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Era noite e o píer estava vazio quando chegamos. Talvez porque a maior parte da população de Outer Banks estivesse mais interessada em trabalhar do que observar a lua numa noite escura em um cais cujo as ripas de madeira estavam caindo aos pedaços. Mas não eu e JJ. Não era como se aquele fosse o nosso lugar favorito. Era só... Legal? Na realidade, nem tínhamos um lugar favorito. Constantemente tinha a sensação de que, não importava onde estivéssemos, as coisas seriam boas se estivéssemos juntos. E realmente eram.

Tirei os sapatos e sentei na borda, colocando meus pés dentro do mar gelado e quieto. Poucas ondas quebravam na areia e a melodia era gostosa de ouvir. Ele veio logo atrás, tomando o espaço ao meu lado. Abrimos uma garrafa de vinho e tomamos em copos descartáveis vermelhos. Nada de taças ou glamour, mas era nosso.

Ficamos calados a maior parte do tempo. Comecei a pensar sobre o fim iminente de algumas coisas. Estávamos há poucos dias da viagem de formatura uns 10 ou 15 dias - e, depois, o ensino médio estaria oficialmente acabado. Acabado. Em 10 dias, eu não entraria mais pelos portões escola, não almoçaria mais com os meus melhores amigos e não teria que dividir meus lápis com JJ nunca mais - o que não era tão ruim assim, porque ele sempre mastigava a ponta deles. Sarah e John B passaram em Stanford. Rafe foi aceito pela UCLA. Brooke já estava com as malas prontas para viajar até o leste da Inglaterra. Pope ia para Yale em alguns dias e Cleo... Cleo se mudaria para Nova York em pouco tempo. Então, meio que seria o fim. Enquanto isso, eu sequer conseguia pensar no meu futuro sem sentir vontade de chorar.

- Você ficaria triste se eu morresse? - disparei, me inclinando para trás e apoiando todo o peso do corpo em meus cotovelos.

- Meu Deus, onde você arruma essas perguntas, Kiara?

Eu ri. Era uma pergunta meio mórbida e fora de contexto.

- Sei lá, eu estava pensando sobre o fim inevitável de algumas coisas - dei de ombros. - Nós literalmente nascemos para morrer. Ignoramos isso todos os dias porque é o mais saudável a se fazer, mas isso não muda as coisas. Elas são o que são. Posso morrer daqui a 10 anos ou... 10 segundos - suspirei. - Sou uma garota de 18 anos que nunca trabalhou na vida. Tudo o que posso deixar de legado são as memórias que colecionei com as pessoas.

JJ ficou brincando com os anéis em seus dedos, como se absorvesse cada palavra do que eu dizia. Então, ergueu aqueles olhos lindos para mim.

- É o impacto que você causa na vida das pessoas - sussurrou e, depois de um momento, encheu nossos copos até a borda e bebeu tudo de uma vez.

Eu o acompanhei, mas fiz uma careta quando o álcool queimou o caminho até o meu estômago. Ele ficou estranho, calado por um bom tempo. Dei um gritinho ao sentir os seus braços fortes me puxando para o seu colo.

- Por favor - sua voz saiu como uma súplica ao mesmo tempo que ele grudou os lábios na minha testa. - Vamos para Eastern. Vamos dividir um apartamento com fedor de mofo, comer pizza congelada quando for minha vez de cozinhar, vamos...

- Brigar porque você sempre molha o banheiro inteiro quando toma banho - completei, rindo baixinho enquanto rodeava seu pescoço com os braços.

- Eu juro que eu vou me esforçar - ele riu e tombou a cabeça para trás.

Passamos mais alguns minutos bebendo. O horizonte da lua encontrando o mar começou a ficar turvo e meu corpo fervilhava. Estava bêbada. Então, lembrei da carta. Quando recebi a notícia que tinha sido aceita, não mencionei com JJ por causa das circunstâncias. Mas agora...

- Eu fui aceita - disse.

JJ parou.

- O quê?

- Eastern. Recebi a carta há alguns dias - prossegui. - Eu entrei.

the deal - jiara!Onde histórias criam vida. Descubra agora