🟦̶N̶ã̶o̶ decida crushea-lo
Andava com a mochila nas costas cheia de dinheiro, pois grande parte da turma tinha fechado seus talões de rifas, estavamos todos muito empolgados para conhecer a Serra da Capivara. Enxugava continuamente o suor que insistia em escorrer por minha testa, aquele sol de meio dia de Petrolina acabava comigo, porém, tinha que suporta-lo do colégio até minha casa que era uma distância pequena, mas eu, dramática, sentia como se fosse derreter alí mesmo no meio da rua. Me tornaria uma gosma alaranjada.
Meu destino deveria ser esse mesmo, pois quando tateei o bolso lateral da mochila, não encontrei a chave do portão de casa. Encarei o céu, frustrada. Caminhei até a sombra de uma sempre-verde e fui abrindo compartimento por compartimento de minha bolsa e não encontrei nenhum sinal da chave.
Cansada, suada e do lado de fora, essa era eu naquela manhã. Sentei no meio fio para recurar a energia e encarar novamente aquele sol de lascar até a Galeria de Arte para pegar a chave com minha mãe. Fiquei pensando na mordomia que outrora tive, meu pai ia me buscar na escola todos os dias, voltavamos com o ar do carro ligado, geladinho.
Ficar sob a sombra da árvore não mudaria o fato de que teria que caminhar uns bons minutos até o centro da cidade, então deixei de fazer corpo mole e fui no passo mais rápido que conseguia dá. Minha pele branca demais estava irritada, vermelha, empolas surgiam em meu pescoço devido ao calor.
Alcancei a Galeria de Arte exasperada, só quando parei que pude sentir meus pulmões implorando por ar. Segurei na parede para me recuperar, ofegante. Após alguns segundo adentrei a galeria e uma lufada de ar fresco soprou sobre minha cabeça, não sei nem descrever a incrível sensação de prazer. Fiquei na recepção aguardando minha mãe, mas ela não apareceu, pelo contrário, pediu que eu entrasse em sua sala. Levantei a contragosto da poltrona que ficava perfeitamente na direção do ar-condicionado e caminhei por um pequeno corredor branco até a sala de dona Lívia.
— Esqueceu a chave? Sente aí e me espere, já estou terminando aqui e vamos juntas. — Ordenou sem parar de digitar no computador.
— A senhora tá de carro? — Perguntei rezando por um "sim" como resposta.
— Estou, você tá vermelha do sol! — Disse rindo. — Ei, já conversou com seu pai? — Imendou a pergunta, jogando no momento em que sabia que eu não teria escapatória.
Minha vontade naquele momento era de escapulir da sala e só encarar minha mãe quando ela tivesse esquecido do assunto. Ela vinha tentando conversar comigo sobre o namoro de meu pai, mas eu me desviava do assunto de uma maneira admirável, ou saia, ou enfiava outro assunto pelo meio. Porém, naquele momento sentada diante dela a espera da chave que estava sob sua posse, não teria para onde fugir.
— A senhora sabe que essa minha pele não aguenta sol... Acho que deve ser alergia. — Falei tocando as bolotinhas em meu pescoço.
— Vamos passar na farmácia no caminho e compro um antialérgico para você. Mas voltando, já falou com seu pai?
Bufei, vencida e afundei na cadeira. — Não, nem quero. Para quê?!
— Alice, as coisas acabam, começam... A vida é assim. Agora ele está inciando um novo ciclo da vida dele.
— Por que você fica de boa com isso?
— Ué, porque a decisão da separação foi nossa, ele não me largou, não abandou nem eu, nem a você. Nosso casamento não estava dando mais certo, vivíamos infelizes, então, acabamos.
— Tão simples... — Murmurei, mais para mim mesma do que para ela. Sinceramente, não conseguia entender porque ela ficava daquela maneira, quase como defendendo ele. Para mim, ele tinha trocado nós duas por aquela mulher, ele tinha abandonado sim!
— Mas é Alice, se não tivéssemos nos divorciado iríamos continuar brigando, eu não tinha mais paz.
Suspirei, pensando em cada palavra que ela dizia. Eu não tinha coragem para encara-la, aquele tema estava sendo meu ponto fraco dos últimos tempos, não queria conversar sobre aquilo, porque já entendia tudo muito bem, estava claro e ela, coitada, queria mascarar tudo, para mim, ela fingia estar bem com essa situação, mas no fundo, sofria. E por pensar assim, eu também sofria por ela. Por nós.
