Kiara esteve comigo quando meu pai me socou e depois caiu no chão duro feito pedra por causa da overdose. Não no momento exato, mas ela foi a primeira pessoa para quem eu liguei quando o desespero se: apossou do meu corpo. Foi ela quem chamou a ambulância. Foi ela quem dormiu comigo de madrugada, quando eu sentia uma dor sobre-humana e, ainda assim, era incapaz de chorar. Foi ela quem me acordou nos dias seguintes e não deixou que a minha vida parasse completamente. Kiara não me deixou morrer. Mas, no meio disso tudo, houve um dia em que pedimos pizza e ela lembrou que eu não gostava de azeitona. Naquele momento eu soube que queria passar o resto da vida com ela – não necessariamente no sentido romântico. Passei todos os últimos 15 dias pensando nisso. E também pensava nisso enquanto eu a observava colocando, contra a própria vontade, pedaços de waffle na boca.
- Estou cheia – resmungou, empurrando o prato praticamente intocado pela mesa.
- Você não comeu nada – cortei o waffle com o talher. - Abre a boca.
- Não precisa me dar comida na boca, JJ. Eu não sou um bebê.
- Então não coma como um.
Um sorriso ergueu o canto da sua boca. Me debrucei sobre a mesa para tocar o seu rosto. Meu polegar deslizou carinhosamente pela sua bochecha, descendo pelo seu lábio inferior. Uma mancha arroxeada se formava pela sua mandíbula. Suspirei pesado.
- É sério – pigarreei. - Está tudo bem?
- Sim - deu de ombros, desconversando. - Quer dizer, depois de tomar tantos analgésicos, eu estou meio tonta, mas está tudo bem.
- Não quis dizer fisicamente.
Ela engoliu em seco. Eu não gostei.
- Sobrevivendo.
- Sobrevivendo?
– É.
Kiara ergueu a mão para morder o polegar, mas eu impedi. Ela fazia isso quando ficava nervosa. Não era constante, mas às vezes fazia. Fiquei brincando com seus dedos gélidos. Quis fazer todas as perguntas do mundo. Quis saber se estava magoada comigo. Quis saber se Sean tinha quebrado. seu coração na noite anterior. Quis saber tantas coisas.
- Kiara - expirei.– Quer conversar?
- Não – respondeu de imediato.
Meus ombros murcharam. Parte de mim esperava que Kiara ainda confiasse em mim o suficiente para compartilhar tudo o que a deixava triste – o que era irônico considerando que aparentemente fazia um bom tempo desde a última vez que ela foi honesta sobre tudo.
- Não?
- Não quero. Estou bem. São só... Dias difíceis – seus olhos desceram para as nossas mãos juntas na mesa. – Vou ficar bem.
- Eu sei – disse, beijando o dorso de seus dedos.
Seus braços me rodearam e eu instintivamente a puxei para perto. Ela acabou no meu colo, na mesa da cozinha, encolhida em meu peito como costumava fazer antes de nos tornamos essa bagunça irreparável de sentimentos. Roçando o nariz pelo seu ombro, inspirei o cheiro doce do seu shampoo. Apertei seu braço, esmagando-a contra mim.
- Eu faria de tudo para te proteger dessas merdas, Kiara – sussurrei, brincando com seus cachos.
Um momento de silêncio nos separou.
- Eu sei.
Com os dedos, afastei algumas mechas do seu rosto e encostei a testa na sua.
- Promete que sempre que estiver se sentindo mal vai me procurar? Nem que seja só pra.. Ficarmos em silêncio juntos.
Kiara acenou positivamente com a cabeça, seus dedos acariciando a minha nuca.
- Prometo.
Uns 10 minutos deviam ter se passado. Suas mãos ficavam subindo e descendo pela minha nuca e meus ombros e, as minhas, pela sua cintura. Quis perguntar se ela também sentia aquele ardor no peito toda vez que me abraçava.
- Deixa eu te levar para casa.
Kiara levantou, pegou suas coisas e seguimos para o carro. No meio do caminho, I Wanna Be Yours começou a tocar no rádio. Seria constrangedor se não tivéssemos acabado na cama algumas horas antes. Eu ri. Kiara também riu. Havia algo nostálgico em ouvir a música que tocava na primeira vez que tiramos a roupa juntos.
Estacionei alguns metros antes da entrada da sua casa.
- Não quer mesmo ir para a escola? – perguntei, meio preocupado.
- Não.
- Okay.
– Okay.
Sutilmente, enrosquei meus dedos nos seus. Percebi que tinha o péssimo costume de querer tocá-la o tempo inteiro.
- Então... Vai ter uma festa no sábado – comecei, pigarreando. - Eu estava pensando se você não queria.
- A Brooke me convidou – interrompeu. – Talvez eu apareça por là.
Recostei no banco. Sentia que eu não a via há anos e só haviam passado 15 dias.
- Quer ir para a praia sexta-feira depois da aula? - ela me surpreendeu.
- Só eu e você? – perguntei.
Ela assentiu.
- É, como a gente fazia.
Sorri.
- Eu passo para buscar você.
– Okay.
- Okay – repetiu.
Quase fiz uma piada sobre o filme ridículo - A Culpa É Das Estrelas- que ela me fez assistir alguns anos atrás, mas tive medo de que as coisas ficassem estranhas.
- Ei? – chamei ao vê-la descer do carro.
Kiara virou para mim.
- Não está esquecendo nada?
Ela sorriu sem jeito e subiu no carro pela segunda vez antes de beijar a minha boca suavemente.
- O que é isso? - perguntei, irônico, com os lábios grudados nos seus.
- Um beijo de despedida.
Então, saiu. Não sabia como aquilo poderia dar certo, mesmo assim mergulhei de cabeça.
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the deal - jiara!
FanfictionAutora: Becky. Twitter: @rafefode. . kiara está decidida a perder o 'cartão v' até o baile de formatura. é por isso que decide ignorar completamente a regra "pogues não se pegam" e sugerir um acordo ao seu melhor amigo - e maior cafajeste de outer b...