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2 dias depois... PARIS
GEIZON
Eu nunca pensei que sentiria tanto ódio desses franceses do caralho, não prestam pra me dar uma porra de informação. Tomar no cu pô, tá achando que eu vou ficar falando de biquinho pra me entender? Ah, não fode!

Bonjour! — Anna me atendeu já me perturbando. — Consegui o nome do prédio dela.

— Até que enfim, caralho. E já tá de tarde pra você tá me dando bom dia, estrelinha cadente.

Aqui ainda é de manhã, seu fodido, da próxima não ajudo mais também. Otário. — ela reclamou e fez uma careta, eu suspirei esperando a sonsa me falar o nome do prédio. — Tá parecendo um estrangeiro com esse tanto de roupa e touca.

— Um frio do caralho, eu tô agoniado.

Claro que tá, né, Tarzan!

Ela me passou por mensagem o endereço do prédio e disse o andar, tudo por mensagem. Ainda ficamos nos falando um pouco e depois eu desliguei.

Catei minha carteira, a chave do quarto e desci. Pedi por um táxi na maior luta, a mina da recepção me olhava como se eu fosse um alienígena falando em inglês. Lerdona.

Paguei vinte euros na corrida, mais caro que o táxi que ficam no Galeão. Mas pelo menos não fiquei perdido na cidade, como fiquei ontem. Estava em frente ao prédio, finalmente. Internefonei e tentei desenrolar com o porteiro que depois acabou chamando o zelador que era brasileiro.

— Irmão, boa tarde... Eu quero subir no apê da Morena Letícia. — encostei mais minha boca para perto do aparelho do interfone e esperei ele responder. De onde eu estava, dava para ver uma movimentação lá dentro do hall do prédio.

Você tem autorização? Do dono do apartamento?

— Ah, não tenho. Eu quis fazer uma surpresa pra ela... Ela é... — engoli a seco, estalando a língua em seguida. — É minha amiga, tem muito tempo que não a vejo. E eu estava de passagem por aqui. Não queria perder a viagem, atoa.

Não posso autorizar. Eu já conferi seu nome na listagem e não tem nada lá. Sinto muito.

— Você não pode nem inernefonar lá no apê? Quebra essa aí pra mim, brother. Na moral mesmo.

Seu José acabou de fazer isso. Não foi atendido, provavelmente eles ainda não chegaram...

— Tranquilo, obrigado então. — tirei o dedo do aparelho e me afastei um pouco do portão, encarei o prédio e arfei.

Estava um frio do caralho, eu dei essa volta na cidade pra no fim nem conseguir conversar com ela. Ainda fiquei mais umas meia hora ali esperando, na esperança que ela ou o tal Pierre aparecesse. Mas não deu nada certo. Deixei o prédio para trás e andei um pouquinho, me sentei em um banco por ali e fiquei esperando. Não vou sair daqui por nada.

2 horas mais tarde...
MORENA.

Mercy! — eu agradeci depois de pagar pela corrida e voltei a prestar atenção no que o Júnior falava no ligação, enquanto eu desci do carro.

Um anel que tem umas pedrinhas em volta, ele é prateado. E um relógio.

Só essas coisas já dá pra vender e me aposentar. Perdeu jogador! — brinquei e ele deu risada do outro lado da linha. Eu apoiei o celular entre o ouvido e o ombro para abrir minha bolsa e buscar pela chave do portão do prédio.

É sério, amor. Ver pra mim e tô por perto, passo aí pra buscar.

— Eu vou ver bobo, eu te aviso tá? Esqueceu mais alguma coisa, Júnior?

Esqueci sim, meu coração. Aaaaí que dor! — escutei ele dando risada e eu daria também se não tivesse me travado inteira, deixado a chave cair e por pouco até minhas pernas não ficaram bambas. Não era possível. Não era.

Forcei mais os meus olhos, senti o suor escorrer da minha nuca e descer na espinha.

Morena... — escutei Júnior me chamando na ligação e eu desviei o olhar. Encarando o chão.

— Eu... Eu... Vou procurar e te falo, tá? — eu tentei não gagejar mas ficou ainda pior quando eu percebi que eu não estava vendo coisas. Ele tava bem ali e agora já tinha se levantado, percebendo a minha presença em poucos metros de distância e agora andava na minha direção.

Eu tirei o telefone da orelha, desliguei a ligação e engoli a seco, nem saliva pronta eu tinha ou se teve um dia, ficou completamente seca. Meu coração tava batendo forte de novo, como já tinha sentido há mais de dois meses quando eu contei a ele ou pelo menos tentei fazer ele entender tudo o que eu sentia.

Geizon parou na minha frente, deveríamos agora ter menos de vinte centímetros de distância e não mas aqueles dois ou três metros há poucos minutos, ou alguns países de distância.

— Oi. — sorriu largo e tentou se aproximar mais, para encostar a mão no meu rosto. Eu desviei dando dois passos para trás, tentando ter uma distância segura dele.

— Quem te deu o meu endereço e o que você veio fazer aqui? — perguntei de uma vez, ele ficou perdido. Os olhos se moveram de pressa e a boca entreabriu. — Me responde!

— Morena...

— Eu deixei claro naquelas mensagens que eu não queria que você me procurasse. Você não leu? — minha garganta tava rasgando, parecia que eu estava engolindo um monte de ferros pontiagudos enquanto falava.

— Eu vi! Claro que eu vi. Eu tentei ter contato contigo. Mas você me bloqueou de tudo. Tudo, Morena! Se não fosse por nossos amigos, eu não saberia nem mesmo se você estava bem... — ele disparou a falar e gesticulava, todo nervoso. — Eu tô aqui te esperando a mais de duas horas, a gente pode entrar e conversar?

Eu não estava entendendo, estava um frio absurdo, eu sentia o vento gelado na minha cara mas de dentro pra fora eu estava queimando, suando, talvez até em ponto febril. Eu vi o ar saindo da boca dele, enquanto ele falava. Estava frio de verdade, mas porque eu tô me sentindo com tanto calor?

— Não!

— Que? — ele quase gritou e eu recoei mais ainda.

— Você não vai subir. Você vai dar meia volta e ir embora. 

— Amor, não faz isso comigo.

— Vai embora, Geizon. Eu não quero falar contigo, não quero te ouvir. Não quero nada. Vai embora.

Não esperei ele responder, catei a chave do chão e dei uma volta só no portão, já abrindo e entrando de uma vez. Corri até o hall e entrei em tanto desespero que mal ouvia a voz do Geizon me chamando lá fora ou a do seu José me entregando recados, entrei no elevador que estava por algum milagre já ali, apertei o sexto andar e apertei muitas vezes no botão para o fechamento das portas.

Deixe-me ir | XAMÃ Onde histórias criam vida. Descubra agora