CAPITULO 63

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Capítulo 63

O relógio já marcava mais de 18h quando Camila foi finalmente levada de volta para o quarto. Seu corpo ainda parecia pesado, os movimentos lentos e descoordenados. A fala continuava fraca, quase inexistente, e a frustração crescia dentro dela a cada tentativa falha de se mover.

Segundo os médicos, sua noite havia sido agitada. Seus batimentos oscilaram durante a madrugada, provavelmente reflexo do desespero silencioso que sentia ao tentar, em vão, recuperar o controle sobre seu próprio corpo.

A ausência de Daniela naquela manhã não passou despercebida. Camila imaginava que a enfermeira/fisioterapeuta não tinha permissão para entrar na ala da UTI, mas, ainda assim, sentiu falta de sua presença. Daniela era espontânea, engraçada... Sempre dizia algo inesperado, algo que a faria rir mesmo nos momentos mais difíceis. Teria sido bom tê-la ali para distraí-la.

A UTI era solitária. O único som constante era o bip ritmado do monitor cardíaco, lembrando-a de que estava viva... Mas, de alguma forma, ainda se sentia presa.

Os médicos perceberam sua inquietação e a medicaram para que descansasse. O efeito foi imediato. Dormiu durante todo o dia e nem percebeu quando a transferiram de volta para o quarto.

⋆﹡⋆

Acordou ao som de vozes baixas, um murmúrio familiar que preenchia o ambiente.

Abriu os olhos devagar e então o viu.

Luan.

Ele estava ali.

E, meu Deus, como estava diferente!

Não era mais aquele garoto de anos atrás. Estava mais forte, tatuado, o cabelo um pouco mais comprido, a barba preenchendo o rosto. Um verdadeiro homem.

Um sorriso nostálgico se formou nos lábios de Camila. Olhou para ele com saudade... e gratidão. Depois de tudo o que fizera, depois de todas as mentiras, ele ainda estava ali.

Luan segurou sua mão com delicadeza, os olhos brilhando com uma mistura de emoção e alívio.

— Que bom te encontrar assim. Eu sonhei tanto com esse momento...

Ela não conseguiu responder com palavras, mas deixou um pequeno sorriso escapar, como se dissesse: Eu também.

— Você não imagina o quanto estou feliz em saber que você está bem!

Camila piscou lentamente, retribuindo com o olhar.

Então, ele disse algo que fez seu peito apertar.

— Eu consegui recuperar nosso filho. Ele está bem. Está com saudades... E ele é lindo! Obrigado por ter me dado um garoto tão especial.

As lágrimas vieram sem que ela pudesse conter. Ouví-lo falar sobre Benjamin com tanto carinho e entusiasmo a emocionou profundamente.

Ela reuniu todas as forças que tinha para sussurrar:

— P... p... "pe... dão."

Sua voz saiu fraca, rouca, quase imperceptível.

Luan apertou sua mão e balançou a cabeça, negando com suavidade.

— Não devemos falar sobre isso agora — disse, a voz calma, serena. — Agora será tudo diferente. Eu prometo.

Ele sorriu.

— Não vejo a hora de te levar para casa. Tem uma pessoinha lá que me pede todo dia para vir aqui.

Camila fechou os olhos por um instante, permitindo-se sentir a promessa naquelas palavras.

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