Capítulo 31

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Eu estava ligeiramente trêmula, apesar de fazer todo o esforço possível para não transparecer. Eu poderia esperar um par de coisas da minha estadia, mas com certeza não esperava um namorado. Muito menos um almoço com a família dele.
Hoje era meu dia de conhecer os pais de Arthur, eles abriram um espaço na "agenda mega fechada" (como a mãe se referiu) deles para me conhecer. O irmão dele, Erick, lembrava muito seu rosto, mas seus olhos não brilhavam, a não ser que ele estivesse provocando alguém (o que acontecia com certa frequência). Luísa e eu havíamos passado a noite anterior falando a respeito do amigo misterioso da Vanessa e sua também misteriosa amiga que perdeu um anel de esmeralda. Não é preciso dizer que Luísa queria arrancar minhas tripas por não ter contado pra ela sobre o meu anel (por mais que eu tenha tentado explicar pacientemente que não achei que teria muita relevância, visto que já eu não estava com ele na praia da concha no dia em que nos conhecemos). Tentamos achar o garoto no instagram, mas como Vanessa já havia dito que não sabia nenhum sobrenome e não pegou nenhuma rede social dele, obviamente não encontramos. Quantos Ottos havia num raio de 20 km? Mais do que o esperado, parecia.

Luísa queria procurar a noite toda, mas ambas sabíamos que, a menos que eu quisesse parecer um zumbi no primeiro encontro oficial com a família do meu namorado, eu precisaria dormir pelo menos 8 horas.

- Então seus pais são psicólogos- A mãe de Arthur falou, enquanto girava seu suco de maçã no copo e olhava pra mim como se pudesse sugar minha alma

- Sim- respondi, baixo demais

- É uma profissão em ascensão no mercado- comentou o pai, colocando mais do delicioso risoto de camarão no prato- tem muita gente precisando- um olhar significativo e preocupado para a esposa, sem que ela notasse

- Vem cá- Erick se dirigiu á mim, inclinando o pescoço pra me ver- eu só queria dizer que não é porque eu fiz tudo o que podia pro Arthur não namorar, que eu não goste de você. Se ele escolheu estar amarrado, tô do lado dele- disse, enquanto dava leves tapinhas no ombro do irmão, mas foi logo cortado por uma careta de dor. Só então notei o leve beliscão que Arthur deu nele- mas eu falei que até gosto dela...- a testa franzida de Arthur pra ele foi resposta suficiente

- Não sei por onde começar a me desculpar- ele disse baixinho, enquanto comíamos a torta de morango de sobremesa

- Não se desculpe até conhecer a minha, por favor- Ele riu, mas eu estava falando sério. Depois de ver que meus pais não tinham o menor pudor de chorarem copiosamente em público, eu poderia esperar qualquer coisa. A mãe e o pai de Arthur saíram assim que terminamos, ela me cumprimentando com beijinhos na bochecha, e ele com um abraço bem simpático. Mesmo quando estavam quase no fim das escadas, eu podia ouvir

"Vamos entrar nessa reunião atrasados, isso não podia acontecer, Rafael"

"São só três minutos de atraso, Marta. Tenha calma"

- Se meu pai não fosse calmo, acho que essa casa já teria ido pro chão- Arthur comentou

- Não sabia que eles tinham uma reunião hoje, devíamos ter marcado pra outro dia- Fiquei bastante incomodada, a sensação era de que estava atrapalhando

- Se você quer um dia que eles não tenham reunião, cunhadinha- Erick começava a subir as escadas com um pedaço gigantesco de torta num prato- vai ter que marcar pra outra vida.

Franzi a testa e escutei Arthur suspirando

- Eu odeio concordar com ele, mas é verdade- ele pegou minha mão- não se preocupe, você não atrapalhou nada

Por Água Abaixo Onde histórias criam vida. Descubra agora