Luan chamou por Camila, que, ainda sonolenta, abriu os olhos. Ele lhe entregou os remédios da noite, e ela os tomou um a um, sem dizer uma palavra. Eram quatro comprimidos. Quando terminou, lhe devolveu o copo com o restante da água.
— Tem certeza de que não quer beber o restante? — Luan perguntou, mas ela apenas negou com a cabeça, se aninhando novamente na cama.
— Está com frio? Quer que eu desligue o ar? — Ela balançou a cabeça em sinal de negação e se acomodou melhor no travesseiro.
— Vou deixar você descansar. Estarei por perto se precisar — disse Luan, beijando o topo da cabeça dela antes de se afastar.
Benjamin, já vencido pelo cansaço, dormia de forma torta na cama. Seu celular ainda estava em sua mão, exibindo a tela de "GAME OVER". Luan retirou o aparelho dos dedos do filho, colocando-o na mesa de cabeceira. Ajustou a posição de Benjamin, cobrindo-o com o lençol. Deu-lhe um beijo na testa e acariciou suavemente seu rosto. Em seguida, seguiu para o banheiro para uma ducha rápida, pois também estava exausto. Vesteu um calção de dormir e se deitou ao lado de seu filho, que mais uma vez estava atravessado na cama. Luan sorriu e o ajeitou, apagando o abajur em seguida. Olhou para o celular: 22h54.
Embora estivesse cansado, o sono não chegava. Zapeou pelos canais até encontrar algo interessante para assistir. O tempo passou rápido e, quando percebeu, já eram quase duas da manhã. Pegou novamente o celular e programou o despertador para as seis, o horário dos primeiros remédios de Camila.
Dias Depois
Camila apresentava uma boa evolução. Já conseguia falar melhor, mas ainda se sentia muito cansada depois dos exercícios de fala. O braço era o que mais a incomodava no momento, pois não conseguia levantá-lo ou fechar a mão sem que começasse a tremer. Isso a fazia depender da ajuda de Luan para tarefas simples, como comer, pentear o cabelo, escovar os dentes e se vestir.
Frequentemente, ele a encontrava sentada na cama pela manhã, chorando. Camila estava sendo acompanhada por uma psicóloga, mas Luan temia que ela se afundasse em uma depressão.
Hoje não foi um bom dia. Camila estava amuada, chorosa. Não quis comer muito, e Daniela, a fisioterapeuta, relatou que ela estava impaciente, ficando em silêncio durante os exercícios e atividades. Logo depois que Daniela foi embora, Camila pediu para se deitar no quarto.
Luan entrou e a encontrou assistindo A Culpa é das Estrelas, seu filme favorito.
— Posso? — Luan perguntou.
— Sim — Camila respondeu, sem desviar os olhos da tela.
— Quer conversar? — Ele sugeriu, mas ela falou baixo e devagar:
— Estou bem.
— Eu sei, mas você está triste.
— Cansada.
— Eu entendo, mas não podemos desistir agora, Camila.
— Não vou — ela garantiu, fazendo um sinal para que ele deitasse ao lado dela. — Fica aqui.
Luan se ajeitou e ficou ao seu lado, assistindo o filme. Acabaram pegando no sono.
Mais tarde, Luan acordou com um movimento estranho ao seu lado. Ascendeu a luz do abajur e viu que Camila ainda dormia, mas estava se debatendo. Ele se aproximou, tentando acalmá-la, mas logo percebeu que ela estava com febre.
— Meu Deus... — ele murmurou, em desespero.
Cezar, o médico, havia sido claro: qualquer foco de febre poderia ser perigoso para Camila, já que havia risco de convulsões. Luan entrou em pânico, chamando o nome dela.

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ABISMO
RomansaEla está afundando. Ele está brilhando. Mas e se, no fim, ambos estiverem perdidos? Camila sempre teve tudo: dinheiro, privilégios, excessos. Mas quem olha de perto vê as rachaduras - festas intermináveis, vícios perigosos, mentiras que a sufocam. E...