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Dois meses depois

Roger/Juruna

A pior coisa que um homem pode sentir é a sensação de perda da liberdade, é como se faltasse algo muito importante, quase igual a perder a própria essência.

Tô aqui já faz dois meses, aliás, tá fazendo hoje né !? Fico de cara em como que a minha obsessão por uma buceta específica pôde me levar tão longe.

Aqui dentro o bagulho é diferente, tenho minhas regalias, em regra de preso eu tenho todo um conforto, mas aqui eu não posso pegar meu carro e dá um rolê pela cidade, não posso ter um momento meu, porque de resto nada mudou.

Pra tristeza de uns e alegria de outros eu continuo sendo frente da favela, tenho sim o meu 02 lá fora, mando, mas a minha voz é ele.

Marquinho de início não queria, falou que a amizade dele com a mandadona lá era forte e os caralhos, vários bagulhos.

Mas se tem uma coisa que eu aprendi na pele com meu pai foi : "O homem pode ser leal, mas fidelidade é somente pelas suas ambições".

E foi o que aconteceu pô, quem não quer ter visibilidade ? Quem não quer ter dinheiro e respeito ? Pra quem passou aperto a vida toda não tem uma proposta de melhoria que não seja irrecusável. 

Com a Cíntia eu me resolvo quando sair daqui, vou gastar energia e muito menos dinheiro com ela agora, obsessão é foda, mas tem coisas maiores pra fazer.

Carcereiro - Levanta ladrão...

Roger - Por causa de quê ?

Carcereiro - Visita pra tu, parceiro das antigas!

Já levantei escaldado pô, meus parceiros da antiga nenhum podem sair livremente assim. Sou desconfiado pra caralho, não confio nem em mim quem dirá nos outros.

Palhares - Fala com os amigos mais não porra !? _ me olhou cínico.

Roger - Tu é meu amigo aonde ? Eu te pagava e tu trabalhava, trabalho esse que tu garoteou! _ rebati.

Palhares - Passado é passado Juruna, já foi pô!... _ deu uma pausa _ Eu vim falar outro bagulho contigo...

Roger - Fala porra, enrola não! _ sentei impaciente.

Palhares - É o seguinte, eu posso falar quem te deu pra gente, mas vai ter que ter um agrado! _ sorriu debochado.

Roger - Quanto e onde ?

Palhares - Dez mil! _ falou sem nem piscar.

Roger - Ambicioso! _ debochei.

Problema nenhum em tirar o dinheiro, isso é até pouco, tenho é bastante guardado com gente de confiança. O jeito dele é que me faz rir, se acha esperto, o foda, mas na arte da malandragem ele ainda é aprendiz. 

Roger - Pode falar pô, antes de tu chegar no último portão teu dinheiro já vai tá te esperando...

Palhares - Acho bom mesmo! _ foi marrento _ Foi tua primogênita, Paola... _ falou triunfante.

Porra, na mesma hora eu senti a porrada. Paola era tudo pra mim, minha vida, como eu mesmo disse : "Mato e morro por ela".

Esperava isso da Waleska ou de qualquer pessoa que me cerca menos dela, pelo visto juntei muita expectativa né !? Mas a vida é assim porra, ela não é primeira a me decepcionar/trair minha confiança e não vai ser a última.

Do Palhares eu já tava na reta a muito tempo, meu povo tá só na espreita esperando a hora de arrancar a cabeça desse filho da puta e pôr na bandeja.

Roger - Vou mandar liberarem teu pagamento _ sorri falso pra ele e levantei.

O guarda veio me buscar e eu voltei pra cela. Deixei as coisas ficarem tranquilas na galeria, botei os caras pra ficar de vigia e fiz a ligação.

Agora vai ser o certo pelo certo, quem deve paga!

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13/10/2021

Real Essência - Finalizado Onde histórias criam vida. Descubra agora