Regra Número 34:

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🟦 ̶N̶ã̶o̶ Durma sem resolver as coisas com ele

Queria que minha vida fosse um pouco mais estável, pois sempre que parecia que as coisas iriam se encaminhar, lá estava eu subindo novamente, como em uma montanha-russa, que iria despencar em alta velocidade lá do topo.

Hoje eu entendo que isso faz parte da vida, que se as coisas fossem sempre estáveis e como eu desejo, na verdade, tudo seria um baita tédio. Estar subindo, descendo e as vezes despencando pelos trilhos da montanha-russa significa estar vivo, por isso, me concentro e penso que tudo passa, que são fases e que a felicidade vai e vêm, porque se ela ficar você se acostuma e ela deixa de ser tão especial, porque infelizmente a gente é assim, cai no monótono e para de reconhecer aquilo, pois o oposto já não se faz presente.

Isso eu adquiri com a maturidade, com muitas subidas e quedas, com muitas escolhas que me levaram por caminhos que me questionei se teriam sido os mais certeiros. Embora hoje saiba disso tudo, a Alice adolescente de dezesseis anos não fazia ideia e, para ela, o mundo estava acabando quando ouviu seu professor de história assumir o relacionamento dos dois, o nosso relacionamento, para a coordenação da escola.

Quando escutou a declaração de Benjamin, Groselha se voltou para mim com uma das sobrancelhas arqueadas e as longas unhas tamborilando sobre o tampo da mesa de madeira, uma pose de vilã, eu diria. Ela me perguntou porque tinha negado a situação, que não compreendia se existia algo ou não, já que os envolvidos diziam coisas diferentes.

Benjamin não fugiu, nem voltou atrás, sustentou a verdade e me pediu que fizesse o mesmo, que não tínhamos mais porquê esconder, pois eles já sabiam. Então eu contei, contei que tínhamos ficado, mas que não tinha sido nada íntimo demais, se é que me entendem, e que tínhamos decidido não nos envolvermos mais, porque sabíamos que aquilo não era o correto.

Ao escutar as confissões, Groselha retomou seu monólogo explicando como aquilo era completamente fora da ética profissional que um professor deveria assumir e que o contexto poderia levar Benjamin a ser processado por assédio, pois se encontrava numa postura de docente, ele era o adulto responsável e que jamais poderia ter se deixado levar.

Eu me sentia constrangida em um nível muito alto, queria me esconder embaixo da mesa ou abrir a porta e sair correndo. Estava diante das consequências das minhas escolhas, afinal, mas não sabia se estava preparada para lidar com elas, possivelmente não.

O homem por quem eu estava apaixonada poderia ser processado e, sabe-se lá, até preso! Aquilo roubou minhas energias e comecei a ver pontos brilhantes inexistentes que pairavam pelo ar, pensei que iria desmaiar, mas segurei nos braços da cadeira e me concentrei, precisava acompanhar aquela discussão.

A coordenadora precisou chamar meus pais, pois aquilo estava além do que uma menina de dezesseis anos poderia responder. Quando eles chegaram, o céu já estava escuro e a maioria dos alunos do turno vespertino já tinham ido embora.

Meus pais entraram para conversar com Groselha enquanto Benjamin e eu aguardávamos no corredor. Ele não falava uma palavra, apenas ficou encostado a parede encarando a porta da coordenação, como que preso dentro de si.

Então não aguentei mais e corri para o banheiro colocando tudo que ainda restava em meu estômago para fora, quase pensei que colocaria meus intestinos para fora. Lavei a boca e encarei meu reflexo no espelho, era isso, então, tinham descoberto. Comecei a chorar e só voltei ao corredor quando Groselha me chamou a sua sala novamente.

Estávamos naquele momento, Groselha do outro lado da mesa, meus pais, Benjamin e eu, todos amontoados e nervosos dentro daquela sala. Eu queria sumir a cada olhar que meus pais destinavam a mim.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora