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Era estranho pensar que houve um momento na nossa amizade em que JJ não me olhava como se estivesse prestes a me beijar. Só que também era pensar em como tínhamos chegado àquele ponto – o acordo, as regras, as exceções e, no final, as lágrimas. Eu não sabia o que éramos e ele soubesse porque, mesmo que estranho duvidava que acabássemos dividindo uma cama no fim da noite, ainda havia um muro de dúvidas entre nós. Nunca consegui pensar muito no meu futuro, mas era perfeitamente capaz de enxergar o destino que JJ - e merecia. Uma família, uma mulher queria que o amasse, filhos, um relacionamento estável com o pai e um cachorro – porque ele era alérgico a gatos.

JJ se esgueirou entre o mar de estudantes e me puxou.

- Você está com aquela cara - disse, pousando as duas mãos na minha cintura.

Revirei os olhos e sorri ao mesmo tempo.

- Não é nada – desconversei, franzindo o nariz.

Seu olhar subiu pelo meu rosto, profundo e intenso, como se cavasse as camadas das minhas expressões em busca de sinceridade. Fiquei constrangida. Na verdade, me sentia constrangida sempre que ele me olhava por muito tempo.

- Tem certeza?

Acenei com a cabeça e aproveitei a curta distância entre nós para passar os braços ao redor do seu pescoço. Não demorou muito até que eu sentisse suas costas se relaxarem sob as minhas mãos.

Fiquei ali, como rosto afundado em seu ombro, apreciando a sensação doce de estar longe de casa. Nunca pensei que me sentiria aliviada fora do meu quarto, do meu cobertor quentinho e dos livros que passei a devorar desde que as coisas se tornaram tão dolorosas, mas era como se eu estivesse redescobrindo a respirar. Por mais que odiasse assumir isso em voz alta, a presença dos meus pais me sufocava. Àquela altura, eu não conseguia mais existir sem o medo de estar fazendo algo errado. Mas desde que tínhamos cruzado a fronteira dois dias atrás... Eu me sentia uma folha em branco. Não ansiosa ou limitada.

- Vem aqui, princesa. - sussurou, me puxando sutilmente até o banheiro.

No caminho, ele agarrou a alça da mochila de couro em cima da mesa onde os meninos conversavam e trouxe consigo. Eu me sentei na pia de mármore e JJ ficou parado na minha frente, coçando a própria nuca de um jeito fofo - e nervoso.

- O que foi? – perguntei, tocando em seus braços.

JJ subiu a mão pela minha coxa, ainda sem qualquer segunda intenção. Os anéis roçaram pela minha pele e eu segurei seu punho. Não sabia quem ele estava tentando distrair.

- Eu te comprei algo – disse. – Mas agora tenho medo de ser muito idiota.

Soltei uma risada baixinha e suas bochechas ficaram vermelhas.

- O que você comprou?

- Isso aqui – ele enfiou a mão dentro da bolsa.

Meu coração deu uma guinada quando vi a dedicatória grudada com fita adesiva na superfície dos dois CD's.

A primeira dizia:

Não sou bom dando presentes ou fazendo cartinhas à mão. Tenho a sensação de que pareço um bobo, mas não me importo em fazer papel de bobo por você.

Esse é pra você se lembrar que, em algum momento da vida, todos nós nos sentimos meio perdidos.

JJ.


Eu entendi no momento em que absorvi as palavras. Lost Stars era a música que cantávamos um para o outro em momentos de crise. O gesto singelo me fez querer chorar. Peguei o outro CDe li dedicatória.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora