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MORENA.
Eu cheguei no apartamento sentindo meu peito se apertando cada vez mais e mais, comecei a me despir, me livrando do sobretudo e depois do casaco mais fino que usava, ficando assim só de camisa.

— Letícia? O que aconteceu, Cherry?

Eu tentei falar, tentei puxar o ar e as lágrimas já desciam sem controle nenhum. Eu estava sufocada, mesmo sem está com tantos panos em cima de mim, eu não conseguia, eu não conseguia nem pensar direito.

— Você.... Você está bem?

Ele se aproximou mais, ficando na minha frente e segurava meu rosto para olhar ele. Eu mal enxergava direito o Pierre na minha frente, as lágrimas deixavam tudo mais embaçado, mais desfocado, mais doloroso.

— Eu... Eu... Ele tava ali. Ali em baixo

— Ele quem, mi amor? Ele quem? O jogador, é ele? O que ele fez contigo, meu bem?

Eu neguei. Eu tentei gesticular, mas não tava conseguindo, me desvinculei dele me agachando para botar as mãos nos joelhos e tentar puxar ar para dentro de mim, mesmo que isso fizesse eu sentir como se tivesse socos disparados sem parar no meu peito.

— Puxa devagar... Devagar, Morena. Está muito rápido. — eu sentia ele afagando minhas costas, depois puxou meu cabelo para cima, o prendendo de qualquer jeito. — Mi amor, devagar.

Eu respirei fundo de uma vez, forte, sentindo todo meu corpo tremer. Eu me assustei com o soluço que dei com o choro e ergui o corpo devagar, tomando de volta o controle da minha respiração. Encontrei Pierre na minha frente com um copo com água. Bebi um pouco e respirei fundo, ainda que sentisse tudo tremendo e rodando a minha volta.

— Tudo bem, já está passando. Se senta aqui. — Pierre parecia confirmar mais para ele do que pra mim, me guiou para o sofá.

Me sentei, encostei todo o corpo no estofado, deixando a cabeça com o rosto para o teto e respirei mais devagar, parando o choro, os soluços aindam vinham fracos para me sacudir, mas pelo menos eu já não chorava mais e nem sentia o peito doer tanto.

— Eu tô melhor, amigo. Obrigada. — falei arrastado e encarei ele me olhando de olhos arregalados. — Desculpa te assustar.

— O que foi que aconteceu, mi amor?
os olhos azuis me olhavam com tanto cuidado que eu agradeci mentalmente por ter alguém como ele por perto. Apertei sua mão, que estava segurando a minha e ele continuava com os olhos em mim. — Quem estava lá em baixo?

— O Geizon.  — falei de uma vez e desviei o olhar. — Na verdade, ele ainda pode está lá. Eu não sei se ele foi embora mesmo, mas quando desci do táxi, ele estava ali naquele banquinho de madeira.

— Ele te machucou?

— Não! Não por fora, eu só não soube como agir, eu não... Eu não estava preparada pra ver ele assim, tão de repente.

— Se ele tentou subir antes, eu não ouvi, estava dormindo.

— Foi bom mesmo que ele não tenha conseguido, não sei se já tô pronta para uma conversa dessas. — eu sorri sem graça e o Pierre assentiu.

Saiu do meu campo de visão levando o copo de volta para a cozinha e eu passei o olhar pela sala e achei o relógio e o anel do jogador, em cima do aparador perto da porta.

— Faxinei a casa e achei caído debaixo da tua cama. Amiga, só o anel compra esse apartamento e ainda sobra troco pra gente dar uma voltinha nas Maldivas.

— VOCÊ PESQUISOU! — eu dei um berro começando a rir em seguida. Pierre assentiu como se não fosse nada demais. — E o relógio?

— Tem diamantes cravejados ali, você sabe disso? — ele apontou para o relógio e eu arregalei os olhos. — Pois é, bebê, faz o chá de calcinha de ouro e segura esse macho! Numa sentada você já garante uma pensão trilhionaria!

— Meu deus, eu tô me arrependendo de te ensinar as putarias em português.

— Como se precisasse né! Eu já namorei um brasileiro, esqueceu?

— Ah verdade! — eu suspirei. — Mas não vai rolar mais nada, não consigo.
Não posso cair de cabeça nisso.

— Preciso ver aquele carioca pessoalmente para ver se ele vale o posto de gostoso pra desclassificar o Neymar Junior!

— Para! Não é assim também. — eu mordi o lábio e pensei antes de falar e acabar piorando a mente do meu amigo. — Eles são diferentes.

— Tô sabendo, uns gemidão e os tapas que eu escutei não fez você se apaixonar no camisa dez.

Eu arregalei os olhos, ficando morta de vergonha. Joguei uma almofada nele e ele começou a gargalhar.

— Aí Pierre! Tchau, vou tomar meu banho!

GEIZON.

Quando eu cheguei no meu quarto do hotel, já comecei a me despir.  Mesmo que meu rosto fora queimado pelo frio lá fora e pelo tanto de tempo que eu fiquei esperando a Morena, eu estava agoniado. Precisei me livrar de todas aquelas roupas e tomar um banho frio para que esfriasse meu sangue que fervia, fazendo meu coração acelerar.

Sai do box, espirrando. Inferno!
Como se não bastasse ter feito de imbecil esperando ela, eu ainda ficaria doente aqui? É muito castigo, na moral. Eu não sei nem falar francês direito, como vou pedir algo numa farmácia?

Me sequei inteiro, enrolei a toalha na cintura e sai do banheiro cruzando o corredor e entrando na parte no closet. Puxei uma samba-canção da mala e vesti, estendi a toalha numa das portas do guarda-roupas. Espirrei de novo.

— Mas que caralho! — espirrei pela terceira vez e já senti o nariz se entupindo.

Peguei dois becks que estavam já pronto pra fumar e sai de dentro do closet. Acendi um e pendurei o outro na orelha. Não era remédio, mas iria curar outro tipo de incomodo.

Peguei um vinho de dentro do frigobar, abri e me joguei na poltrona começando a beber direto da garrafa, enquanto entrava um ar por uma das portas abertas da sacada.


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