Regra Número 36:

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🟦  ̶N̶ã̶o̶ dê um presente para ele.

Risos ecoavam por toda a sala, sobre a mesa estavam dispostos biscoitos, bolos e uma panela robusta e pouco lustrosa com molho de cachorro quente que a mãe de Mateus tinha feito. Alguns colegas brincavam de jogar balões de um lado para o outro da sala e uma caixinha de som cedida por alguém da turma do terceiro ano cuspia ora músicas lentas, ora músicas tão animadas que dificilmente alguns ficavam parados.

Os registros daquele momento ficaram como cenas em câmera lenta nas minhas memórias. Estava lá, presente e vendo tudo aquilo se desenrolar, mas sabia o caos que tinha existido por trás daquela festa de despedida para um dos professores mais queridos do colégio Otacílio.

Ele iria escolher ir embora de todo jeito, isso eu sabia. Seria tolice da parte dele permanecer em um cargo incerto como substituto ao invés de agarrar a oportunidade de ser um servidor público efetivado.

Mas me sentia exposta a cada olhar que Groselha destinava a mim, parecia existir repugnância da parte dela, afinal, ela sabia de todo o caos com muita clareza.

Estava sentada em uma cadeira no fundo da sala fingindo fazer algo importante em meu celular quando Mateus se aproximou e me entregou um cachorro-quente enquanto se sentava na cadeira ao lado e tentava arrancar um riso de mim.

Eu o olhava com gratidão pela suas tentativas e saboreava o lanche que ainda estava morno. Nesse ínterim, Rafaela se aproximou pela primeira vez em muito tempo, chegou como quem não queria nada, como quem nunca tinha descoberto e entregado tudo que sabia sobre eu e o professor para a coordenação.

Pensei em me levantar e sair, mas resolvi continuar para ver até onde o cinismo dela nos levaria. Acho que meu olhar entregava tudo e Mateus se sentia cada vez mais encurralado em um campo minado e, pior, sem saber porque aquele espaço tinha sido armado.

— O que tá rolando aqui, em? — Perguntou por fim, Mateus.

— Como assim? — Questionou Rafaela, como desentendida do clima pesado instaurado.

— Ah, meu bem, vocês, né?! Essa daqui te encara como um animal selvagem e você dissimula mais que tudo.

— Ela é falsa. — Respondi secamente. — e, se eu fosse você, Mateus, tomaria cuidado. — Dei dois passos para me afastar quando ela segurou meu braço.

— Você sabe que eu fiz o certo, né?

— Certo para quem? — Devolvi. — Poderia ter me avisado que iria entregar, no mínimo. Mas não, me deu conforto de que não o faria e foi lá e fez. Eu não confio mais em você e, se for possível, quero me afastar de você, estudamos na mesma escola, mas não somos amigas, então solte o meu braço. — Ao sentir a mão dela afrouxar o aperto, me afastei e, fingindo que estava tudo bem me juntei a outros colegas.

Ficar no meio deles não me convencia, apesar de parecer que ninguém ao redor percebia que eu estava quase que esmagada por dentro. De maneira silenciosa, quando os outros pareciam não perceber, sai da sala e me enfiei no banheiro. Encarei meu reflexo no espelho manchado com gotas de água que, provavelmente, tinham ido parar ali por causa de alguém que teria sacudido as mãos após lavar, jogando respingos para todos os lados.

As sardas tomavam todo o meu rosto, pareciam ainda mais evidentes e isso me fez sentir vontade de desviar os olhos do meu próprio reflexo, mas não o fiz, sustentei meu olhar contra aquela imagem que me desagradava como uma forma de punição, como se falasse para mim mesma: encara sua cara com o que você não gosta nela!

Vivia cheia de devaneios e sempre pensava coisas como esta que acabei de descrever, talvez porque estava passando por um momento turbulento na minha vida, mas era tudo que eu poderia fazer com o que eu tinha naquele momento, era a maturidade, os conhecimentos e os dramas que eu conhecia.

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⏰ Última atualização: Apr 24, 2023 ⏰

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Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora