Regra Número 33:

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Observação: esse capítulo foi reescrito.

🟦  ̶N̶ã̶o̶ Confie Nele

Sorri para aquela mão tão pequena e macia que envolvia meu dedo, seu cheiro de talco e amaciante de roupas perfumado para bebês inundava seu quarto em tons de azul. A luz entrava pela janela, atravessando as finas cortinas brancas que balançavam ao vento daquela manhã e iluminava de leve os poucos fios que enfeitaram a cabeça que parecia tão frágil, assim como todo o pequeno corpinho que se agitava inteiro apenas com os movimentos dos pés que pareciam denunciar impaciência.

Tudo que Heitor fazia era me olhar, se remexer enquanto estava deitado nos lençóis da sua futura cama em formato de nave espacial - com certeza aquilo tinha sido ideia de Clarissa - e colocar a língua pra fora como que para molhar os lábios. Beijei sua pequena mão que ainda segurava meu dedo e me libertei de seu carinho, não sem antes da um afago em sua barriguinha enquanto falava com uma voz que eu só usava para bebês e animais fofos.

Quando ergui minha cabeça, meu pai estava parado na porta do quarto enxugando uma lágrima que escorria por sua face. Um pensamento ruim invadiu minha mente dizendo "lágrimas de crocodilo", mas o enfiei lá no fundo da mente e fingi que ele nunca tinha me ocorrido, pois só assim consegui sorrir.

- Me lembra muito você bebezinha, até porque essa foi sua primeira... Bom, casa.

- Agora são outros tempos, né pai?! É o momento do Heitorzinho, e eu desejo do fundo do meu coração que meu irmão seja tão amado quanto fui e... Por mais tempo do que eu consegui. - Mordi minha língua ao perceber o que tinha deixado escapar, ainda era difícil para mim, oras! Mas uma coisa era certa, eu realmente desejava que Heitor não passasse pelo que vivenciei com a separação dos meus pais e, hoje eu entendo, que esse desejo era nada mais nada menos do que o amor que eu sentia pelo meu irmão e anseio por cuidar daquele pequeno ser.

- Ué, Alice, mas você ainda é.

- O senhor me entendeu, pai... Não se preocupe comigo, é de verdade, não quero que ele passe pelo que eu vivi.

Meu pai se limitou a assentir.

- Tô confiando no senhor e em Clarissa para isso, viu?! - disse sorrindo para quebrar a atmosfera pesada. - Já vou, tenho que ir para a escola hoje a tarde.

- Quer que eu te leve? - Se ofereceu meu pai, mas eu neguei, já estava acostumada a perambular pelas ruas de Petrolina sob aquele sol que brigava com minha pele, e até que eu gostava de estar sozinha, pensando e pensando.

As vezes acho que pensava até demais, quando minha cabeça começava suas inquietudes não parava mais e após a conversa com Rafaela, isso tinha se tornado ainda mais frequente. Tinha vontade de gritar para meus pensamentos se calarem, mas sabia que eles eram meus companheiros fiéis que me arrastavam para todos os lados ali mesmo, dentro da minha cabeça.

Peguei uma fatia de bolo que Clarissa tinha feito e embrulhado com muito cuidado para mim e desci a rua desejosa de chegar a minha casa e passar o restante do dia aninhada aos meus lençóis tentando, com muito esforço, concluir Dom Casmurro, mas é claro que isso não seria possível justamente numa quarta-feira, pois nesses dias minhas tardes eram tomadas pela oficina de redação.

Não que eu não gostasse da oficina de redação, pelo contrário, amava e achava muito importante que Elga se dedicasse ao ponto de nos ajudar daquela maneira, mas a verdade é que o ano já vinha findando e a exaustão batia a minha porta, por isso, a vontade de fugir da minha rotina pre-estabelecida no planner estava se tornando cada vez mais presente.

Bom, uma prova disso era que tinha faltado as aulas daquela manhã, coisa que dava para se contar nos dedos de uma única mão quantas vezes já tinha feito. Porém, não fugiria das minhas obrigações da tarde e por isso cheguei pontualmente a escola para organizar a sala para a oficina de redação, fazer cópias das folhas de treino e imprimir algumas dicas de citação de livros que, ao meu ver, eram bastante cultos.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora