Fiz uma nova etiqueta e colei na pasta, ficou aceitável, pelo menos daria para me organizar. Olhei ao redor procurando os papéis que tinha separado para guardar, peguei o montinho, alinhei as folhas e enfiei nela. O dia estava finalizado e tudo que queria era deitar bem aninhada aos lençóis para um sono gostoso, mas gritos logo me fizeram perceber que essa seria mais uma daquelas noites.
Poderia ter colocado uma música nos fones e tentado dormir, mas escolhi sair sorrateiramente do quarto e me esgueirar até o corredor que dava para a sala. Grudei as costas na parede para que eles não notassem minha presença. A cena eu já tinha visto antes: meu pai gritando e gesticulando e minha mãe em sua frente gritando tanto quanto ele. Isso tinha se tornado frequente nos últimos meses, meus pais brigavam quase sempre que estavam juntos. A energia da casa tinha se tornado pesada, era desgastante.
— Se não tá bom para você, por que não acabamos? — Berrou minha mãe. — já não há mais respeito aqui, então, anda, se decida!
— Eu queria manter isso aqui, a gente tem uma filha, esqueceu? — Argumentou meu pai aos berros.
— Eu também, mas dessa forma não dá! Em toda oportunidade que você tem, começa...
— Começo, começo mesmo! —Gritou com uma força ainda maior do que de antes. — Mas é, você tem razão, isso aqui já morreu e você enterrou faz tempo!
— Eu enterrei? — minha mãe riu com desgosto.
— Se faz de doida você! Amanhã sem falta vou da entrada no divórcio, tu vai ver! — Ameaçou enquanto arrumava o sofá para passar a noite.
Minha mãe saiu para a varanda rindo de maneira desdenhosa, ela não acreditava que ele faria isso, mas estava enganada, ele fez. Como já estávamos todos bastante cansados daquela situação, minha mãe, um tanto surpresa pela audácia dele, assinou o divórcio. Pai deixou a casa para a gente e se mudou para outra residência que tínhamos e que estava alugada até então. Os dois pareciam bastante abalados e tudo aquilo me partia o coração, queria resolver, unir minha família, mas o que eu poderia fazer?!
O lado bom é que não tinha mais brigas, eu não precisava ouvir aquele show dramático de ofensas e insinuações. Mas algo dentro de mim estava meio quebrado, a vida como ela era me fazia falta, não das brigas, mas do meu pai andando pela casa e dos momentos felizes quando eles se entendiam.
Deitada na cama, em uma noite, me peguei pensando sobre relacionamentos e prometi a mim mesma que quando tivesse um, no futuro, não deixaria chegar naquele ponto: o fundo do poço.
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomanceQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...