🟦 ̶N̶ã̶o̶ Esbarre NeleA rua Tchecoslováquia estava repleta de carros, embora já passasse da meia noite. Os condutores dirigiam calmamente e não se escutava reclamações quando um veículo parava em frente ao portão da escola e um de meus colegas descia vagarosamente para pegar sua bolsa de viagem no porta-malas, se despedia dos pais e se juntava a quem já havia chegado no pátio.
Em pé, próxima a grade do portão, observava esse desfile monótono e repetitivo de carros. Tinha chegado cedo, uma das primeiras a estar ali, minha mãe fez drama ao se despedir e ainda bem que não tinha muitos telespectadores. Dona Lívia ainda ficou comigo por um tempo, mas voltou para casa, pois estava caindo de sono, aquele semana tinha sido agitada para ela.
Quando avistei Mateus cruzando o portão fui ao seu encontro, grata por não está mais sem meu "clã", que simplesmente era formado por ele, Rafa e eu. Porém, isso não significava que não interagisse com os demais da sala, na verdade, eu era bem sociável, sempre que podia conversava com um ou outro, mas com quem rolava mais identificação eram esses dois, e naquela noite em especial, todos estavam amontoados com suas próprias panelinhas de amigos.
Mateus me abraçou radiante, abriu sua bagagem de mão para me mostrar seu boné e óculos novos, pois alegava estar mais que preparado para o sol do Piauí. Eu dava risada de tudo e rebatia que a gente já lidava diariamente com o calor de Petrolina e não precisava daquele drama todo, mas meu amigo não se cansava de suas graças e continuava sempre com uma nova piadinha. Depois me mostrou seu arsenal de lanches, tinha batatinha frita, Doritos e até pote com brigadeiro, seria uma pena não poder dividir quarto com ele.
Rafa demorou a chegar, foi uma das últimas e quando cruzou o portão da escola o ônibus de viagem já aguardava por nós estacionado do outro lado da rua. Ela trazia consigo uma mala roxa, grande e pesada, estava tão empolgada quanto a gente, era a primeira vez dos três viajando sozinhos sem os pais.
Bom, a parte de sem os pais era real, mas não estávamos atoa na vida, livres para fazer o que fosse de nossa vontade, porque a coordenadora iria conosco, assim como o professor Benjamin e o professor Wagner de geografia. Era para a Ilka, nossa professora fofa e pequenina de biologia nos acompanhar também, mas ela desistiu de última hora por causa de alguém de sua família que tinha adoecido. Mas estava tudo bem, por mais que tivesse a falta de uma professora, isso não repercutiria muito já que não éramos uma turma tão grande e, aqui para gente, éramos até bem educados.
O céu naquela madrugada estava tão limpo, dava para ver com clareza suas estrelas, mas a lua parecia tímida e pouco se mostrava. Uma brisa leve balançou meus cabelos e o cheiro de terra molhada subiu, talvez estivesse chovendo por perto ou alguém estivesse cuidando de seu jardim na madrugada?! O certo é que, enquanto estava na fila para entregar minha mala para ser guardada, qualquer coisa que meus sentidos apurassem era válido, queria degustar de cada segundo daquela viagem que principiava ali. Entreguei minha mala para um homem baixo e que vestia a camisa da empresa de ônibus contratada, eu o agradeci e quando subi meu olhar vi Benjamin pouco mais a frente mantendo a fila organizada e rindo ao lado de seu colega Wagner. O sorriso do professor de história era lindo e quase um ímã, pois atraia meu olhar de maneira que ficava difícil desviar e, enquanto o observava naquela noite, percebi o pingente de âncora, que eu tinha derrubado outro dia quando curiosamente mexia em seus pertences, sobre sua camisa azul Royal. De repente, ele olhou em minha direção e me pegou encarando-o, sem graça, desviei o olhar rapidamente para o outro lado e fitei a inscrição da empresa do ônibus pintada em sua lateral. Me sentia tão tola por ter sido pega e me questionava o que ele pensaria daquilo.- Maria Alice, pode subir. - Disse a dona da voz que segurava meu ombro. Levei um pequeno susto, mas fiquei grata por já ter chegado a minha vez de entrar e não precisar lidar com a situação embaraçosa com Benjamin.
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomansQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...