Regra Número 22:

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🟦   ̶N̶ã̶o̶ Tente Causar Ciúmes Nele

O vento soou forte bagunçando meus cabelos e levantando as folhas secas do pátio que dançaram no ar e caíram novamente no chão. Tranquei a bicicleta rapidamente com medo de ser pega pela chuva e, caso acontecesse, temia a transparência da blusa do uniforme que, já gasta, com certeza exibiria meu sutiã de florzinhas azuis.
O cheiro de terra molhada invadiu minhas narinas, encarei o céu fechado, se pudesse adjetiva-lo com uma expressão seria: carrancudo. As nuvens estavam escuras e pareciam pesadas, não  demoraria para vir chuva.

Entrei na escola meio sem ânimo, andava pensando tanto nos últimos dias que isso sugava totalmente minhas energias. Pensava, pensava, mas não chegava a conclusão nenhuma.

Pensar não ia mudar nada pelo lado de fora, agir sim, mudaria. Por isso, queria ter alguns minutos com Benjamin naquela manhã, para lhe pedir desculpas por sábado e.... Bem, e o quê? Dizer que está apaixonada e esperar que ele peça permissão a direção da escola para me namorar? Estava confusa demais e isso me consumia.

Quando alcancei o corredor em que ficava a diretoria e coordenação da escola, a chuva começou forte e barulhenta, tive que me deter por ali até que ela diminuísse, pois para chegar a minha sala teria que passar pelo pátio que era açoitado violentamente pela água.

Alguns alunos se encontravam na mesma situação que eu e olhavam para a chuva com gratidão por não terem que assistir a primeira aula da manhã. Escorreguei pela parede e aguardei, estava encostada a sala de Groselha e conseguia ouvir sua voz abafada lá dentro, talvez estivesse no telefone tentando conseguir dinheiro para arrumar as goteiras que havia no banheiro feminino e em duas das salas de aula. Peguei um galho fino e comecei a passar na cerâmica encardida como se desenhasse na areia, escrevia “Benjamin & Alice”, pois sabia que ninguém mais além de mim compreenderia o percurso do graveto no chão.

A chuva não passava, muito menos diminuía e, talvez, tivesse razão em ser tão feroz já que o calor dos últimos dias era tão agressivo quanto. Olhei para o portão de entrada, a grade trancada com cadeado, o mundo lá fora empastado pela água. Respirei fundo e encarei a janela que se erguia acima de mim, com grades chumbada a parede, provavelmente para proteção. Era a janela da sala de Groselha, da coordenação.

Levantei e fui bisbilhotar através dela, estava fechada, porém, não trancada, pois quando fiz um movimento empurrando-a com o dedo ela cedeu e exibiu uma brecha da sala. Me assustei com isso e quase voltei ao meu lugar no chão, no entanto, a figura que vi lá dentro me despertou curiosidade.
O professor Benjamin estava sentado na cadeira de frente para a mesa de Groselha que, por sua vez, ocupava seu lugar habitual. A coordenadora digitava no computador e eles pareciam fechar algum registro ou coisa sim, mas o trabalho parecia ter terminado, pois a conversa tomava um rumo casual demais.

Groselha falava sobre um filme ou série, não sei ao certo, para ele. Ela parecia empolgada e, quando menos esperei, escutei: não que ir comigo?

Meu coração acelerou e empurrei mais um pouco a janela para ver e ouvir melhor. Ela continuava: vamos, tudo indica que o filme vai ser muito bom e não queria ir sozinha...

— Ei! — alguém me chamou — vamos passar, a chuva diminuiu.

Olhei para a menina do grupo que estava na mesma situação que eu e assenti, pegando a mochila do chão e jogando nas costas, mas não me afastei da janela, queria entender o que tava rolando lá dentro.

Mas a mesma menina que tinha chamado minha atenção, agora batia a porta da coordenação e chamava pelo professor, avisando que a chuva tinha diminuído. Porém, ainda ouvi quando Benjamin respondeu, prestes a sair da sala, que iria ver e avisava.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora