Regra Número 3:

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🟦 ̶N̶ã̶o̶ encare estranhos pensando que é seu professor

Abri o aplicativo de listas e risquei mais uma tarefa, era satisfatório ver aquilo, me dava uma sensação de controle e organização. O último ano tinha sido crucial para que eu me tornasse essa pessoa metódica, ou pelo menos, que tentava ser. A perspectiva de entrar em uma universidade pública me açoitava por todos os lados na escola anterior, eles nos instigavam a sermos os melhores e eu adorava isso, sabia o quanto estava sendo benéfico para minha aprovação. Então, como a escola exigia tanto de nós, comecei a montar listas para me orientar ao longo da semana, gostei tanto disso que hoje não vivo sem. As vezes, levo o nome de controladora pela minha mãe, mas não é isso, eu sou apenas uma pessoa organizada.

Pérola, minha amiga, parou de caminhar e sentou na grama sob uma árvore, eu a acompanhei. Observei um grupo de pessoas passarem por nós correndo, aquele lugar era muito usado para seus treinos diários.

- Está conseguindo se organizar? Quando começam as provas? - Questionei Pérola que arrancava as cascas velhas e ressecadas da árvore.

- Estou sim, é muita coisa, mas tá fluindo. Semana que vem já começam os testes. - Disse ela com ar distante, mas logo voltou-se para mim com olhos brilhantes e bateu com as palmas nas coxas - nem te conto! Sabe a Sabrina?! Tá saindo com o Pedro Lucca!

Arregalei meus olhos em total surpresa, nunca imaginaria um casal tão sem química.

- Pois é, menina! E a Ana tá convidando geral para o aniversário dela de quinze anos, me deu um convite, mas não sei se vou, não...

- Todo mundo? - Me peguei repetindo.
Ela assentiu. - É, quer dizer, todo mundo da sala, Alice...

Pérola percebeu que eu tinha ficado chateada por ter sido deixada de fora da festa de Ana, festa essa que ela tinha sentado comigo na cantina da escola no ano anterior, toda animada, escolhendo as cores e detalhes e, naquele momento nem comigo falava, muito menos, me enviou um convite.

Pérola continuou me atualizando das fofocas da escola de freiras, ela e eu nos conhecemos na escola no ano de, se não me engano, 2012 quando estávamos na sétima série e nunca mais nos desgrudamos.
Ela era a única amiga da minha escola antiga que fazia questão de manter contato comigo, porque os demais, as vezes, comentavam em alguma foto minha, mas não passava disso. As atualizações que Pérola me trazia, naquele dia, estavam todas entrando por um ouvido e saindo pelo outro, aquele contexto já não me pertencia mais, meus pais tinham me tirado dele e quem eu achava que eram meus amigos, tinham me enxotado.

- E aquele menino novo da sua sala, amiga? - Questionei ao lembrar que na semana passada ela não parava de falar nesse garoto paulista que tinha se mudado para a cidade esse ano.

- É Prato disputado, Alice e esse tipo a gente deixa para quem tá passando fome!
Eu caí na risada, Pérola saia com cada uma. - A irmã Tomé está bem?

- Está, daquele jeito - ela imitou a cara de ranzinza da freira. - perguntou por você... Acho que foi ontem, queria saber onde você estava estudando.

- Otacílio... - Murmurei. Lembro que as freiras administradoras da escola que eu frequentava chegaram a baixar o valor da mensalidade para que eu permanecesse lá, mas pouco adiantou a oferta das irmãs, acabei saindo.

Algumas pessoas passaram correndo ao nosso lado, como em uma procissão apressada. Foquei minha visão ao longe, tinha um homem caminhando do outro lado do parque que lembrava demais o professor irresponsável-De-história.

- Que foi? Tá com esses olhos apertados tentando ver o que? - Questionou Pérola aproximando a cabeça da minha e olhando na mesma direção.

- Aquele cara parece meu professor.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora