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Cinco minutos se passaram e eu comecei a ficar impaciente. Não que eu fosse chato, mas quem conseguia demorar tanto para pegar uma bolsa? Saquei o meu celular do espaço entre o banco e mandei uma mensagem para Kiara. Depois, fiquei jogando caça-palavras para o tempo passar mais rápido. O som de uma garrafa quebrando soou dentro da casa e as pessoas gritaram em comemoração.

Então ergui os olhos pelo jardim. O choque me atingiu como um tiro no peito. Kiara estava encostada em um carro, com a mão – aquela que tinha o meu anel deslizando sobre o peito de outro cara. Mesmo na escuridão, eu consegui reconhecer a postura desleixada de Sean Patridge quando ele pousou o braço bem ao lado do rosto dela. Kiara riu de algo, se inclinando para frente. Ele tomou proveito da situação e beijou a sua boca. Em um impulso, Sean cambaleou para trás.

Ela o empurrou e gritou alguma coisa. Quatro segundos se passaram até ele agarrar o seu rosto pela segunda vez e beijá-la novamente.

- Mas que po...

Soltei o cinto de segurança e puxei a maçaneta, pronto para cumprir a promessa de fazê-lo engolir o próprio punho.

Então, Kiara cedeu.

Ela não passou as mãos pela sua nuca, mas deixou que ele a beijasse da mesma forma que eu tinha feito na noite passada. E nas noites anteriores. Um buraco se abriu no meu peito ao ver o seu corpo se desfazer nos braços de um cara que não era eu e as mãos de Sean percorrerem os mesmos caminhos que eu percorria.

[☁️]

O silêncio foi torturante.

Quando desliguei o carro, algumas ruas antes da sua casa para não correr o risco de sermos flagrados pela sua mãe, fiquei imaginando se Anna gostava de Sean. Eu ri, porque era irônico. Ela com certeza amava Sean. Ele nunca tinha presenciado os seus piores momentos – aqueles durante as brigas com Mike, quando arremessavam pratos e copos – então isso meio que dava algum crédito a ele. Além disso, ele tinha uma grande influência positiva, diferente do meu pai e eu. Enquanto eu precisava entrar pela janela, sem fazer nenhum barulho, Sean podia simplesmente usar a porta da frente.

Sabia que não haviam muitas coisas capazes de amenizar o abismo que se abriu entre nós desde o dia do café até agora. Me magoou. Doeu. Mas eu também fiz coisas. Não entendia o que esse abismo era e desconfiava que Kiara também não fazia ideia.

- Eu vi – sussurrei, olhando para os carros no acostamento, mas sem ver realmente nada.

Não precisei explicar. Kiara entendeu no primeiro momento. Sua postura endureceu e ela arrumou o corpo no banco, secando as mãos na calça jeans, mas não disse nada.

- Você gosta dele? – minha voz saiu mais magoada do que eu esperava. – Tipo... Você quer ter...

- Por favor... - ela interrompeu em um tom de súplica. – Eu não tenho quase nada, JJ. Tudo o que eu... - Kiara parou, olhando para frente com os olhos marejados. – Eu preciso de uma coisa estável nessa vida. Pelo menos uma. Eu preciso de um lugar onde eu ainda possa respirar sem me sentir culpada. Por favor, não brigue comigo. Não se afaste de mim, porque aí sim eu não vou ter mais nada.

Ela mordeu os lábios, como se estivesse prestes a chorar. E, apesar do meu ego ferido, de toda dor que dilacerou meu peito, fechei os olhos e concordei, porque gostava dela demais para causar ainda mais estragos.

Naquela noite, Kiara saiu sem me dar um beijo de despedidas, mas com lágrimas nos olhos.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora