🟦 N̶ã̶o̶ Procure Por Ele
O dia estava abafado, o sol tinha decidido se ausentar por detrás das nuvens, mas enviava constantes sinais de sua presença, sentia minha pele suada por debaixo da camiseta. Estávamos eu, Pérola e David sentados no chão da pista de Skate, naquele dia não havia mais pessoas por ali. A pista de skate ficava na extremidade do parque, afastada das regiões de maior movimento.
Conversávamos sobre muitos assuntos sucessivamente, era engraçada a velocidade com que mudavamos o tema de pau para cacete, modo de falar, obviamente. Confesso que estava curiosa para entender mais sobre o que tava rolando entre os dois, mas Pérola sempre se saia da conversa quando eu iniciava, porém, estava muito observadora e percebi detalhes que entregavam minha amiga: ela estava afim de David! Tava estampado nos olhos e na forma como ela se inclinava enquanto falava. Ri por dentro, me sentindo vitoriosa pela visão perspicaz e, como já tinha alçado meu maior interesse daquele momento, me desliguei da conversa e fiquei divagando. Um ônibus passava a alguns metros, parou em um dos pontos, pessoas desceram e cada um continuou seu curso. Suspirei, começando a ficar entediada, mas sabendo que Pérola não sairia dali tão cedo. Me virei para olhar o parque, as árvores não se balançavam, pois não tinha vento, mas mesmo assim, as pessoas continuavam sua vida saudável caminhando e correndo por ali. Por aqueles dias eu me sentia, de certa forma, parte daquele grupo, pois naquela manhã tinha pedalado 25km, estava uma atleta toda! - "Oh, dó de mim e minhas ilusões". Pensei.
No meu campo de visão, aquele homem que eu já tinha observado antes surgiu, ele estava longe, correndo, mas sua presença atraiu imediatamente meu olhar. Fiquei seguindo-o dali, cada passo seu, até que foi encoberto pelas árvores.
- A gente tá te deixando entediada, Alice? - Questionou David percebendo minha desatenção.
- Não, gente, que é isso?! Claro que não, tava só dando mais privacidade a conversa de vocês.
- Mas rapaz, tu sabe se sair das coisas, né?! - Franziu o cenho e disse brincando. Dei de ombros e sorri, encarando Pérola.
Estava novamente voltada para a direção em que vira o homem minutos atrás, sabia que ele não passaria por ali naquele momento, já que estava dando a volta no parque, mas mesmo assim me mantive alerta. Dessa vez, ele passou correndo e minha apreciação durou menos tempo que antes. Senti que deveria parar com aquilo e tentar vê-lo mais de perto, só para retirar a dúvida se ele era o professor de história ou não. Dei uma desculpa esfarrapada e Pérola deve ter ficado um tantinho feliz por ficar a sós com David e caminhei parque acima.
Cruzei a pista de skate no mesmo instante que algumas crianças surgiram com seus skates, eles riam e se empurravam, depois um jogou sua prancha no chão e saiu na frente dos outros. "Minis Davids Augustos" - Pensei.
Quando alcancei pista que era usada para as corridas, hesitei, mas acabei seguindo em frente com meu plano bobo, mas que naquele momento animava cada célula do meu corpo. Seguindo por ali, sabia que a qualquer momento poderia cruzar com ele e isso me fazia imaginar a cara de meu professor ao meu ver ali, simplesmente aparecendo do nada. Mas não foi bem assim que aconteceu.
A pista de corrida fazia uma curva mais a frente e as árvores atrapalhavam a visão fazendo com que eu não percebesse que o homem a quem procurava estava vindo e, quando virei na curva, quase nos esbarramos.
- Aí, desculpa! - Pedi por reflexo antes mesmo de me tocar que era ele.
- Que é isso?! Tá tudo bem. - Respondeu gentilmente com um sorriso. No entanto, para minha descepção, não era o professor, na verdade, de perto, nem se parecia com ele. - Eu já te vi aqui outro dia...
- Ah, deve ter acontecido, venho para cá as vezes.
Ele me encarou com um sorriso de lado. Os olhos dele eram menores que os de Benjamin, tinha os lábios mais grossos e umas poucas espinhas pelas bochechas. Não era feio, era até bonitinho.
- Difícil não reparar em alguém tão linda! - Disse e isso me pegou de surpresa que acabei dando uns passinhos para trás. - Sério, mesmo, me desculpe dizer, mas te achei linda demais, desde a primeira vez que te vi por aqui. Podemos conversar? Me passa seu número...
Me limitei a sorrir completamente sem graça. Aquele encontro com ele tinha acontecido de maneira totalmente inesperada, eu só queria tirar uma dúvida que ficava coçando em minha cabeça e, bem, tinha ganho um flerte.
Não lembro como me sai dessa conversa, mas no fim, não dei meu número a ele. Apesar de gatinho, fiquei acanhada com o encontro inesperado e neguei. Alguns dias depois me arrependi da escolha precipitada, mas já tinha feito.
Antes de voltar para Pérola e David, me detive em um banco e fiquei fitando o céu que se tornava alaranjado com rosa. Uma brisa leve começava a soprar para aliviar aquele calor tenebroso que fazia, meus pensamentos estavam começando sua inquietude sobre meus pais e como aquilo vinha me agoniando nos últimos tempos, mas acho que escondia muito bem de minha mãe, não queria que ela sofresse ainda mais já estava lidando com muito embora tentasse mostrar fortaleza, talvez, eu tivesse herdado isso dela.☑️
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Como ̶N̶ã̶o̶ Se Apaixonar Pelo Professor
RomanceQuando as coisas em nossa vida saem dos trilhos e somos arremessados as consequências, fica difícil de lidar e aceitar, ainda mais se você é uma adolescente de dezesseis anos. Os pais de Maria Alice se divorciaram, a mãe perdeu o emprego e o pai, b...