Regra Número 21:

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🟦 ̶N̶ã̶o̶ Fique na Dualidade

Tínhamos deixado David Augusto em seu hábitat natural, a pista de skate do Josefa Coelho, e seguimos pela calçada que beirava o parque e era separada dele pela grade pintada de verde. O trânsito estava caótico, era horário de pico, e isso atrapalhava nossa conversa, pois as buzinas dos carros, os motores e as reclamações ocasionais não deixavam que eu escutasse as perguntas de Pérola com clareza.

- O quê? Não entendi. - Perguntei.

- Por que você não me contou? - Repetiu, mais alto.

- Porque era para ser segredo.

Ela me olhou de canto de olho a balançou negativamente a cabeça. - Então agora temos isso, é?

- Não, mas você sabe que isso não é normal. - Disse me encostando a grade, o sentimento de culpa voltando.

- Não é ético. - corrigiu - odeio o uso do normal... - Resmungou, mas também, não explicou seus motivos, apenas voltou ao assunto inicial. - Então você gosta mesmo dele?

- Gosto. - Respondi rapidamente, como quem não queria ouvir na própria voz a confissão. - Mas não rola. - acrescentei.

- Sei, porque ele disse que não. - Comentou e voltamos a andar. - Mas e se o não dele for falso?

- Tá viajando? Foi a exposição que te deixou assim, certeza! - Debochei.

- Não, Maria Alice, eu tô falando sério! - Revidou, usando meu nome de maneira composta para me irritar. - Eu tava olhando vocês ao invés das fotos, vi você lá toda derretida para o lado dele, mas vi também como ele te olha, senti o clima, ó - balançou as mãos no ar - de longe!

O clima... De longe... Como ele te olha...

A frase de Pérola ficou invadindo minha cabeça pelo restante da noite, me fazendo questionar novamente se ele não estaria saindo fora, não por não gostar de mim, mas pelas circunstâncias. Mas então, me estapeava a seguinte pergunta: e isso mudaria o quê?

Nada, não mudava nada. Não podíamos ficar juntos nas duas situações. Porém, pensar que ele me queria deixava meu coração quentinho e animado, era injusto não poder ficar com ele, caso ele quisesse isso também.

Não, não era nada injusto, era a vida real acontecendo, me dizendo que as coisas não são como eu quero e na hora que quero. Porém, naquele período, eu não sabia lidar com isso, a Alice organizada e metódica estava perdida entre os sentimentos por Benjamin.

Eu não era duas versões de mim, era uma só, mas não conseguia equilibrar a razão e paixão. Por isso, fiquei deitada naquela noite encarando o teto de meu quarto, pensando em mil possibilidades que poderiam acontecer, mas sempre levando em conta que nada acontecia simplesmente por acontecer, eu teria que me mover e provar para ele que valia a pena tentarmos algo.

Mas aí voltava atrás e desmanchava essa possibilidade ao criar outra que dizia pra eu ignorar tudo que tinha acontecido e focar no que era importante: meu futuro.
Mas Benjamin não poderia fazer parte de meu futuro?!

Essas questões me jogavam de um lado para outro, ou era isso, ou aquilo, não havia meio termo, não havia equilíbrio e, foi em meio a esse caos interno, que o caos externo voltou e logo tomaria forma.

Meu celular tocou, vi a foto de meu pai no identificador de chamadas e pensei em ignorar, pois não queria falar com ninguém, tudo que eu mais queria era continuar me perdendo em pensamentos com a esperança de chegar a uma resposta única e verdadeira sobre Benjamin. Mas meu pai insistiu, ligou outra vez e, com remorso pela atitude egoísta de ignora-lo, atendi.
Meu pai perguntou como eu estava, como ia a escola, falar com ele me devolveu um pouco de sossego. Queria meu pai por perto, nossas conversas de fim de noite, nossa risada ao assistir filmes no final de semana, mas isso tinha se afastado de mim e era quase inatingível agora.

Após conversamos de maneira que julguei artificial, ele me fez um convite, queria que eu fosse passar o próximo final de semana em sua casa, a ideia me animou instantaneamente, mas alguns segundos depois veio a frustração, eu não queria invadir a nova família dele.

Respondi que pensaria no convite só para não passar por mal educada e insensível ao dá uma negativa logo de cara, no entanto, meu pai insistiu que eu fosse e se pendurou na linha até que eu respondesse com um sim.

Aquela resposta era o início para situações que me tirariam ainda mais do eixo, para a resposta que eu procurava, por não compreender o silêncio que envolvia o divórcio de meus pais. Se tivesse insistido no não, continuaria na ingenuidade, mas não o fiz, e ainda bem, pois sempre gostei das coisas claras.

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Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora