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Fiquei encolhida na sua cama, ocupando o menor espaço possível. Não queria incomodar. Eu tinha medo de incomodar. Estávamos a menos de 2 metros de distância, mas eu ainda tinha a sensação de que havia cerca de mil quilômetros nos separando. Três horas depois, a minha cabeça não doía mais graças aos analgésicos –, ainda assim nada tinha sido capaz de aliviar a angústia que dilacerava o meu peito. A minha cabeça foi bombardeada de lembranças por muito tempo - nosso primeiro beijo na casa de John B, os "beijos de despedida" e a primeira vez, ali naquela cama. Meu Deus, eu sentia tanta falta dele. E ele estava bem na minha frente.

Metade de um mês havia se passado desde a última mensagem que tinha enviado. Não tive resposta. Nem emoji. Nem nada. Estava tão confusa. Ele parecia não se importar, mas era óbvio, pelo modo como reagiu a Sean, que se importava. Ou talvez fosse coisa dele. Fiquei imaginando como ele reagiria se fosse Bettany no meu lugar- -o que fez com que eu me sentisse mal imediatamente. Nossos olhares estavam perdidos pelo quarto, no meio daquela bagunça silenciosa e angustiante. JJ tomou fôlego, prestes a dizer algo, mas foi interrompido por batidas secas na porta.

- Filho? – Luke deu uma olhada pela brecha e colocou metade do corpo para dentro do quarto. - Estou saindo para trabalhar. Deixei uns trocados na mesa caso vocês queiram.. Sei lá, pedir alguma coisa diferente para comer.

Os olhos exaustos do pai de JJ encontraram os meus. Sorri de leve, com simpatia.

- Valeu, pai – respondeu, acenando com a cabeça.- - Pode deixar.

- Estimo melhoras, Kiara – disse.

Eu agradeci genuinamente e o observei fechar a porta. Ficamos em silêncio mesmo depois de ouvir a picape dando partida e o som do motor velho desaparecer pela rua. O quarto e último ervilhas congeladas já tinha derretido. Meu punho pacote de estava melhor e imobilizado por uma tala que Luke tinha na garagem. Não estava quebrado, apenas torcido e inchado.

Eu olhava para a parede vazia à minha frente quando JJ se aproximou. Prendi a respiração ao sentir a ponta calejada dos seus dedos na minha bochecha, deslizando cuidadosamente ao fazer um traço em cima do lugar onde eu tinha sido acidentalmente acertada. Gemi de dor e recuei quando tocou a linha do meu queixo.

- Isso vai ficar roxo - anunciou, suspirando pesadamente. – Vou pegar uma pomada – ele levantou, atravessando o quarto antes de entrar no banheiro.

Não precisava, mas era perda de tempo contrariar JJ em um momento como aquele. Quando voltou, ele sentou ainda mais os dedos, colocou alguns dos meus cachos atrás da perto. Com orelha. Era a primeira vez que fazia isso em duas semanas. As condições eram terríveis. Fiquei pensando se, em outras circunstâncias em uma em que eu não tivesse levado um soco –, ele voltaria a me tocar com toda aquela delicadeza. Ele devia me odiar. Odiava pensar aquilo, mas não conseguia evitar. Minhas vísceras se contraíram. Nunca tínhamos brigado antes, pelo menos não de verdade -nossa maior discussão foi quando eu comi todas as batatinhas crocantes e deixei só as murchas para ele. Todo aquele devaneio me fez sentir mais angustiada ainda. O gel frio tocou a minha pele. JJ foi espalhando com a ponta do indicador por toda a linha da minha mandíbula, com cuidado. Quanto mais nossas respirações pesadas se misturavam, mais minhas costas enrijeciam.

- Está doendo? - perguntou.

Engoli em seco, olhando para as minhas próprias mãos.

- Não.

- Então por que você está tensa?

Seu olhar encontrou o meu. Um nó estranho apertou a minha garganta e a dor que se espalhou pelo meu corpo não tinha nada a ver com o incidente daquela tarde. Não conseguia mais fingir que estava tudo ok. Não estava.

- Porque eu estou com saudades de você - confessei de uma vez só.

Algo pareceu ter mexido com as suas emoções. O canto da sua boca subiu, mas não era um sorriso. Antes que eu pudesse raciocinar ou sequer interpretar as intenções por trás daquele não-sorriso, JJ me beijou.

JJ Maybank me beijou como quem está se afogando e precisa de ar. Não era atoa que, ao mesmo tempo que pressionava os lábios macios contra os meus, ele inspirava profundamente. Foi inesperado e deixou meu corpo fraco e vulnerável – era como eu me sentia sempre que me tocava. As borboletas davam piruetas no meu estômago e meus batimentos estavam disparados.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora