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MORENA.
Quarenta dias. Era esse o total que estava fazendo hoje, numa quarta-feira fresca parisiense. Pouco mais de um mês e eu já estava quase que inteiramente adaptada. Quase.

Eu ainda sentia falta dele.
Da sua risada grosseira ou de ver como ele ficava apreensivo quando assistiamos algum filme de comédia romântica e chega nas cenas mais quentes.

Eu estava me adaptando, sendo abraçada pela cidade mais linda do mundo (sim, na minha opinião e só ela importa). Mamãe ainda me liga todos os dias, agora não mais duas, três vezes. Apenas uma. Para de certificar que ainda estou viva e não me casei com um francês do qual eu nunca mais largaria para pisar um dos pés no Brasil.

Eu estava extremamente confiante no meu novo meio de trabalho, tinha total controle das minhas tarefas, textos, postagens ou qualquer coisa que me fosse ordenado a fazer. Tinha conquistado aos poucos a confiança de Natalie, minha nova supervisora e chefe e também estava bem confortável em me divertir com o Pierre.

Um louro, alto, magrelo e extremamente louco e engraçado. Ele custumava dizer que isso era o seu charme espanhol que ele usava sempre para acabar em uma cama com algum francês surrurando o nome dele. Eu fiquei rindo por tanto tempo disso que ele achou que eu iria me engasgar.

— Você rir tão alto, bransileira! — ele tentava se desenrolar no português, mas deixava tudo ainda mais engraçado. — Aquele carioca também? Também rir tão estridente?

Eu me calei no mesmo segundo.
Obvio que eu já tinha contado tudo sobre o Geizon para ele.
Obvio, depois de duas boas garrafas de vinho eu estava bêbada o suficiente para sentir saudade do meu índio carioca.

Me desfiz dos meus pensamentos quando vi Natalie se aproximando mais uma vez naquele dia, em minha mesa.

— Letícia, preciso que você faça-me um favor, querida!

Ela era brasileira, apesar de ter vindo para a França quando ainda bem nova e ter se casado com um francês legítimo, ela ainda mantinha seu português. Mesmo que mais formal.

Me prontifiquei de primeira, me levantando da mesa e já pegando meu bloco de anotações.

— Eu tenho uma entrevista, tinha... Tinha uma entrevista amanhã pela manhã. Mas aconteceu alguns probleminhas e preciso que Pierre e você vá em meu lugar.

— Claro, sem problemas. — olhei meu amigo que assentiu em seguida concordando comigo. — Onde iria ser e qual o horário, Natalie?

— Vai ser aqui mesmo, mas no quarto andar e está prevista para as duas da tarde. O jogador precisa ser liberado antes das cinco, ok?

Ouvir a palavra jogador fez meu coração de uma louca completa por futebol, acelerar, será que eu já começaria assim? Batendo os pés na porta e dizendo aos quatros ventos para o que vim?

— Tem algum pedido especial? — Pierre perguntou quando me viu ficar de boca seca.

— Não, querido! Como sempre o Ney é sempre muito tranquilo e simpático. Apenas vamos manter o mesmo de sempre.

Ney?
Ney de Neymar. De Neymar Junior?
Puta que pariu, caralho! Eu vou dar um troço antes mesmo de ver aqueles olhos esverdeados na minha frente.

— Ney... Tipo... Ahn, o Neymar Junior? Jogador do Paris? O que veio do Santos?

— Não sei se existe outro Neymar Junior, querida. Mas é esse! — Natalie riu baixinho e eu devia está com a maior cara de fã estérica.

Ela ainda deu algumas ordens mas eu deixei que Pierre lutasse e muito anotando, eu estava mais ocupada me jogando de volta na minha cadeira e tentando lembrar como fazer meu cérebro funcionar após descobrir que a primeira entrevista da minha carreira como jornalista seria com ele. O foda do futebol.

Deixe-me ir | XAMÃ Onde histórias criam vida. Descubra agora