Regra Número 31:

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🟦    ̶N̶ã̶o̶  Escute os Pesares Dele

Preparava minha rotina para a próxima semana sentada na calçada na frente de casa, apoiando o planner nas coxas. A noite estava fresca,  o céu se enfeitava não com estrelas, mas com nuvens que pareciam borrões e me causavam um misto de medo e prazer.

Minha mãe havia saído para um jantar de aniversário da chefe dela, a dona da galeria de arte. Portanto, eu estava sozinha em casa, algo incomum de acontecer a noite, pois era, normalmente, o período em que poderia passar mais tempo com minha mãe.

Porém, com os últimos acontecimentos e minha incapacidade de lidar com eles, a ausência dela me agradava, porque eu não precisava ficar prendendo o ar em meus pulmões, conseguia respirar com tranquilidade, não me tornava robótica, como vinha ocorrendo em sua presença.
A minha rua sempre foi tranquila, motivo pelo qual, lembro muito bem, meus pais escolheram comprar justamente aquela casa. Eu já tinha me acostumado ao silêncio de onde vivia, dava para se concentrar melhor nos afazeres. Ao longo de todo o dia, poucos carros passavam por ali e, naquele  horário, quase nenhum cortava a rua a minha frente.

Apesar do pouco movimento, ou talvez justamente por causa dele, meus vizinhos sentavam todas as noites a porta de suas casas. Coisa de cidade pequena do interior, dizia um de meus professores.

Mas não achava que minha cidade fosse tão pequena assim, na verdade, achava ela de um tamanho ideial e isso me fazia pensar em nunca ir viver em outro lugar. Sairia, sim, para viajar e somente.

Concluí o planejamento para a próxima quarta-feira e fiquei tentada a verificar meu celular para ver se não teria alguma mensagem de Benjamin, mas como o tinha deixado dentro de casa, a vontade foi vencida pela preguiça e continuei onde estava esperando por ele. Temia que ele tivesse esquecido ou se confundido sobre o caminho para minha casa e estivesse precisando que lhe mandasse meu endereço ou algum ponto de referência.

Eu estava nervosa por recebê-lo ali e, talvez fosse por isso que essa preocupação não me saia da mente. Então, em uma nova luta entre a preguiça e ir verificar meu celular, a segunda opção ganhou.

Mas assim que me levantei vi o carro dele entrar na rua e estacionar ali na frente. Meu coração acelerou.

Benjamin caminhou até mim com um sorriso triste, daqueles que não mostram os dentes e os olhos entregam a dor. Lembro com muita clareza do calçado dele naquela noite, não sei porque, mas é como uma fotografia gravada em minha memória. Benjamin usava aLL star vermelhos, cano médio. Os tênis deixavam ele descolado.
Assim que Benjamin se aproximou de mim, o abracei. Seu cheiro refrescante daqueles desodorantes que se passa logo após o banho invadiu minhas narinas.

Convidei aquele homem lindo, cheiroso, mas de olhar triste a se sentar comigo na calçada. Quando assim fizemos, pude ver melhor seu rosto e percebi que ele tinha chorado a pouco.

Senti dó dele, ele parecia um menininho acusado injustamente por seus pais de ter cometido algo. Dizem que esse não é o melhor sentimento a se sentir por alguém, mas o que mais eu sentiria ao ver o homem pelo qual estou apaixonada tão cabisbaixo?! Eu senti pena de Benjamin.

Sabia que tinha acontecido algo entre ele e seu pai, mas não queria iniciar a conversa, afinal, nem sabia se ele queria falar sobre isso. Mas quando notei que ficaríamos em um silêncio nada bom, perguntei como ele estava. Benjamin suspirou e disse que parecia que um carro o tinha atropelado.

Senti vontade de acolhe-lo e o máximo que fiz foi abraçar seu braço e deitar minha cabeça em seu ombro. Benjamin retribuiu o contato apertando minha mão e encostando sua cabeça na minha. Ele estar ali significava muito para mim, porque no meio de tantas dúvidas que viam me rondando, ele tinha escolhido estar comigo naquele momento de tristeza. Essa confiança em mim me deixava grata, pois senti que eu era realmente especial para ele.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora