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RICHARD

-São 3 da manhã, Richard. Não podemos conversar em outro momento? - Ela se queixava.

-Se continuarmos adiando, vamos acabar juntos na mesma vala que estávamos ante, então a resposta é não.

-Sobre o que você quer conversar, então? - Ela passava a mão nos olhos com intuito de acordar.

-Tecnicamente ainda somos casados...em momento nenhum entramos com um papel de divórcio. 

-Era sobre isso? Amanhã eu converso com meus advogados. Boa noite, me deixe dormir.

-Não, Amy! Estou dizendo que merecemos uma segunda chance. Nossa relação merece um fim feliz depois de tudo que passamos.

-Richard, você errou muito mais que eu.

-Independente disso, nossos nomes estão manchados igualmente, ou você realmente acha que tem um futuro limpo pela frente? Você virou a vida por mim, não posso deixar que capote com ela de uma vez.

-Vamos ter esse bebe. Esse é o acordo, eu fico aqui até que ele nasça, mas depois eu sumo.

-Isso não é justo. Eu sou parte do sangue dessa criança, mereço fazer parte da vida dela!

-Você irá. Podemos revezar em meses e feriados.

-Não acho que isso vai funcionar por muito tempo. - Falei em tom baixo. Eu precisava revelar meu segredo para Amy, era agora ou nunca.

-Porque?

-Amy, eu não tenho tanto tempo de vida.

-Vaso ruim não quebra, Richard. A policia está na sua cola tempo suficiente para você decorar as técnicas de fugir. Nem me venha com esses joguinhos manipulativos. Eu não caio mais.

Tirei meu telefone no bolso e mostrei a ela um comprovante de pagamento de medicamentos. Aquela era a última remessa do mundo.

-O que é isso?

-Isso é o que me mantém vivo, ao menos me manteu nesses 30 e poucos anos.

Ela ainda me olhava com uma cara de desentendimento.

-Amy eu estou morrendo. Tenho no máximo mais 12 anos de vida. Quero passar esses anos na paz, após a morte irei sofrer muito. Antes eu queria estar apenas com meus amigos, mas eu ganhei a chance de construir uma família, quero construí-la com você. Quero acordar ao seu lado todos os dias, sentir sua pele, seus cabelos, seu corpo, seu toque e seu cheiro. Quero me levantar, descer para tomar um café e ver a paisagem mediterrânea. Quero ver nossa filha crescer, nem que seja só por um momento. Quero dar a ela as oportunidades que eu não tive. Quero que ela seja quem quiser. Amy, eu quero paz. Cansei da correria, já se foi o tempo em que o perigo era divertido e a adrenalina corria nas minhas veias. 

Ela tinha uma expressão de choque que ao mesmo tempo exalava surpresa e tristeza, mas parecia confusa.

-Richard... Você pode sustentar o preço do seu tratamento. Ou melhor, O QUE É QUE VOCE TEM? E PORQUE EU NUNCA SOUBE?

-Eu tenho desde pequeno uma deficiência cardíaca, a principio não se manifestava, mas após meus 25 anos ela foi ficando mais forte. Não tem cura mas seguia um tratamento incomum. O tratamento usual me mataria aos poucos, este que fazia, conteria a doença escondida para sempre...ou até o doutor responsável morrer. Foi isso o que aconteceu.

-Como assim?

-Eu costumava encomendar pílulas exclusivas para conter a doença, porém o especialista que me acompanhava acabou sofrendo um acidente, e levou seus conhecimentos para o túmulo. Eu já havia ordenado seu último carregamento, que deve durar por mais dez anos. Os outros dois serão da doença voltando mais forte para o meu corpo depois de ser contida por tanto tempo.

Enquanto eu falava ela tentava manter a expressão de preocupação, mas em um momento ela não estava mais preocupada, ela estava triste. Muito triste. Se aproximou de mim e me abraçou. Neste mesmo momento o bebe chutou arrancando um sorrisinho em meio de tanta tristeza. Eu amava Amy e senti que era recíproco ali mesmo.

-Quem mais sabe disso? - Ela olhou para mim perguntando.

-Chris e meus pais. Não pretendo contar a mais ninguém, o tumulto seria muito grande.

-E ela? - Amy falou apontando para a barriga.

-Você dará a ela o que ela quiser. Se quiser ser uma mafiosinha, tudo bem, seguir com o nome da família. Se ela quiser combater mafiosinhos, tudo bem também.


Eu dormi no quarto de Amy, ao lado dela. Seria como o sexo de reconciliação para alguns casais, e por mais que eu não resista tentações, aquele não era um bom momento.

Durante os  três meses que esperávamos a bebe, eu e Amy voltamos a ser como antes. Sempre nos amamos, aquilo era um drama grande (provocado por mim) mas conseguimos passar por isso. Estava tudo perfeito e o dia do parto chegava.

-Como você quer fazer? - Perguntei a ela enquanto caminhávamos em um dos litorais da Itália onde fomos passar um feriado.

-Conversei com Martina, e ela acha que eu deveria tentar o parto normal. - Ela disse. Martina era sua médica.

-Para quem já tomou um tiro isso não vai ser nada.

-Vamos ver.

Duas semanas depois nossa pequena nasceu. Ignoramos os nomes que tínhamos pensado antes.

-Margot. Esse vai ser seu nome. - Amy dizia enquanto a segurava nos braços.

-De onde você tirou isso? - Eu ri.

Ela apontou para um vaso de margaridas que estava no quarto.

-Margot é um belo nome. Eu amo margaridas e foram elas que me salvaram da dor, me distraíram o tempo todo. 

-Pensava que tinha sido eu, nem soltei sua mão mesmo você apertando ela. 

-Estava descontando minha raiva em você. - Ela brincou.

-Realmente, Margot é um belo nome, porém não é italiano. 

- Eu sei, mas estamos pertinho da França. - Amy não parava de sorrir. Que mulher!

Margot era linda, tinha o nariz de Amy e meus olhos. Sua pele parda remetia a suas origens latinas e seu cabelo era um ondulado preto. Ela era uma esperança. 

Margot Esperanza Bynes Camacho.

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⏰ Última atualização: Sep 22, 2021 ⏰

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FALLING - RICHARD CAMACHOOnde histórias criam vida. Descubra agora