Regra Número 16:

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🟦 ̶N̶ã̶o̶ Sugira Ter Cuidado Para Ele

A sala estava arrumada em fileiras com distância considerável entre elas. Eu estava na terceira contando da direita para a esquerda, era um lugar escolhido com precisão por mim, pois tinha visão clara do quadro branco. Nesse, o professor Benjamin escrevia o horário de término da prova e a partir de qual momento poderíamos sair após entregar a avaliação.

Arrumei a caneta, lápis e borracha na mesa, todos simetricamente posicionados, mas sabia que alguns segundos depois tiraria todos daquela posição e tornaria a arruma-los como em um ritual pré-prova que só se perpetuava pela ansiedade crescente que sempre se instalava nesses momentos.

Respirei fundo enquanto observava Benjamin entregar as provas e da as instruções que já eram quase decoradas por nós, pois todos os professores diziam as mesmas coisas.

Quando chegou a minha vez observei a mão dele colocoar a folha sobre minha mesa, subi o olhar e encarei sua face, ele sorriu me desejando uma boa prova e continuou seu trabalho.

Encarei a folha na minha cadeira com um sorriso contido e, com toda a certeza, corada. Aquela era a primeira vez que o via desde o fim da viagem e não sabia muito bem como deveria me comportar perto dele.
Depois que nos beijamos na última noite em São Raimundo Nonato sob um céu lindamente estrelado, romanticamente falando, apenas conversamos brevemente no dia seguinte e no ônibus ao retornarmos para Pernambuco. Mas não falamos sobre o beijo, os assuntos giravam em torno dos nossos gostos, especialmente aqueles que descobrimos serem comuns.

Sinto que precisamos falar sobre o que rolou, mas não sei como chegar nele para isso, entende?! As vezes parece até que nunca fiquei com ninguém, mas a questão é que eu nunca tinha ficado com um professor.

Tudo bem, Alice, se concentre na prova! - pensei ao encarar a página diante de meus olhos. Seria moleza responder aquelas questões sobre Século das Luzes e Revolução Francesa, eu tinha estudado, obviamente, mas também me lembrava de muitas coisas que havia visto na série anterior.

A palavra " razão" era a que mais aparecia naquela prova fosse nas perguntas ou nas minhas próprias respostas dissertadas. Ela me fazia perder a atenção quase sempre que era lida, pois minha mente gritava para mim que eu estava agindo de todas as formas, menos de maneira racional. Quando isso acontecia, rabiscava um pouco na prova, dando margem para o pensamento, mas logo o abandonava e continuava minha atividade avaliativa.

Estava entre razão e emoção, como diz a letra de uma música de rock nacional, mas não tinha certeza alguma se a saída era, de fato, fazer valer a pena como dizia a canção. Minha vida tinha se tornado, de repente, interessante, estava tateando por um campo que me arrastava para fora na zona de conforto. Me questionava em que planeta eu, metódica, organizada, respeitadora de regras e juízos, quebraria tudo isso?! As vezes me pegava pensando que não me reconhecia mais e, hoje, talvez esses dilemas pareçam até bobos, mas naquele momento de minha vida eram atordoantes.

Concluí a avaliação um pouco mais devagar do que deveria já que não conseguia me concentrar de todo. Ao entregar a prova, Benjamin estava sentado lendo um livro, ele ergueu lentamente os olhos das páginas e pegou a folha de minha mão, com um sorriso contido.

Sorrindo também, perguntei se era o mesmo livro que ele tinha levado para a viagem. O moço de cachos assentiu e me mostrou a capa, sua boca se abrindo para dizer algo, porém, foi interrompido por outro aluno que apareceu por trás de mim e esticou o braço com a avaliação na mão. Benjamin se deu por vencido e não pareceu querer retomar nossa conversa, pelo menos não ali.
Deixei a sala e aguardei por Rafa e Mateus no pátio onde coloquei os fones e fiquei curtindo minha playlist favorita. Nada de muito interessante acontecia ali, estava um tédio tremendo, mas não podia ir embora da escola antes das últimas aulas daquela manhã.

Como  ̶N̶ã̶o̶  Se Apaixonar Pelo ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora