Cíntia
Seis e pouca da manhã de uma segunda-feira, estou eu saindo pra trabalhar, toda de uniforme, mochila nas costas e tal, tranquei o portão e vim andando pela rua quando ouço um homem me chamando.
Conheço essa voz desde que me entendo por gente, foi essa mesma voz que me escorraçou, que me humilhou e que eu nunca vou esquecer na minha vida, a voz do meu pai.
Cíntia - Fala Adalberto, mas não demora que eu tenho que trabalhar! _ falei firme.
Adalberto - Tu levou homem pra casa da tua avó ?
Cíntia - É da tua conta ?
Adalberto - Acho melhor tu respeitar a casa dela, lá não é puteiro! _ falou cheio de autoridade.
Cíntia - E muito menos eu a puta, o senhor me respeita porque eu não sou essas piranhas que você desfila na rua, tá ? Que moral que você tem pra falar de mim ? _ falei alterada.
Porra, só senti o impacto do tapa dele e fui pra trás, quando eu tomei tino pra revidar o Marquinho já foi pra cima dele, meteu-lhe um socão por dentro da boca do Adalberto que tirou sangue na mesma hora.
Os moleques da atividade já tavam vindo de bicho, mas ele disse pra não se meter que era assunto dele.
Marquinho - Se tu bater nela de novo tu não vai ficar nem vivo pra ela revidar, vou te furar na bala!
Ele nem falou mais nada, só olhou fundo nos olhos do Marquinho e foi embora pra dentro de casa.
Cíntia - Valeu meu amigo!
Marquinho - Nada não Kinha, ainda vou pegar esse arrombado na curva!
Cíntia - Marcos... _ adverti.
Marquinho - Humm, esse cara não me desce pô, ainda vou pegar ele bolado por tua causa e por causa da dona Silmara!
Percebi que não tinha como tirar isso da cabeça dele, conheço o Marcos desde nova, ela sabe um pouco do que eu passei com o meu pai, já viu minha mãe (Silmara) apanhar dele muitas vezes, impossível impedir o meu amigo de sentir revolta.
Acabou que ele me trouxe até na avenida e depois voltou pro morro, peguei o ônibus e fui trabalhar.
Passei o dia inteirinho pensando nisso. Sabe quando uma coisa acontece e ganha o poder de estragar todo o planejamento de um dia ? Foi isso que houve.
Eu acabei me lembrando dos meus tempos de criança, dos traumas e cicatrizes que carrego por conta disso, essa atitude dele funcionou como um gatilho pra tudo o que eu já vivi no passado.
Mas não me apego a isso, só vou fingindo que já não passei por nada nesse nível, dói menos!
Sinto falta da minha mãe e sei que ela também sente a minha, a gente era tão unida e até com isso ele conseguiu acabar, tinha ciúme do amor de mãe e filha.
Louco né !? Porém real!
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Real Essência - Finalizado
JugendliteraturNinguém mostra quem realmente é de primeira, as vezes a gente só descobre o verdadeiro "eu" de alguém quando passamos por um conflito. A vida nunca deixa de nos surpreender, de nos agredir, de nos ensinar, vivemos em constante evolução e nem sempre...