos tristes e nos confusos e, de repente, tudo mudou.

Eu me tornei o seu segredo.

Eu me tornei a sombra que vivia à espreita das frestas da sua janela.

Eu me tornei o teu canal de alívio carnal e temporário.

E eu estou farto, Kiara. Eu estou exausto de nós, do que nos tornamos.

Se você me deixou naquele quarto de hotel, teve seus motivos. Guarde eles para si mesma. Não quero as suas explicações, muito menos as suas cartas.

Por favor, não me procure mais.

John Maybank Jr.

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