O trajeto de volta para casa foi todo em silêncio, coloquei Pitty nos fones e fiquei admirando a cidade inundada pelo sol através da janela. Nem quando paramos na farmácia falei alguma coisa, queria mergulhar no meu próprio mundo, fugir daquilo tudo que estava acontecendo ao meu redor, se minha mãe não queria minha ajuda, eu deveria lavar minhas mãos para os dois, ignorar. Mas quem dera. Não conseguia, por mais que tentasse aquele sentimento de abandono e sofrimento não só por mim, mas também por minha mãe voltava e me açoitava as pernas com força. Ainda naquela semana ela conseguiu me convencer a ir novamente visitar meu pai, eu não queria, mas dona Lívia insistia tanto que resolvi ir para que ela parasse e eu conseguisse a permissão para viajar com a turma, já que minha mãe disse que só iria se meu pai também assinasse o documento.
Digitei uma mensagem para meu pai avisando-lhe que iria passar em sua casa na sexta. Pensei em perguntar se estava tudo bem, mas deixei para lá, só o que me faltava era ele dizer: não venha. E negar até mesmo a minha visita. Mas em algum lugar, bem no fundo, eu sabia que, na verdade, ele ficaria muito contente com meu contato.
Bloqueei a tela do celular e encarei o notebook aberto sobre minhas pernas, a tela exibia o feed do Instagram, fui diretamente na lupa e busquei pela conta da galeria, queria ver mais uma vez a foto do professor.
Abri a foto e fiquei encarando o sorriso largo dele, seu braço sobre o ombro da moça, seus cachos já meio desgranhados, mais ainda assim lindo. Lindo. Respirei fundo e abri os comentários, nada de importante, nada que me fizesse encontrar o perfil dele.
Então, por falta de opções, entrei novamente na conta da moça, a única pessoa marcada na foto. Seu perfil era privado e, apesar da curiosidade imensa me corroer, não ousaria solicitar para seguir. Voltei ao perfil da galeria, frustrada, e comecei a olhar os seguidores, era possível que ele fosse um dos, mas não era.
Deitei na cama e fiquei encarando o teto. Por que tanto interesse no perfil do professor? Por que o sorriso dele naquela foto estava pairando pelos meus pensamentos? Ele era bonito, ok, mas porque tanto fascínio? Eu não entendia e tampouco me detive pensando sobre isso, pois lembrei que poderia entrar com login e senha na conta de minha mãe.
Dona Lívia era uma nova utilizadora assídua do Instagram e para minha felicidade, estava tão empolgada com seu novo emprego que seguiu todos os artistas parceiros da galeria. A tal moça da foto com Benjamin era uma dessas pessoas e assim pude olhar seu perfil.
Ela tinha poucas fotos dela mesma, mostrava mais seu trabalho, até que, quase no fim da sua página vi uma foto dela com o professor. O sol cobria parte das faces dos dois, iluminando seus olhos castanhos, os sorrisos largos e semelhantes deram um estalo na minha mente: irmãos! E foi nesse momento que me desapeguei da ideia daquela moça ser noiva do professor de história e lembrei que ele mesmo havia me dito que a exposição de fotografias era de sua irmã.
Me peguei com um sorriso nos lábios, que tola estava sendo por achar que eles eram um casal de namorados, os traços eram tão semelhantes. Mas nesse momento houve outro estalo: por que isso tem importância para você, Alice? Eu tinha, de fato, meio que me descepcionado quando pensei que ela fosse namorada dele e naquele momento, descobrindo que não era bem assim, me encontrava feliz.
Algo não estava certo comigo. Eu não queria nem beirar o pensamento, só pelo pavor que me causava, mas uma voz falava lá do fundo da minha cabeça: você tá afim do professor. Mas ignorei a voz, por enquanto, pois a curiosidade para encontrar o perfil pessoal do professor ainda me açoitava. Por sorte, ele tinha feito um comentário na foto o que permitiu que o encontrasse.
Mas a sorte durou muito pouco, pois a conta dele, como a da irmã, também era privada. Fechei o notebook e deitei na cama. Poderia segui-lo? Poderia, ora, assim como seguia quase todos meus professores da antiga escola. Que mal havia nisso?!
Não, não siga! Ordenei aos meu pensamentos. O que deve haver lá? Nada demais, acreditava, mas ainda assim, queria ver. Peguei o celular que estava ao meu lado e abri o aplicativo, estava convencida a seguir o perfil do professor, mas na hora “h” amarelei. Levantei da cama e encarei meu reflexo no espelho: o que há nesse professor que deixa você assim? — Questionei em meus pensamentos enquanto encarava o reflexo dos meus olhos. — É um homem bonito, alto, inteligente, com cachos nos cabelos que lhe dá um ar fofo...
Não, não! Pare já com isso, Alice! O que você acha que está fazendo, garota? Ele é seu professor, uma autoridade sobre você, a pessoa que é para te ajudar a adquirir conhecimento, não um pretendente.
Voltei a cama e deitei de lado, era claro que eu não tentaria nada com o professor, obviamente, mas nada me empedia de ter um crush nele e foi isso que decidi, longe de mim investir no professor, mas perto de mim crushea-lo.☑️
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomanceQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...