Regra Número 6:

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🟦 N̶ã̶o̶ Puxe Conversa Com Ele


Pedalava distraidamente enquanto observava a avenida diante de mim. Estava cedo, poucos carros passavam por ali, porém, muitas pessoas corriam. Minha mãe acenou me chamando para perto, ela já estava a uma boa distância. Apressei e logo fiquei bem atrás dela.
- Tá preguiçosa hoje? - Brincou.
Nós tínhamos começado a pedalar naquela semana, dona Lívia estava na sua fase de vida saudável que aparecia, sumia e reaparecia pontualmente. Bom, pelo menos, ela tentava. Pedalar era bom, a brisa leve da manhã tocando minha pele, as ruas quase desertas, a energia que parecia aumentar a cada nova pedalada.
Desde o jantar falido na cada de meu pai, não falei mais com ele, não que estivesse fazendo birra, não era isso, na verdade, eu não conseguia lidar com ele, parece que tinha perdido qualquer técnica ou coisa assim para isso. Com minha mãe, por outro lado, conseguia interagir, contando que fosse sempre um assunto mais superficial. No fim, a única pessoa que sabia verdadeiramente como eu estava era minha amiga Pérola digna de toda minha confiança, apesar de me chatear sem perceber com suas atualizações sobre a escola antiga.
Terminamos nosso passeio de bicicleta as 6h, mas logo eu já estava na rua novamente, mas daquela vez, caminhando de encontro a escola. Seria mais um dia comum, aulas, intervalo, e mais aulas. No entanto, quando o professor Benjamin adentrou a sala seguido pela coordenadora, iniciou-se uma troca de olhares entre nós, alunos. Será que tinha acontecido algo de errado?! Não, não tinha. Para nosso sossego era uma notícia maravilhosa! Groselha, a coordenadora, nos contou que teríamos uma viagem para São Raimundo Nonato, no Piauí para visitarmos o Parque Nacional da Serra da Capivara. Todos na sala ficaram animados com a ideia e começaram a aplaudir, eu fui no ritmo deles, com um sorriso de ponta a ponta.
Groselha e Benjamin nos explicaram que a escola ajudaria com os custos dando uma cesta de produtos de beleza para ser rifada, porém, eles precisavam de um aluno para assumir o papel de supervisor das rifas. Eu, toda contente, me candidatei e os meus colegas aceitaram, até porquê ninguém queria aquela tarefa, iria me exigir muita responsabilidade. A viagem poderia nos dá 2,0 pontos em história, história da arte, geografia e biologia caso entregassemos uma redação ao retornarmos abordando os temas de cada uma das matérias. O professor de história fez a publicidade sobre o lugar, nos contou sobre as pinturas rupestres, fósseis e o Museu do Homem Americano. A galera da turma estava realmente muito extasiada com a ideia e não se conseguiu ter aula de história naquela manhã, pois todos só queriam saber sobre o Parque da Capivara.
Quando a aula terminou, os alunos começaram a sair da sala vagarosamente e falando bem alto em como a viagem seria incrível. Arrumei minha mochila, fui em direção a porta, mas hesitei, girei nos calcanhares e marchei até o professor que ainda organizava suas coisas.
- Oi, professor! - Cumprimentei, mas sem fazer ideia do porquê eu tinha ido falar com ele.
- Apenas Alice, oi! -Disse ele sem parar de arrumar suas coisas. - Animada para a viagem?
- Sim, muito! - Respondi puxando as alças da mochila. - Tomara que a data chegue logo!
Ele ergueu o corpo e olhou para mim. - Ah, vai chegar, o tempo passa rapidinho. Você vai ver como tem tanta coisa linda lá, Alice, eu fico fascinado por tudo! - E balançou a cabeça sorrindo como que para afastar a empolgação.
- Nossa, imagino que sim mesmo... - Disse rindo, mas por não saber o que dizer.
- Pois é, vou te mostrar tudo lá! - Anunciou sorrindo, mas gaguejando, completou: - quer dizer, a todos vocês da turma... Tem muita coisa legal.
Assenti. - Foi bom ver o senhor na galeria. - Confessei, mas me arrependi no mesmo instante, o que eu estava fazendo?!
- Sim, sim, uma pena que não deu tempo de te apresentar a minha irmã, mas em breve terá outras exposições e vou poder fazer isso.
- Claro, será incrível conhecer a artista por trás daquelas fotos. - Sorri enquanto alternava o peso do corpo de uma perna para outra e ainda segurava as alças de minha mochila. Ele sorriu de volta, seus olhos encontraram os meus rapidamente antes que ele abaixasse a cabeça sem jeito. Achei a atitude dele curiosa e aquilo me deixou feliz de alguma forma.
- Maria Alice, pode vir comigo, por favor? - Chamou-me Groselha a porta da sala. Me despedi de Benjamin e sai atrás da mulher alta, de quadris largos. Em sua sala, ela me passou as rifas que eu teria que destribuir e um caderno de controle para anotar os nomes, quantidade e valores de quem estava vendendo. A coordenadora me encheu de informações e datas que eu corri a anotar para não esquecer de absolutamente nada.
Enquanto me dirigia a porta pronta para ir embora, ela me pediu que voltasse. Não sei porquê meu coração acelerou, mas era apenas mais uma informação que ela queria me passar. Eu tinha que avisar a todos os alunos que pegassem rifa comigo, que deveriam falar com ela para pegar a folha de autorização que precisava ser assinada pelos responsáveis. Como eu já estava ali, peguei a minha, agradeci e fui embora quase pulando de felicidade não sei se pela viagem ou pela conversa com o professor.

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Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora