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- Então, qual melhor amigo você quer que eu seja hoje? – perguntei, parando ao lado da cama com um copo de milkshake de qualidade duvidável e dois sacos de batatas fritas com óleo suficiente para fritar um frango inteiro.

Minha voz reverberando pelo quarto foi o suficiente para que Kiara erguesse os olhos escuros. Bem, bem escuros. Talvez fosse pelas olheiras fundas de uma noite em claro. Nunca fui de reparar muito em alguém.

- O quê?

- Você quer a minha versão que te dá cafuné e te deixa assistir o que quiser ou a que te dá os melhores orgasmos da terra?

Meu braço foi atingido no segundo seguinte por um punho ossudo e incrivelmente forte. Quase derrubei todo o milkshake em cima da cama.

- Cacete, você...

- Você só me deu um orgasmo, não se gabe muito.

Dei de ombros, colocando a nossa comida na cômoda ao lado.

- Poderia dar outro - respondi enquanto tomava o lugar ao seu lado, puxando o cobertor felpudo para cima de nós dois. – Estamos no momento perfeito para isso.

Ofereci uma piscadela, mesmo sabendo que levaria outro soco, mas ele não veio. Na verdade, Kiara riu, brincando com a linha solta da coberta e então ficou séria novamente. Merda, eu sabia o que significava. Conhecia Kiara o suficiente para saber quando estava em um momento de merda. E esse era o momento.

De alguma forma sobre-humana, aquilo doía em mim. No sentido literal. Meu peito se apertava com o sorriso quebrado que ela tentava me oferecer mesmo nos piores momentos.

- Quer conversar sobre o que aconteceu?

Um suspiro. Uma negação. Foi tudo o que recebi.

- Certo - pigarreei, passando o braço ao redor do seu ombro e puxando-a para o meu peito.

Como em todas as vezes em que acabamos assim, Kiara afundou o rosto em meu moletom e se agarrou ao meu corpo como um coala se à mãe. Era engraçado e meio fofo. Naquela posição, conseguia sentir o cheiro doce do seu shampoo. Frutas vermelhas. Ou baunilha. Não fazia ideia, mas era bom. agarra

- Está confortável? - perguntei.

- Muito - sussurrou, jogando as pernas no meio das minhas.

Fiquei encarando o teto do quarto escuro por uns 5 minutos. Quando senti sua respiração ficando mais calma e os músculos relaxarem em cima do meu corpo, levei os dedos para o meio dos seus cachos e deixei que dormisse tranquilamente no meu peito - mesmo que isso deixasse o meu braço dormente.

☁️

Depois de acordar, Kiara tomou um banho e vestiu suas roupas. Ainda nos restavam uns 40 minutos de sobra até que efetivamente desse o horário da saída, então continuei atirado na cama, tomando goles pequenos de milkshake para que ela não percebesse...

- Ei, seu idiota egoísta – berrou, atirando um travesseiro na minha cabeça.

Soltei uma risada, deixando o copo de lado quando Kiara pulou em cima de mim. Seus cabelos cacheados estavam encharcados e ela espirrou água por todos os lados.

- Vai se secar em outro lugar, totó - resmunguei, trocando de posição.

Merda.

Eu deveria imaginar que isso daria muito errado, considerando as nossas últimas experiências em cima de uma cama. As memórias me atingiram com força. Minha mão se movimentando nela, seus gemidos no meu ouvido, seus dedos cravados no meu ombro com força suficiente para deixar marcas pelos próximos 5 dias... E, cacete. A sua boca. Era força suficiente para deixar marcas pelos próximos 5 dias... E, cacete. A sua boca. Era surreal.

Ela pareceu não perceber o meu lapso de consciência porque estava ocupada demais gargalhando.

Precisei de muito esforço para me afastar e recuperar a postura.

- Está melhor? – perguntei com a voz rouca, esfregando o polegar no seu pulso carinhosamente. Kiara assentiu, os olhos cintilando sob os cílios grossos.

- Estou - respondeu, parando de rir aos poucos. - Obrigada.

Um suspiro aliviado e sutil saiu pelos meus lábios. Durante todas as minhas crises com Luke, quando eu não sabia como lidar, Kiara era âncora que me segurava na superfície, impedindo que eu afundasse de uma vez só. Queria ser o mesmo para ela.

Estiquei o corpo para pegar um saquinho de batatas e, quando abri, não comi imediatamente. Ofereci para Kiara primeiro.

E foi nesse momento em que eu percebi que pensava nela primeiro com muito mais frequência do que imaginava.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora