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A noite estava fria quando JJ me recebeu, beijando meus lábios com tanta voracidade que minhas pernas enfraqueceram. Me senti como na primeira vez em que ele me beijou: como se meu coração estivesse flutuando. Trôpego, ele me segurou firmemente pela cintura e empurrou contra a cama. Os dedos calejados percorreram a minha coxa, fazendo uma onda de calor me consumir e, sem qualquer cerimônia, ele deslizou em mim com brutalidade. Suas mãos se fecharam na cabeceira e, toda vez que estocava, meu corpo subia e nossas peles suadas escorregavam uma na outra. Sussurrei seu nome tantas vezes que as paredes devem ter memorizado, mas JJ não olhou nos meus olhos. Ao invés disso, seus olhos estavam percorrendo o meu corpo e a mandíbula dele, travada.

Perdi o fôlego quando a sua mão agarrou meus dois punhos e os prendeu acima da minha cabeça. Queria tocá-lo em todos os lugares ao mesmo tempo, mas havia algo de muito sexy em não poder. Ele estava distante e eu não conseguia beijá-lo, então me contentei em morder os próprios lábios a espiral de prazer subiu pelo meu corpo, incontrolável e trêmula. JJ veio logo depois, mas não deitou em cima de mim. Ou me beijou. Ou me tocou.

Levei a mão até o coração só para sentir os batimentos instáveis. Ofegante, sorri para ele.

- Deus... Isso foi... Incrível – sussurrei, tocando os lábios dele com a ponta dos dedos.

Mas ele não respondeu. Ao invés disso, JJ se afastou bruscamente e sentou na cama, vestindo a samba canção.

- Vai embora.

O quê?

Eu não devia ter ouvido direito.

Puxei o lençol para cima do meu corpo e sentei na cama, fechando os dedos com força.

- O quê?

- Vai embora, Kiara. Você já conseguiu tudo o que queria. Você transou comigo.

Meu coração disparou de novo, mas agora por um motivo muito diferente. Meu Deus... Que porra ele estava falando?

- J, por que você...

- Sabe que é irônico de verdade? – perguntou, rindo consigo mesmo enquanto olhava para as paredes. – É pensar que até semana passada fazíamos planos sobre morar juntos e hoje eu sinto que nem te reconheço mais.

Mais do que ninguém, eu sabia que palavras poderiam machucar. Cresci em uma casa onde meus pais não sabiam o peso das próprias palavras.

Só que as de JJ doeram muito, muito mais.

- Por que você está falando desse jeito?

- Você nem imagina, né? - ele passou a língua pelo lábio inferior.

Eu devo ter parecido confusa demais porque ele prosseguiu:

- Nada sobre "preciso dar um ponto final nas coisas antes que ele se apegue"?

Parei de respirar.

Meu Deus.

Engoli em seco, nervosa.

- Como você...?

- Ele é o cara com quem você dança na frente de todo mundo, é o cara que você beija nas saídas de festas e eu sou o quê? O cara a quem você recorre de madrugada? Para transar?

Eu reconhecia aquela sensação das vezes em que acabei encolhida no meu quarto quando as coisas desmoronaram entre nós. E eu a odiava tanto.

- JJ.

- Eu vi tudo - sussurrou, seus olhos pareciam cheios de dor. - Eu sinto muito, mas eu vi tudo. Sua conta privada. Ela estava aberta e eu a encontrei. Nunca quis te constranger ou... Qualquer coisa do tipo.

Não.

Eu não ouvi direito. Não podia ter ouvido direito. Passei muito tempo tentando processar.

Fiquei me perguntando como era possível as coisas mudarem tanto. Em um segundo eu estava tendo um dos melhores momentos da minha vida e, no outro, a nossa confiança estava se espatifando bem no meio dos nossos pés.

- Você esteve lendo todas as coisas que eu desabafava na minha conta esse tempo inteiro?

JJ riu, mas era amargo e doloroso, como espinhos perfurando meu peito, meus ouvidos e todo o resto.

- De tudo o que eu disse, foi com isso que você se importou?

Senti como se eu tivesse levado um tapa, mas eu estava furiosa. Onde estava a porra da confiança que cultivamos durante todos os anos? E...

- Meu Deus. Foi por isso que você apareceu na cafeteria? No dia em que eu saí com o Sean?

JJ passou a mão nos cabelos.

- Será que você consegue ao menos se ouvir? - perguntou.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu estava envergonhada, frustrada e magoada. Tudo ao mesmo tempo. Me apressei a procurar a minha camisola enfiada no meio dos lençóis e vesti.

- Você disse que tinha sido coincidência, JJ. Você mentiu para mim - berrei, levantando da cama aos tropeços.

- o que isso muda? – esbravejou. – Você estava com ele. Você beijou ele. Você... Você quebrou a porra do meu coração, Kiara.

Foi a primeira vez que eu o vi chorar e, por mais que estivesse despedaçada por dentro, doeu muito mais vê-lo chorar.

- Na primeira vez eu não deixei claro, então vou dizer agora – aqueles olhos azuis inundados por lágrimas subiram até os meus. - Eu estou apaixonado por você, Kiara. Completamente apaixonado. Não aguento mais lidar com isso de forma casual. Não consigo mais ficar com você sabendo que outras mãos vão estar te tocando daqui a 5 minutos. Eu não consigo mais, então.. Por favor, eu imploro, se você não sentir o mesmo, pode ir embora. Se você não sentir o mesmo, pode sair pela porra daquela porta, porque eu não aguento mais fingir que está tudo bem.

A primeira lágrima escorregou pela sua bochecha vermelha acompanhada de um soluço. Foi quando eu o vi – não JJ Maybank, mas o meu pai. Vi minha mãe e todas as noites de angústia. Eu vi as lágrimas silenciosas em que me desmanchei por longas madrugadas, vi a dor e o desespero de corações torturados por escolhas erradas, eu vi tudo de que eu tentava fugir bem na minha frente. "Quando você ama alguém, precisa saber a hora de ir embora". As palavras do meu pai rodearam a minha cabeça e a realidade me acertou como um soco na boca do estômago.

Eu tinha nos estragado.

- Não era para você – sussurrei.

E saí pela porta.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora