"Eu entendi que você não queria beijar ele, mas vocês vão estar na mesma cidade, e outros caras podem ser sem noção assim também. Essa era uma das minhas maiores inseguranças, Ana. Não te contei pra não parecer que não confio em você, mas eu percebo que não posso confiar neles. Parece que são raras as pessoas que respeitam o relacionamento alheio. Aconteceu com você, poderia ter acontecido comigo. Aconteceu quando eu estava por perto, imagina longe? Saber que foi um mal entendido não torna o que eu vi menos doloroso."
Essas foram as últimas coisas que Arthur me disse antes de terminar comigo.
Não sei com que forças eu consegui chegar em casa e contar pra Luísa. Eu devo ter acabado com toda a água do meu corpo chorando. No final das contas, parece que não daríamos um jeito. Eu poderia querer culpar Arthur, dizer que ele não foi exatamente racional, mas ele foi. Doía, mas eu sabia. Aquilo nunca ia sair da cabeça dele. Nem da minha.
Otto tentou ligar algumas vezes, bloqueei o número dele. O bloquearia de tudo na minha vida, se fosse possível.
Como as coisas puderam dar tão errado? Em um minuto, eu estava feliz e confiante de que tudo daria certo, e em outro, vi tudo ir pelo ralo. Por água abaixo. Agora fazia todo o sentido.
Luísa primeiramente fez a ouvinte e tentou compreender o que eu dizia, mesmo eu explicando tudo muito rápido e estando uma pilha de nervos. Depois ficou nervosa e ameaçou jogar Otto no mar amarrado num saco de estepe por correntes com lâminas. Depois ameaçou fazer isso com Arthur, por ter terminado comigo. Por último, mas certamente não menos importante, fez a irmã mais velha (apesar de eu ser mais velha por uns meses) e me trouxe brigadeiros. Eu fiquei boas horas em silêncio depois que contei tudo á ela, assimilando.
Não ia conseguir viajar com eles. Não, nem nos meus piores pesadelos. Só não havia ligado para os tios de Otto para contar ainda porque não queria mesmo falar com ninguém que tivesse a ver com ele.
Sobre meus pais, eles tinham que entender. Talvez até se compadecessem e viessem eles mesmos me buscar, eu seria grata até o último fio de cabelo.
Vanessa ligou assim que soube. Disse que estava mais que aberta pra conversar, e que poderíamos ir a praia mais tarde. Aceitei. Talvez, com sorte, o mar me engolisse de novo.
Passei horas encarando o pingente que Arthur me deu quando me pediu em namoro, eu continuei usando como se aquilo fosse trazer ele magicamente de volta. Como se eu pudesse reviver aquele momento mil vezes e morar nele.
Faltando algumas poucas horas pra irmos, senti que precisava me movimentar. Não movimentar no sentido de fazer um ato heroico de auto piedade que salvaria minha história (como uma serenata brega na varanda de Arthur ou algo assim), mas movimentar de verdade. Eu precisava correr. Precisava esfriar a cabeça, sentir o vento me dar uns chacoalhões e me fazer sentir viva e com os pés no chão. Literalmente.
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Por Água Abaixo
Teen FictionE se, após uma tempestade caótica, você acordasse em uma praia deserta sem se lembrar de absolutamente nada da sua vida? Tendo certeza que é a pessoa mais azarada que poderia existir, Ana Alice embarca numa aventura - chamamos assim para dar um ar...