CAPÍTULO SEIS

442 76 3
                                    

Passei por ele pisando duro e entrei no restaurante. Minha cabeça não estava muito em sincronia com meus pés. Um cheiro de gordura e ervas enchia o ar enquanto eu o seguia pelo carpete vermelho, sujo de migalhas de pão.

Ele escolheu uma mesa no canto, longe dos grupos de alunos e das famílias, e então pediu duas cervejas. Fiz uma varredura no ambiente, observando os pais que tentavam persuadir os filhos barulhentos a comer e desviando dos olhos curiosos dos alunos Thonburi.

- Claro, Mew. – disse a garçonete anotando nosso pedido.

Arrumei os meus cabelos bagunçados pelo vento e ajeitando as minhas roupas com vergonha da minha aparência.

- Você vem sempre aqui? – Perguntei em tom áspero.

Mew apoiou os cotovelos na mesa e fixou os olhos preto, parecendo um felino, em mim.

- Então qual é a sua história? Você odeia homens em geral ou é só comigo?

- Acho que é só com você – Resmunguei.

Ele riu divertindo-se com o meu estado de humor.

- Não consigo sacar qual é a sua. Você é o primeiro garoto que já sentiu desprezo por mim antes do sexo. Você não fica todo desorientado quando conversa comigo e não tenta chamar minha atenção.

- Não é uma manobra tática. Eu só não gosto de você.

- Você não estaria aqui se não gostasse de mim.

Involuntariamente minha testa franzida ficou lisa e soltei um suspiro.

- Eu não disse que você é uma má pessoa. Só não gosto de ser tratado de determinada maneira como se só fosse um pedaço de carne, como se fosse só para usar e descartar.

E me concentrei nos grãos de sal na mesa, até que ouvi um ruído vindo da direção do Mew, parecido com um engasgo.

Os olhos dele estavam arregalados e ele tremia de tanto rir.

- Ah, por Buda! Assim você me mata! É isso aí! A gente tem que ser amigos. Não aceito não como resposta.

- Não me incomodo em sermos amigos, mas isso não quer dizer que você tenha que tentar transar comigo a cada cinco segundos.

- Você não vai para cama comigo. Já entendi.

Tentei não sorrir, mas falhei. Os olhos dele ficaram brilhantes.

- Eu dou a minha palavra. Não vou nem pensar em transar com você... A menos que você queira.

Descansei os cotovelos na mesa para me apoiar.

- Como isso não vai acontecer então podemos ser amigos.

Um sorriso travesso ressaltou ainda mais suas feições, quando ele se inclinou um pouquinho mais perto de mim.

- Nunca diga nunca.

- Então qual é a sua história? – Foi minha vez de perguntar. – Você sempre foi Mew “Cachorro louco" Suppasit ou isso é só desde que veio para cá?

Usei dois dedos de cada mão para fazer sinal de aspas no ar, quando mencionei o apelido dele, e pela primeira vez sua autoconfiança diminuiu. Mew parecia um pouco envergonhado.

- Não. Foi o Adam que começou com esse lance do apelido depois da minha primeira luta.

Suas respostas curtas estavam começando a me incomodar.

- É isso? Você não vai me dizer nada sobre você?

- O que você quer saber?

- O de sempre. De onde você veio, o que você quer ser quando crescer.... coisas do tipo.

A APOSTA Onde histórias criam vida. Descubra agora