CAPÍTULO DOIS.

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No dia seguinte fui almoçar com Mild e Boat. Eu queria ficar sozinho, mas conforme os alunos foram entrando no refeitório as cadeiras a minha volta foram ficando cheias dos amigos da fraternidade do Boat e dos membros de luta.

- Boat – Disse alguém que passava.

Boat assentiu e tanto Mild quanto eu nos viramos e vimos Mew se sentando em um lugar na ponta da mesa. Duas pessoas, até que bonitos, estavam acompanhando Mew.

Um deles se sentou no colo do Mew e uma moça se sentou perto dele acariciando os seus braços.

- Acho que acabei de vomitar um pouquinho – murmurou Mild.

O rapaz que estava no colo do Mew se virou para Mild e falou:

- Eu ouvi o que você disse, viu seu maluco.

Mild pegou um pãozinho e o jogou errando por muito pouco o rosto do rapaz. Antes que o menino pudesse dizer algo mais, Mew abriu as pernas e o rapaz caiu no chão.

- Ai! – disse ele em um grito agudo erguendo o olhar para o Mew.

- O Mild é o meu amigo. Você precisa encontrar outro colo para se sentar.

- Mew! – Ele reclamou, esforçando-se para ficar em pé.

Mew voltou a atenção para o seu prato ignorando o garoto que olhou para irmã e bufou de raiva. Os dois foram embora de mãos dadas.

Mew deu uma piscadela para Mild, como se nada tivesse acontecido e enfiou mais uma garfada na boca. Foi aí que notei um pequeno corte na sobrancelha dele. Ele e Boat trocaram olhares de relance e então ele começou uma conversa com um dos caras da luta e de uns caras que jogavam bola do outro lado da mesa.

Embora a quantidade de pessoas na mesa estivesse diminuindo, Mild,  Boat e eu ficamos lá ainda um tempo para discutir nossos planos para o fim de semana. Mew se levantou como se fosse embora, mas parou na nossa ponta da mesa.

- Que foi? – Boat perguntou em voz alta colocando a mão perto do ouvido.

Tentei ignorá-lo o quanto pude, mas quando ergui o olhar, Mew estava me encarando.

- Você conhece ele Mew. O melhor amigo do Mild lembra? Ele estava com a gente na outra noite – Disse Boat.

Mew sorriu para mim no que se presume, ser sua expressão mais charmosa. Ele transbordava sexo e rebeldia com aqueles antebraços tatuados e os cabelos pretos vem cortados.

- Desde quando você tem um melhor amigo Mild? – Perguntou Mew.

- Desde o penúltimo ano da escola – Mild respondeu pressionando os lábios enquanto sorria na minha direção. – Você não lembra Mew? Você destruiu o moletom dele.

- Eu destruo muitos moletons.

- Que nojo – Murmurei.

Mew girou a cadeira vazia que estava ao meu lado e se sentou descansando os braços a sua frente.

- Então você é o girassol, né?

- Não – Respondi com raiva – Eu tenho nome.

Ele parecia se divertir com a forma como eu o encarava, o que só servia para me deixar mais irritado.

- Tá. E qual é seu nome? – Ele me perguntou.

Dei uma mordida no que tinha sobrado da maçã no meu prato ignorando-o.

- Então vai ser girassol – Disse ele dando de ombros.

Ergui o olhar dele para Mild e depois me virei para o Boat:

- Estou tentando comer.

Ele topou o desafio que apresentei.

- Meu nome é Mew. Mew Suppasit.

Revirei os olhos.

- Sei quem você é.

- Sabe é? – Mew falou, erguendo a sobrancelha ferida.

- Não seja tão convencido. É difícil não perceber quando cinquenta bêbados entoam seu nome.

Mew se endireitou na cadeira ficando um pouquinho mais alto.

- Isso acontece muito comigo.

Revirei os olhos de novo e ele deu uma risadinha abafada.

- Você tem um tique?

- Um que?

- Um tique. Seus olhos ficam se revirando.

Mew riu de novo quando olhei com ódio para ele.

- Mas são olhos incríveis – Ele disse, inclinando-se e ficando a pouquíssimo centímetro do meu rosto. – De que cor eles são? Castanhos?

Baixei o olhar para o prato criando uma espécie de cortina entre a gente com a minha mecha de cabelo que insistia em cair. Eu não gostava da forma como ele me fazia sentir quando estava tão perto. Não queria ser como os outros milhares de garotos e garotas da faculdade de Thonburi que ficavam ruborizados na presença dele. Não queria que ele mexesse comigo daquele jeito. De jeito nenhum.

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